Muitas pessoas restringem sua paixão pelas HQs à infância e a adolescência. Mas, para Levi Trindade isso não foi suficiente! O cara não só continua curtindo HQs como é nada mais nada menos que o diretor sênior dos quadrinhos DC da Panini Brasil.
Isso quer dizer que as revistas de Batman, Superman e cia. estão sob sua jurisdição, o que é, convenhamos, incrível. O cara é uma enciclopédia, manja de tudo e não para de se atualizar. Confira abaixo a minha entrevista da com ele!
Mundo Estranho – Quando as HQs começaram a ser uma paixão?
Levi Trindade: Digamos que minha paixão por quadrinhos teve início na infância, por “culpa” do meu pai, que lia Fantasma, Tex, Zagor, Ken Parker, Flash Gordon, Mandrake, Recruta Zero, Disney… além disso, havia os desenhos na TV, muitos deles estrelados por personagens da Marvel e da DC, o que acabou despertando o meu interesse.
ME – Como chegou onde o vemos hoje? No que consiste o seu trabalho?
LT: Eu comecei como editor-assistente na Mythos Editora, recém-saído do setor bancário. Por meio de uma conversa com o editor Dorival Lopes, recebi um convite para trabalhar com ele. Pouco depois, passei a trabalhar com o jornalista Sidney Gusman na versão da Wizard Brasil da Panini. Em seguida, já como editor, trabalhei com alguns títulos da Vertigo e da DC e também com a linha de álbuns europeus da Panini. Tendo desenvolvido esse trabalho, fui convidado a editar a maioria das revistas mensais e especiais da DC, incluindo os livros. Como reconhecimento pelo trabalho, fui promovido a editor sênior. Um de meus últimos trabalhos na Mythos foi a edição do livro Alan Moore – O Mago das Histórias. Recentemente, fui convidado pela Panini a fazer parte do quadro editorial deles e servir de elo entre as empresas Mythos e Panini, trabalhando com a coordenação editorial das linhas de heróis e mangás. Atualmente, cuido do planejamento editorial das linhas de heróis e mangás e auxilio na elaboração de campanhas e projetos especiais, além de editar alguns títulos de licenças específicas. E também auxilio na coordenação da equipe editorial, ao lado do meu amigo Emerson Agune.
ME – Na sua opinião, qual é o herói que, individualmente, possui o melhor enredo, vilões e psicologia?
LT: Eu citaria dois: Batman e Homem-Aranha. Ambos possuem uma rica galeria de vilões e os dois têm sérios dramas que os conectam fortemente à maioria dos leitores. A carga de densidade psicológica é extremamente alta na concepção desses personagens.
ME – Tem um herói favorito?
LT: Alguns… hehehe. Mas eu repetiria aqui os dois personagens da questão anterior, o Batman e o Homem-Aranha. Eram os que eu mais gostava quando criança e são dois dos que ainda gosto bastante depois de adulto.
ME – O que tem achado das adaptações e histórias nas outras mídias (TV e cinema)?
LT: Tenho gostado da maioria das adaptações, tirando uma ou outra ali que parecem ter errado totalmente em suas propostas, como Elektra e Jonah Hex, só pra citar dois exemplos. Mas, no geral, as adaptações têm rendido bons filmes. Num certo ponto, ajudam a divulgar as publicações nas quais se baseiam, mas o índice de retenção desses leitores é muito baixo. Por exemplo, se todo mundo que assistiu a Os Vingadores e O Cavaleiro das Trevas tivesse comprado as HQs, teríamos vendas que colocariam os gibis de Batman e Vingadores em patamares dignos do Guinness. Mas, voltando a falar dos filmes, é fato que alguns acabam se afastando do que era a proposta original do personagem em que se baseia, e o público percebe isso. Em outros casos, um enredo pavoroso afasta até o mais dedicado fã. Creio que ainda deva existir aí uma longa safra de filmes baseados em quadrinhos. Espero ter tempo para conseguir assistir a todos.
ME – Acha que o Brasil sai perdendo devido ao grande número de HQs que não chegam aqui?
