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8 dicas para fazer seu próprio jogo de tabuleiro

Por Iana Chan
Atualizado em 9 nov 2018, 20h57 - Publicado em 19 dez 2013, 15h32

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Quase todo mundo já jogou Banco Imobiliário ou War, mas são poucos os fortes que conseguiram terminar uma partida, vencendo o sono e o cansaço depois de horas a fio torcendo para não cair no hotel do Morumbi ou chorando para conquistar o 24º território. A partida mais longa de Banco Imobiliário, seguindo todas as regras à risca, demorou 1.680 horas. 70 dias.

Mas, na última década, novas criações redefiniram o conceito dos jogos de tabuleiro, aprimorando a experiência e renovando o interesse por esse tipo de diversão. Os jogos da chamada “nova escola alemã” duram em média 30 minutos e são mais simples e atraentes.

“Apesar de todos nós termos jogado Banco Imobiliário, ele foi lançado em 1903, é um simpático vovô. Com essa retomada alemã, os jogos de tabuleiro se tornaram cool. As pessoas estão redescobrindo o prazer de estarem juntas”, explica o jornalista e game designer Fabiano Onça. O cara entende do assunto: ele e seu pai, o sociólogo José Antônio Có Onça, já venceram o concurso de criadores de jogos da Ludoteca de Paris, na França, considerado por muitos o Oscar dos Jogos de Tabuleiro.

 

O interesse do game designer por jogos de tabuleiro começou, aliás, com o pai, quando recebeu de suas mãos o clássico War 2. “Foi o melhor presente de Natal que já ganhei“, disse Onça, que tinha oito anos na época. Nos próximos Natais, era ele quem presenteava a família com criações próprias. “Usava cartolina, pecinhas de outros jogos – até hoje construo meus jogos com sucata-, e ficava atormentando meus tios para jogarem comigo”, conta.

Para ele, a grande riqueza do jogo de tabuleiro é a interação que promove entre as pessoas – algo cada vez mais escasso e, por isso mesmo, mais cobiçado. “Jogos de tabuleiro são um divertimento enriquecedor”, diz.

Elaborar o jogo é seu outro grande prazer, principalmente pelo desafio de construir experiências ricas e complexas a partir da simplicidade, sem qualquer subterfúgio tecnológico. “O bom cozinheiro não é o que se esconde atrás de ingredientes supercaros, panelas majestosas ou temperos ultra-exóticos, mas aquele que faz um simples macarrão ao sugo ser lembrado por anos pelos amigos. Jogos de tabuleiro são como fazer um macarrão ao sugo. Inovar sempre, utilizando materiais simples, como dado e cartas”, resume.

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Se você também quer encarar esse desafio e ter um jogo para chamar de seu, siga as dicas e orientações do premiado game designer Fabiano Onça e role os dados:

1. Brinque com referências

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Um dos melhores exercícios antes de sair recortando papelão e cartolina, orienta Onça, é adicionar novas regras para jogos que você conhece. “É uma boa maneira de começar a dar asas para a imaginação e ver que tipo de dinâmica melhora ou piora o jogo”, diz.

2. Aposte nos princípios dos jogos modernos
A chamada “nova escola alemã” tem características próprias que renovaram os jogos. Vale a pena saber quais são elas:

* Regras simples: nada de grandes compêndios que exijam horas de leitura para que se compreendam as regras. Mas atenção: simples não quer dizer bobo!

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* Partidas de duração curta: as partidas dos novos jogos têm duração média de 30 minutos.

* Jogos inclusivos: dificilmente alguém fica de fora no meio do jogo. Todos permanecem até o final – mesmo que com dificuldades.

* Dinâmica que valoriza o mérito e não a sorte: o jogador deve ganhar porque soube tomar a decisão certa e não porque tirou +6 no dado.

* Visual atraente: são jogos extremamente preocupados em oferecer uma experiência estética, que encha os olhos do jogador.

3. Tenha uma boa ideia
Parece fácil, mas não é. Anote seus pensamentos e palpites e vá acumulando ideias. Sabe como é, “Talento é 1% inspiração e 99% transpiração”, como já dizia o inventor Thomas Edison. (Vale a pena registrar também a bem-humorada réplica do físico Nikolai Tesla: “Se o sr. Edison tivesse trabalhado de forma mais inteligente, não teria de suar tanto”.)

