Existem dois tipos de vício em amor – e os dois fazem mal
Amores podem virar obsessões, isso você já viu em filmes. Mas pesquisadores acreditam ter encontrado outra compulsão, igualmente nociva
Que o amor pode funcionar como uma droga, você já deve ter ouvido falar — até aqui na SUPER. Apaixonados experimentam euforia e aquela ânsia quase descontrolada pela presença da outra. Em algumas pessoas, isso vira dependência, gera abstinência e torna o ciclo todo difícil de romper.
Uma série de pesquisas já analisou a relação entre amor e vício. Mas ao revisar 64 estudos sobre o tema, o Centro de Neuroética de Oxford encontrou não apenas um, mas dois tipos de adicção ao amor, com características bem diferentes.
O primeiro é a obsessão clássica, mais intensa e aguda. É o tipo de sentimento que réus de assassinatos passionais alegam ter: o amor que leva a pensamentos e comportamentos obsessivos impossíveis de ignorar. No cérebro, o que parece acontecer é uma enchente de dopamina, similar ao efeito de algumas drogas, que cria um desejo irrefreável de repetir a sensação.
Esse é o tipo de vício mais gritante, a que os pesquisadores deram o nome de “adicção restrita”. Mas, na sua revisão de outros estudos, os cientistas encontraram o que chamaram de “vício amplo”.
Nesse caso, o apego ansioso está presente, a falta do parceiro também causa pensamentos de desespero. Mas, ao contrário do grupo anterior, essas sensações estão dentro do limiar que a pessoa é capaz de controlar. A vontade de dedicar-se completamente àquele sentimento está lá, mas consegue ser equilibrada com os outros interesses e obrigações do indivíduo.
Essa variação também reflete o padrão do uso de drogas na população. É claro que existem as pessoas com vícios completamente debilitantes. Mas as dependências mais comuns são, logicamente, as mais acessíveis. Milhões de pessoas com rotinas socialmente aceitáveis e interesses variados se encaixam na definição de “adictas” quando se trata de álcool e cigarro. O segundo tipo de vício em amor seria equivalente a este modelo.
Nem todos os cientistas concordam com a conclusão do estudo. Lucy Jones, uma das primeiras pesquisadoras a notar a semelhança do amor e do vício em drogas, está entre eles. Segundo falou à New Scientist, o modelo “amplo” faria parte de toda relação amorosa. Essa dependência química do amor teria origem evolutiva: seria a forma da natureza de nos forçar às relações românticas e ao sucesso reprodutivo.
Mas, para a pesquisa de Oxford, mesmo o tipo mais brando de vício em amor não pode ser considerado normal. Isso porque ele pode ajudar a explicar porque algumas pessoas tem tendências maiores a seguir cultos, se envolver com grupos fundamentalistas e até comportamentos muito mais simples, como a dificuldade de abandonar relações abusivas. E reconhecer melhor este tipo mais discreto de adicção sentimental pode ser a chave para quebrar esses ciclos destrutivos.