Invisibilidade: Chá de sumiço
Uma pessoa pode sumir debaixo do seu nariz e reaparecer pouco tempo depois, sem mais nem menos? A parapsicóloga americana Donna Higbee afirma que esse fenômeno é mais comum do que se imagina
Cláudia de Castro Lima
Num dia qualquer de 1987, Peter, um homem de 37 anos que morava na cidade de Gloucestershire, na Inglaterra, estava numa festa com a namorada e um grupo de amigos. Em certo momento, ele subiu para o segundo andar da casa para ir ao banheiro. Uma mulher o seguiu com a mesma intenção, mas deixou que Peter entrasse primeiro e ficou esperando sua vez junto à porta do toalete. O homem fez lá o que tinha de fazer e saiu, fechando a porta. Desceu as escadas e foi ao encontro de alguns amigos na festa. Começou a conversar com eles, mas, estranhamente, ninguém lhe deu bola. Dirigiu-se então à namorada e pediu um cigarro. Mais uma vez, foi completamente ignorado.
Peter começou a ficar irritado. Achava que todos haviam combinado uma brincadeira – que, aliás, estava indo longe demais. Decidiu subir novamente para o segundo andar e encontrou ali a tal mulher, ainda à porta do banheiro. Quando o viu, ela fez uma cara de surpresa. “Ela pensava que eu ainda estava no banheiro”, relatou mais tarde. Peter desceu de novo as escadas e tudo parecia ter voltado ao normal: os amigos e a namorada conversaram com ele como se nada tivesse acontecido. Ele perguntou aos acompanhantes por que o haviam ignorado. Todos juraram que não o haviam visto nem ouvido minutos atrás.
Incrível? Não é o que a pesquisadora americana Donna Higbee acha. Ela teve seu primeiro contato com um relato do que chama de “invisibilidade humana involuntária e espontânea” em 1994. Conversou com colegas parapsicólogos e descobriu que muitos deles já haviam ouvido falar sobre o fenômeno. Publicou um anúncio em jornais pedindo a pessoas que tivessem vivenciado uma situação semelhante que escrevessem para ela. Desde então, coleciona cartas e e-mails de pessoas do mundo todo (inclusive do Brasil) que afirmam: ficaram, sim, invisíveis. E sem querer.
Os casos têm alguns pontos em comum, além do fato de serem involuntários. As pessoas com a capacidade de sumirem estariam, na verdade, sempre presentes fisicamente, embora não sejam vistas nem ouvidas. Do ponto de vista dos invisíveis, tudo parece normal. Tanto que eles geralmente experimentam uma sensação estranha de estarem sendo ignorados. O fenômeno dura apenas alguns segundos. Depois, tudo volta ao normal.
Mas o que acontece? Donna ainda não achou uma explicação razoável para o fenômeno. Ela até tentou estabelecer uma ligação com uma possível abdução das “vítimas” por extraterrestres – mas não conseguiu. Outra explicação, que Donna pegou emprestada do manual de uma fraternidade esotérica, é que, quando a essência do espírito se concentra em muitos minúsculos pontos de energia elétrica, sob determinadas condições, ela consegue se materializar em elétrons. Uma nuvem de elétrons livres é capaz de absorver toda a luz que entra nela – a luz não reflete nem sofre refração. Assim, os olhos do observador não conseguem ver a pessoa envolta por essa nuvem de elétrons. Simples assim.
O parapsicólogo brasileiro Oscar Gonzalez-Quevedo, presidente do Centro Latino-Americano de Parapsicologia (Clap), tem outra explicação. Para ele, o fenômeno pode ser uma quase experiência de bilocação – como o nome diz, estar em dois lugares ao mesmo tempo. “A pessoa pode emanar ectoplasma e formar uma espécie de fantasma de si mesma”, diz Quevedo. Ectoplasma, para quem não sabe, é nossa energia corporal, transformada e exteriorizada, de forma que é visível para os outros. No caso da invisibilidade humana, o ectoplasma pode ter-se formado, mas não ficado completamente visível. O observador então não enxerga a pessoa – que, na verdade, não está lá, mas sim a pelo menos 50 metros do local do fenômeno.
O parapsicólogo Paul Rogers, pesquisador da Universidade de Central Lancashire, no Reino Unido, não acredita que a invisibilidade seja possível. “Até onde sabemos, a invisibilidade espontânea vai contra todas as leis da física. Claro que há alguns ilusionistas que desaparecem, mas é simplesmente truque”, diz Rogers. Então, quem afirma já ter passado por um caso de invisibilidade está mentindo, com a conivência de quem assistiu (ou melhor, não assistiu) ao fato? “Não. Tenho certeza de que há pessoas que realmente acreditam nisso, e também pessoas que têm certeza de ter testemunhado o fato. Mas, para isso, há simples explicações que nada têm de paranormais. São simplesmente psicológicas ou mágicas, no sentido literal da palavra.”