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Criar um jogo de tabuleiro é uma arte e, como toda arte, não existem fórmulas fechadas. “O processo de criação de um jogo de tabuleiro é muito misterioso – inclusive para mim”, conta Onça. Às vezes, a história do jogo vem antes e aí é preciso desenvolver uma dinâmica adequada, outras vezes é a mecânica que surge primeiro e então você deve procurar referências para criar um tema. “Não tem regra, é como compor uma música. Essa é a beleza de criar um jogo: apesar de ser muito matemático, é arte também.”

Para ter boas ideias, ele sugere praticar o olhar de game designer. “Pense o mundo como um jogo, olhe para a vida e enxergue um jogo nas situações cotidianas”. Ele cita o sucesso de vendas de Cooking Mama, para Nintendo DS, que é baseado no simples ato de cozinhar.

Perguntas importantes nessa fase: para quem é o jogo (qual faixa etária, interesses, referências)? Qual será o objetivo do jogador?

4. Jogue com a incerteza

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Tenha em mente que jogo é escolha. “O critério fundamental de um bom jogo é a tensão que ele provoca nos jogadores, de quão incerto é o resultado do movimento a ser feito”, resume. Um bom jogo é aquele que provoca dúvida sobre qual é a melhor jogada a ser feita. Caso contrário, ele fica besta, pois o jogador saberá quais decisões deve tomar para ganhar o jogo.

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5.  Invista na simplicidade
É a regra de ouro para fazer um jogo de tabuleiros – e a mais difícil de seguir. “O desafio é arrumar um jeito simples de resolver situações ricas e complexas, mas que tenham uma beleza e permaneçam vibrantes.”

Pense em Dominó ou em Candy Crush. A partir de mecânica simples, criam uma tensão, pois possuem várias oportunidades de desenvolvimento. “O jogo perfeito para mim é o que tem o menor número de regras e, ainda assim, oferece uma experiência maravilhosa, elegante. Isso é uma arte!”,  resume Onça.

6. Construa um protótipo
Para saber se a sua ideia renderá um bom jogo, é preciso levar para o papel. “Quando você produz um protótipo, é obrigado a tomar decisões, fechar conceitos que estão abertos. O jogo se revela para você mesmo”, descreve Onça. Essa é a hora de colocar o pé no chão, escrever o conjunto de regras e descobrir o que é viável e faz sentido.

Imagine a matemática que regulará o jogo. Quantos jogadores mínimos? Quanto tempo será necessário para finalizar um jogo? Estabeleça os pontos, os valores, o sistema de rodadas (todo mundo joga ao mesmo tempo? Um de cada vez? Em qual ordem?), as ações possíveis de cada jogador etc.

Pense nas consequências de suas escolhas. Por exemplo, se seu jogo usar dois dados, a média de casas andadas será 7 (a soma de todos os lados de dois dados dividido por seis ou 42/6=7), então qual deve ser o número mínimo de casas do seu tabuleiro? O tabuleiro com trajetos ou o livre é mais adequado ao seu jogo? Tentar imaginar as três primeiras rodadas do jogo pode ajudar.

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Não se preocupe em esculpir os mais belos peões neste momento. “O protótipo foi feito para ser mexido. Pode fazer absolutamente tosco!”, diz. A dica é usar peças de outros jogos e cartolina.

7. Teste, teste, teste e teste

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Com o protótipo em mãos, você pode jogar algumas vezes sozinho, para consertar possíveis “buracos” ou contradições do jogo. Você pode descobrir, por exemplo, que é possível ganhar sempre usando um truque ou um poder.

Depois dos pré-testes, é a hora de levar a jangada para o mar e ver se ela afunda ou boia: convide seus amigos para jogar. “Só assim dá pra sentir se o jogo é legal ou idiota. Muitas vezes, descobrimos que o jogo é chato”, diz Onça. Quantas vezes testar? “Eu diria que 150 partidas é um número bom para ver se as regras estão prevendo todas as situações e se o jogo está balanceado”, explica. O ideal é testar com públicos diferentes em várias situações, e observar se o jogo é claro, divertido e competitivo.

8. Lance (ou não) o jogo
Fim de jogo.  Depois de muitas experimentações, é importante também praticar o desapego. “Você precisa descartar muitos jogos até que um fique bom”, aconselha Onça. Nas contas dele, para cada título finalizado, cinco foram rejeitados.

Se depois da bateria de testes, você estiver satisfeito, é hora de construir a versão final do jogo. Para isso acontecer, resista à tentação de continuar alterando e incluindo novas regras. Reaproveite materiais de outros jogos, não se esqueça do livro de regras e use materiais mais firmes, como papel panamá e cubra com papel contact. Boa diversão!

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