Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Imagem Blog

Supernovas

Por redação Super Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog não é mais atualizado. Mas fique à vontade para ler o conteúdo por aqui!
Continua após publicidade

Brasileiro encontra cinco aglomerados de estrelas anciãs

E essas estruturas, moradoras do "centro histórico" da Via Láctea, vão nos ajudar a desvendar a história da formação da nossa Galáxia

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 2 jul 2018, 17h36 - Publicado em 2 jul 2018, 16h44

Há dois mil anos, o astrônomo, cartógrafo, matemático e teórico musical Ptolomeu (não é um currículo, é uma nota fiscal) registrou uma estrela bem maior que o normal no céu limpo de Alexandria, então a capital política e intelectual do Egito. É difícil imaginar o que eram as noites da época de Cristo, antes da eletricidade e da poluição. A dita cuja não só era visível a olho nu como competia pau a pau com a Lua. Ele mencionou essa gigante luminosa no Almagesto, um dos livros de divulgação científica mais influentes da Antiguidade. De lá, constava que podia ser vista nas costas do cavalo — o cavalo é a constelação do Centauro.

Hoje, esse pontinho que brilha muito tem nome e RG: Omega Centauri, NGC 5139. E já se sabe o porquê de tanto brilho: ele, na verdade, não é uma estrela só, e sim um conjunto de 10 milhões de estrelas idosas, que nasceram há 12 bilhões de anos e carregam consigo a história da Via Láctea. Esses asilos cósmicos são chamados de “aglomerados globulares”, e da descoberta de Ptolomeu até hoje, outros 150 deles foram identificados só na nossa Galáxia.

(Caso você tenha curiosidade de decifrar os códigos usados para identificar objetos no céu: “NGC” é a sigla do catálogo em que ele foi incluso. “5139” é o número dele no catálogo. Simples assim, sem segredo).

150 é um número razoável. Mas na astronomia, quanto mais, melhor. Muitos especialistas ainda caçam aglomerados anciões por aí, sempre em busca de respostas sobre o passado da Via Láctea. Um deles é o brasileiro Denilso Camargo. Na última quinta (28), o professor formado na UFRGS me mandou um e-mail comentando sua nova descoberta: usando os dados gerados pelo telescópio WISE, da NASA, ele encontrou cinco novos aglomerados globulares muito próximos do centro da Via Láctea — e publicou a descoberta em um periódico da Sociedade Americana de Astronomia. 

“Muito próximos” na escala cósmica é uma expressão difícil de entender. Eles estão a um raio de 4 mil parsecs do centro. O parsec é uma unidade de medida da qual nossa imaginação não dá conta, então vamos partir para uma boa e velha analogia: pense numa formiga caminhando sobre uma tela de celular (uns 15 cm). Agora suponha que esses 15 centímetros equivalem a um quilômetro, tudo bem? Para a formiga percorrer 1 parsec, nessa escala, ela precisaria ir e voltar de Netuno… 50 vezes. 4 mil parsecs? Bom, aí eu deixo na conta do leitor.

Continua após a publicidade

Acontece que a Via Láctea é inimaginavelmente grande: tem algo entre 31 mil e 55 mil parsecs de diâmetro. 4 mil, para esses padrões, é merreca. Se a Via Láctea fosse uma cidade, os aglomerados descobertos por Camargo seriam moradores do centro histórico, onde os turistas circulam e há prédios antigos preservados. Esse centro histórico é um região arredondada e brilhante que atende pelo nome de “bojo”. Na foto abaixo, você pode ver o bojo de Andrômeda, outra galáxia espiral, similar à nossa (não existe uma foto da Via Láctea desse ângulo pelo motivo bastante óbvio de que estamos dentro dela).

M31bobo
(Boris Štromar/CC BY 3.0/Wikimedia Commons)

O bojo é repleto de estrelas formadas quando o Universo era jovem. Elas são avermelhadas e contém basicamente hidrogênio e hélio. São as velhinhas do bairro. A juventude habita o disco, que contém estrelas enormes, quentes, jovens e azuladas, repletas de elementos mais pesados. E aí há o halo, que é a periferia distante, a zona rural: a esfera de brilho muito tênue que envolve tanto o bojo quanto o disco. A maior parte dos aglomerados globulares vive no halo, a grandes distâncias do bojo. Já os descobertos pelo brasileiro são exceções: fiéis moradores do centro velho.

Continua após a publicidade

“São menos de 200 aglomerados globulares confirmados na nossa Galáxia. Por isso, a descoberta desses 5 aglomerados globulares por si só já é de grande importância”, explica Denilso. “Os aglomerados que descobri são muito velhos (idades entre 12,5 e 13,5 bilhões de anos) e pobres em metais [na astronomia, “metal” é qualquer coisa que não seja hidrogênio ou hélio]. Eles têm características parecidas com os aglomerados globulares do halo. Nesse sentido, a busca por aglomerados desse tipo pode ajudar a responder muitas das questões em aberto sobre a região interna da Via Láctea.”

(Não se preocupe se você não entendeu muito bem: nossa editora Ana Leonardi escreveu uma matéria incrível sobre aglomerados globulares em janeiro de 2017, que vai muito além do que expliquei. Se você se interessou, lá vai o link).

Vamos entender que tipo de pergunta a descoberta de Camargo pode responder. Há dois tipos de bojo: um é o que se forma violentamente, quando uma galáxia grande engole outras, menores (achou cruel? Pois saiba que a Via Láctea está engolindo a galáxia anã Sagitário sem dó, neste exato momento). Esse é o clássico. O outro, não tão canônico, é o que se forma aos poucos, estrela por estrela, ao longo de uns bons bilhões de anos.

Continua após a publicidade

Por muito tempo se pensou que o bojo da Via Láctea tivesse sido fabricado à moda antiga, com sangue. Mas agora há modelos que dizem o contrário: eles propõem que nosso bojo não só é do tipo pacífico como tem uma forma peculiar, de ampulheta (ou de oito, assim: “8”. Ou amendoim com casca, daqueles de desenho americano. Fique com a metáfora que melhor lhe apetecer).

“São muitos os resultados que sugerem um bojo parecido com um amendoim para a nossa Galáxia, mas existem trabalhos contestando esses resultados”, diz Camargo. “Os aglomerados que descobri podem ajudar a solucionar a questão, visto que eles são verdadeiros fósseis vivos da formação das galáxias numa fase muito jovem do Universo. Eles foram os primeiros sistemas estelares a se formar.”

Conclusão? Na dúvida, entreviste os velhinhos. Eles sempre sabem o que aconteceu.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.