Recentemente, escrevi uma resenha (aliás, minha primeira publicada no Blog da TdF) sobre o livro Laranja Mecânica. No finalzinho do ano passado, a Editora Aleph lançou uma edição especial da obra (352 pgs.,R$ 79), em comemoração ao seu quinquagésimo aniversário – ela foi originalmente publicada em 1962, um ano depois de sua conclusão pelo autor Anthony Burgess.
Não pretendo repetir o que já disse anteriormente sobre o livro. Este texto é para falar dos extras da edição especial.
A grandiosidade da obra pode ser vista pela capa. Sem enfeites espalhafatosos para chamar a atenção, ela traz apenas uma garrafa de Moloko Vellocet, a bebida alucinógena consumida por Alex e seus druguis. Debaixo dela, há uma segunda capa, com uma laranja mecânica desenhada (imaginem quão estranha seria se fosse real).
Antes do texto de Burgess, há um breve comentário de autoria dos editores, intitulado A Laranja ao Meio, sobre a vida do autor e os impactos da obra na cultura e nas artes de forma geral. Há também uma explicação em relação à nova tradução para português, focando principalmente as alterações feitas sobre o dialeto Nadsat (conjunto de gírias que Alex e seus amigos usam para se comunicar entre si), necessárias para que o leitor da língua portuguesa tenha uma compreensão da obra semelhante à que Burgess gostaria que seus leitores ingleses tivessem. O texto de Laranja Mecânica, em si, não foi alterado, mas embelezado com as ilustrações dos cartunistas Dave McKean, Angeli e Oscar Grillo.
Alex não conseguiu pregar os olhos até terminar de ler os extras da nova edição
Realizando uma pesquisa minuciosa em veículos de comunicação da época, os editores encontraram (e incluíram na obra) quatro textos publicados pelo autor e uma entrevista com o mesmo nunca antes vista, datada de 1972. Neles, Burgess fala sobre suas visões de mundo, fazendo uma argumentação sobre temas que continuam atuais e que, de que alguma maneira, estão presentes em Laranja. Ele possui uma evidente preocupação em reafirmar que Laranja Mecânica é de sua autoria, pois o nome ficou diretamente associado a Stanley Kubrick depois do estrondoso sucesso (e das polêmicas) do filme.
Burgess também diz algo que me surpreendeu: segundo ele, apesar de a obra ser sua mais conhecida e comentada, é a de que menos gosta. Há também um comentário, pequeno, sobre a adaptação de Laranja para o teatro, no formato de musical, e sobre as impressões de Burgess sobre a Rússia, local que serviu como a grande inspiração principalmente para a elaboração do Nadsat. A cereja do bolo, como sempre, ficou para o final: páginas da obra original, com rabiscos, mudanças, desenhos e anotações feitas pelo próprio autor.
Assim como 1984 e Admirável Mundo Novo, Laranja Mecânica descreve uma sociedade caótica, tutelada por um governo totalitário, dando um ótimo exemplo do que não devemos repetir se quisermos construir um futuro mais justo. Comparado a essa importância, os extras são apenas mais um atrativo.