LT: Acredito que não. Os que são publicados hoje já passam por um sério crivo de qualidade e de relevância. Muitos dos que não saem são porque não conseguem atrair a atenção nem do público estadunidense. E, se levarmos em conta tudo o que é publicado, falando apenas de super-heróis, temos um número absurdamente alto, superando em muito outras fases editoriais desses quadrinhos por aqui. Mesmo no auge da Ebal, sempre lembrada por muitos leitores, não tínhamos tantas revistas em bancas. Alie a isso os produtos destinados a livrarias e chegamos a números fantásticos.
ME – Como ocorre a seleção do material que vem pra cá? Quem participa?
LT: Aqui na Panini nós acompanhamos continuamente a maior parte do que é publicado no exterior, desde quadrinhos de super-heróis até mangás, passando por álbuns europeus e indies. A relevância desse material e o sucesso em seu país de origem são dois grandes pilares que norteiam nossas decisões. Logicamente, outras publicações podem não ter tido sucesso comercial, mas são revistas que precisam ser publicadas para que os fãs de determinados gibis possam ler tudo o que está relacionado a um grande evento ou a um personagem preferido seu. Os editores e o gerente editorial costumam partilhar as opiniões e, depois de algumas reuniões, são feitas tratativas com a matriz italiana, que formaliza os contratos.
ME – Depois de o material ser selecionado, quais são as etapas até as bancas?
LT: Bem, para chegar à banca, um gibi primeiro é traduzido. Em seguida, o texto bruto é copidescado, com o editor adaptando e lapidando a tradução para ficar de acordo com as características da publicação. Na sequência, é encaminhado para o letrista, que faz a diagramação dos balões. Depois disso, já no formato PDF, a história é impressa e revisada por um revisor. Então, as páginas revisadas voltam para a equipe editorial, que revisa mais duas vezes. Daí, o material volta para o letrista, que aplica todas as correções. Ele cria um novo PDF, que é encaminhado para a gráfica. Assim, a gráfica gera uma prova gráfica, chamada plotter, que chega às mãos do editor, que revisa novamente para ver se está tudo ok. Se estiver ok, a plotter é devolvida e a revista já pode ser impressa. Se tiver alguma correção, ela é anotada na plotter e deve ser aplicada antes de ser impressa. O tempo de impressão varia de uma semana a 15 dias, dependendo do tipo de publicação. Depois disso, a revista vai para a distribuidora. De lá, pode ser encaminhada diretamente para as bancas, ou, em alguns casos, para distribuidoras regionais, que tratam de levar as revistas até os jornaleiros.
ME – O que acha das histórias que estão rolando atualmente? O lance de o Charada ajudar o Batman, o Octopus tomar o corpo do Peter…
LT: Sinceramente, andam aparecendo algumas coisas que não chamam muito a atenção. Mas no caso do Octopus, creio que foi uma atitude ousada da Marvel e que, felizmente, está rendendo bons frutos à editora. Quanto ao Charada, eu gostei pra caramba da fase em que ele atuou como detetive. Preferi muito mais do que o que vinha sendo feito com ele. Mas vamos ver o que acontece nos próximos meses, né? Por enquanto, o personagem apareceu bem pouco nos Novos 52. Vamos ver o que os bat-escritores estão preparando para ele.
ME – Hora das rapidinhas! Se tivesse um poder, qual seria?
LT: Gosto muito do poder do Lanterna Verde, de poder criar a partir do nada. Acho que eu passaria os dias tentando ajudar e consertar o mundo.
ME – Se você fosse um lanterna, serviria a qual emoção? Acha que faltou alguma relevante?
LT: Puxa, como normalmente eu sou muito zen, creio que o Azul seria uma boa cor. Mas como eu gosto demais da Tropa dos Lanternas Verdes e sou meio obstinado com as coisas que faço, verde é a minha cara.
ME – Se pudesse bater um papo com um personagem, quem seria?
LT: Adoraria conversar com o Sr. Fantástico ou com Tony Stark. São caras que teriam muito o que ensinar. Agora, se eu fosse entrevistar alguém, seria o Batman.
ME – Avião da Mulher Maravilha ou Batmóvel?
LT: Batmóvel, sem dúvida.
ME – Jarvis ou Alfred?
LT: Alfred.
ME – Martelo do Thor ou anel do Lanterna?
LT: Anel energético.
ME – Darkseid ou Thanos?
LT: Darkseid.
ME – Quem é mais inteligente: Wayne ou Stark?
LT: Empate, pra mim. Ambos são muito bons em seus respectivos papéis.