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Para evitar sentimentos negativos, você mente para si mesmo

E a neurociência descobriu que essa estratégia identificada pela psicanálise às vezes funciona

Por Maurício Horta
Atualizado em 28 mar 2018, 17h05 - Publicado em 11 Maio 2012, 22h00

Um estudo da Universidade da Geórgia reuniu há 15 anos 64 homens autodeclarados heterossexuais e os colocou para assistir a filmes pornô gay com um aparelhinho para medir a tumescência do pênis. Um detalhe: deles, 35 tinham sinais de aversão a homossexuais, e 29 não tinham nenhum. No fim do teste, veio a surpresa – só o grupo de homofóbicos se excitou com o vídeo.

“Uma possível explicação está em várias teorias psicanalíticas, que em geral explicam a homofobia como uma ameaça aos impulsos homossexuais do próprio indivíduo”, escreveram os autores do estudo, liderado por Henry Adams. Ou seja, a homofobia pode ser um tipo de homossexualidade latente em que pessoas ou não estão cientes de seus impulsos homossexuais ou buscam negá-los. Esse tipo de estratégia para nos livrar de pensamentos, memórias, emoções indesejadas foi batizado pela psicanálise freudiana de “mecanismo de defesa”.

Mas espera lá! As descobertas da neurociência não passaram para trás a psicoterapia freudiana, desenvolvida no final do século 19? Sim. Mas análises de ressonância magnética feitas em 2009 pelo psicólogo Michael C. Anderson, da Universidade St. Andrews, Escócia, mostram que, em alguns casos, o mecanismo de defesa não é simples mito. A ciência e a psicanálise finalmente começaram a se conversar.

Um exemplo é a repressão. Terminou com o namorado? Você faz então de tudo para reprimir qualquer sentimento ou lembrança da pessoa. Sente tesão pela/o chefe? Usa então sua força de vontade para que isso não complique sua carreira, mesmo que de vez em quando solte uma saia justa sem querer.

Para verificar se esse mecanismo realmente funciona, Anderson escolheu voluntários para memorizar 48 pares de palavras. Uma vez decorados esses pares, o pesquisador então os submeteu ao seguinte teste. Ele falava as palavras e o voluntário, deitado em um equipamento de ressonância magnética, precisava ora lembrar um par correspondente, ora forçar para que ele não viesse à mente. Depois desse teste, de fato o voluntário diminuiu a lembrança das palavras que se forçou a esquecer. E isso envolveu um mecanismo diferente do que ocorre quando esquecemos algo com o tempo.

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O que as imagens da ressonância magnética revelaram foi que, para suprimir as palavras, o cérebro ativou intensamente áreas do córtex pré-frontal que desativaram o hipocampo, responsável pela formação da memória.

É claro que esse é um passo pequeno demais para que a teoria dos mecanismos de defesa seja validada por completo pela neurociência. Mas é um grande passo para entender como nós conseguimos enganar a nós mesmos.

Autodefesa

ESTOU SÓ OBEDECENDO ORDENS
Eduard Wirths foi o chefe dos médicos nazistas no campo de concentração de Auschwitz, onde presos foram usados como cobaias para experimentos. Como ele justificou suas ações? Dizendo que nada mais fazia do que sua obrigação com a pátria. É o mecanismo de racionalização, em que o indivíduo encontra uma justificativa racional para ignorar os motivos reais quando eles são reprováveis – como salvar a própria pele ou ganhar poder e fama.

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RELAXA E…
No filme Patch Adams, o médico interpretado por Robin Williams precisa dizer a um paciente de câncer de pâncreas que vai morrer. Para aliviar a gravidade da situação, o personagem parte para o humor – “Morte. Falecer, expirar, acabar, perecer, cessar, esticar as canelas, bater as botas, apitar na curva, ir desta pra melhor, fechar os olhos, exalar o último suspiro.”

CLARO QUE SOU FELIZ!
No filme Segredos e Mentiras (1996), Mônica vive infeliz por ser infértil. Ela até esconde isso sob a manta de uma confortável vida de classe média. Mas a verdade é que ela inveja profundamente sua cunhada – uma operária que foi mãe solteira duas vezes, de pais diferentes. Para se proteger da frustração, Mônica parte para a negação de sua condição. Ou seja, rejeitar fatos óbvios e trocar por situações muito menos importantes.

OVELHA NO TRABALHO, LOBO EM CASA
O cara passa o dia trabalhando com algo que odeia, engolindo sapos do chefe e não vê nenhuma recompensa para isso. Ao chegar em casa, desconta a frustração xingando a mulher e batendo nos filhos. Esse é um exemplo de deslocamento, um mecanismo em que o objeto de ansiedade e sofrimento é trocado por algo que pode ser controlado com mais facilidade.

Saiba mais
Lies! Lies! Lies! The Psychology of Deceit
Charles V. Ford, American Psychiatric Press, 1996

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