Cai o mito: mulheres pedem aumento tanto quanto homens
O problema é que elas têm 25% menos chances de conseguir a grana extra
Mulheres ganham menos que os homens. É fato: no Brasil, em um mesmo trabalho, o salário feminino é apenas 75% do masculino, de acordo com o IBGE. É uma diferença que se sustenta mundo afora, nos EUA, na Europa e em quase todos os países onde as mulheres trabalham – inclusive na indústria do cinema de Hollywood, cuja desigualdades de salários por gênero já foi denunciada por atrizes como Jennifer Lawrence e Gwyneth Paltrow.
Ainda não há uma explicação para isso, mas uma das justificativas mais comuns é que as mulheres ganham menos porque não pedem tanto aumento quanto os homens, ou porque não negociam o salário tanto quanto eles – o que indica, basicamente, que o problema são as próprias mulheres, e não o mercado de trabalho.
Mas um estudo publicado essa semana derruba esse mito. Do Women Ask? (“As mulheres pedem?”, em português) é uma pesquisa feita pela Cass Business School da Universidade de Londres, em parceria com as universidades de Warwick e Winsconsin, e mostra que as mulheres pedem, assim como os homens, aumento de salário – o problema é que elas não ganham.
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Isso, pelo menos, na Austrália, onde rolou o estudo – ao todo, participaram 4.600 trabalhadores de 840 empresas diferentes do país. Os participantes só precisavam responder a uma série de perguntas: se os pagamentos deles eram negociáveis, se haviam ganhado aumento depois de pedir, se preferiam não negociar um aumento por medo de “pegar mal” no ambiente de trabalho (e por quê), se trabalhavam em período integral e se estavam satisfeitos naquela função e com aquele salário.
Olhando para os resultados iniciais, os pesquisadores notaram que 75% dos homens solicitaram um salário maior, contra 66% das mulheres. Mas daí, eles desconfiaram que as condições de trabalho poderiam estar afetando o resultado.
Por isso, dividiram os participantes em dois grupos: os que tinham empregos de meio período e os que trabalhavam o dia todo. Depois, compararam só os homens e mulheres que trabalhavam o mesmo número de horas – e a diferença nos pedidos de aumento desapareceu. Ou seja: mulheres trabalham mais em empregos de meio período, onde negociar o salário é menos comum do que em empregos que duram o dia todo. Mas as que trabalham em tempo integral pedem aumento tanto quanto os homens.
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Mas não é só. Mesmo que as trabalhadoras chegassem a pedir aumento, o estudo mostra que os homens tinham cerca de 25% mais chances de efetivamente ganhar a grana a mais, independente do número de horas trabalhadas.
Os pesquisadores tentaram entender por que isso acontecia: uma das hipóteses era que as mulheres não pedem aumento porque têm medo de causar impacto nas relações de trabalho, mas isso não é verdade. Entre os homens, 14,6% disseram estar preocupados com isso na hora de pedir aumento, enquanto entre as mulheres, esse número era menor, 12,9%.
Outra explicação dizia que as mulheres estariam mais satisfeitas com o próprio salário e, portanto, com menos necessidade de aumento. Elas não estavam – ou, pelo menos, só 25% delas disseram estar satisfeitas, o mesmo número que os homens.