A história por trás da gravação de Laurel/Yanny (e por que cada um ouve uma coisa)
O áudio que vem movimentando a internet nos últimos dias envolve um cantor de ópera, um alfabeto internacional e muita interferência do seu cérebro
Cantores de ópera são ótimos em pronunciar palavras com a dicção perfeita. Isso não tem absolutamente nada a ver com os agudos e graves que os barítonos e sopranos atingem com precisão atômica. O ponto é que, por conta da profissão, os cantores tendem a saber ler o alfabeto fonético internacional – na prática, eles conseguem entender os sons das palavras, e não as letras. Exatamente o oposto do que nós, meros mortais-cantores-de-karaokê, fazemos.
É por isso que o site americano Vocabulary.com (um dicionário online) contratou um cantor lírico: as gravações ficariam disponíveis online para que os usuários pudessem ouvir uma entonação exemplar dos termos pesquisados. Só que os resultados dividiram a equipe. Metade afirmava que o intérprete estava falando uma palavra; a outra metade jurava que era outra. A discussão caiu no Reddit. Em poucas horas, estava no Twitter (onde um vídeo sobre o tema já soma 25 milhões de reproduções). Desde então, a internet não para de discutir: o cantor está falando”Laurel” ou “Yanny”? É uma versão em mp3 do vestido de 2015, que já deve estar desbotado, e continua nos confundindo se é ou não preto e dourado.
“O que está sendo dito?” é uma pergunta muito menos interessante do que “Por que diabos as pessoas estão ouvindo coisas diferentes?”. As respostas variam. Uma das explicações vai pela linha de que o som, por si só, dá margem às duas interpretações. Aí seu cérebro simplesmente escolhe uma das opções, e faz você ouvir aquilo desde então. “É um estímulo ambíguo”, afirmou David Alais, professor de Psicologia da Universidade de Sidney, ao jornal britânico The Guardian. “Ele pode ser percebido de duas formas, ocasionalmente sua mente escolhe uma das interpretações. No caso do Yanny/Laurel, o som tem uma energia e tempo similares – é confundível desde o principio.”
Outra explicação coloca a culpa na gravação. O áudio meio abafado altera a forma que sua massa cinzenta escolhe as frequências que você vai se ater para decifrar o que a mulher está dizendo. As frequências mais baixas soam como Laurel, enquanto as mais altas gritam Yanny. O New York Times até fez uma ferramenta em que você consegue controlar as frequências, e perceber os extremos em isolamento. Isso significa que você pode estar ouvindo coisas diferentes dependendo até do equipamento em que você escuta a frase.
Ah, sim, caso você esteja realmente em dúvida, o cantor citado no começo do texto foi contratado para dizer Laurel. Se você está desolado, talvez sirva de consolo: eu também estou. Escutadores de Yanny, uni-vos.