Quando a gente fala de robô, você pensa em quê? Uma maquininha simpática tipo o R2-D2? Um androide com aspecto humano, feito o C-3PO? Ou um ciborgue híbrido com partes automatizadas, como Darth Vader?
Caso você não seja fã de Star Wars, não tem problema. Vários outros filmes imaginam a relação entre humanos e máquinas. Será pacífica? Uma guerra? Eles serão escravizados? Ou nós seremos dizimados? Estamos mais pra O Exterminador do Futuro, Wall-E ou Ex Machina?
Essas divagações fazem parte da cultura pop desde que os computadores surgiram. Com o passar do tempo, os processadores ficaram mais rápidos, mais potentes – e a ficção científica acompanhou a onda, trazendo robôs em diferentes cenários e situações.
Mas eles não estão só nas telonas. O sci-fi desembarcou na TV fazendo barulho em outubro do ano passado, quando a HBO lançou Westworld, série produzida por J.J. Abrams e baseada no filme Westworld – Onde Ninguém Tem Alma, de 1973.
Westworld se passa em algum momento do nosso futuro, em um parque de diversões customizado no estilo Velho Oeste americano. A diferença deste lugar para o parquinho da sua cidade é que Westworld não tem brinquedos. Ao invés disso, ele é habitado por androides totalmente realistas. Chamados de hospedeiros (hosts, em inglês), cada um é programado para cumprir uma jornada específica e servir aos visitantes. Há o galã que se sacrifica pela mocinha, a dona do bordel, o fora da lei, o xerife e diversos outros estereótipos de western. Quem visita Westworld tem que pagar – e caro. É uma espécie de RPG de carne e osso: cada decisão abre uma nova possibilidade e muda o jogo. Os convidados podem fazer o que bem entenderem com os hospedeiros, sem medo de represálias. Isso inclui espancar, estuprar e matar.
A primeira temporada de Westworld tem dez episódios, exibidos no final do ano passado pela HBO. A recepção à série foi extremamente positiva: ela é a recordista de indicações ao Emmy deste ano, com 22, incluindo Melhor Drama. Eu listei aqui embaixo três motivos para você dar uma chance a ela antes da estreia do novo ano.
1. A “humanização” da inteligência artificial
O eixo central de Westworld é totalmente baseado nos robôs. A narrativa acompanha diversos hospedeiros em diferentes papéis dentro do universo estabelecido pelos criadores do parque. Alguns são bem desenvolvidos e tomam as rédeas da história para si – esse é, provavelmente, o maior trunfo da série: os humanos não são os protagonistas. Eles estão ali, também participam da trama e completam sua jornada de autodescobrimento, mas é inegável que os personagens mais interessantes são os feitos de engrenagens.
Isso poderia gerar um atrito, uma falta de empatia no espectador, mas não é o que acontece. Ainda que a série fale abertamente sobre inteligência artificial, os temas que unem todos os pedaços do quebra-cabeça são essencialmente humanos: consciência, escolhas, oportunidades. É inovador acompanhar os três hospedeiros com mais destaque percebendo sua condição.
Outro ponto alto é a discussão sobre os limites da tecnologia. O criador do parque, interpretado por Anthony Hopkins, é mostrado como um Deus onisciente e onipresente, com poder sobre o destino de cada um dos androides, em constante conflito com a empresa dona de Westworld. A série questiona até onde ele está disposto a ir, e o que pode sacrificar, para se manter nessa posição.
2. É uma mistura de gêneros
Westworld é visualmente impecável. A maioria das cenas rola no próprio parque, emulando um western típico – tem até bola de feno ao fundo. Mas enquanto os hospedeiros estão levando tiros, sangrando e morrendo pelos cantos da tela, os visitantes comemoram, rindo, dando palminhas no ombro do amigo. Para eles, aquela situação é feita sob medida, e tudo vai acabar assim que eles tirarem as roupas de cowboy e voltarem para casa. Os robôs, por outro lado, morrem e voltam à vida no dia seguinte, prontos para inconscientemente satisfazer os desejos alheios.
É uma desconstrução do gênero clássico: Westworld mistura o sci-fi com o faroeste, temperando a equação com intrigas empresariais e flertes com o conceito de viagem no tempo. O resultado é uma distopia recheada de reviravoltas, que consegue usar o melhor de cada frente para entregar um drama com um visual bem século 21.
3. Você vai querer entender as milhares de teorias
Aqui na SUPER, Westworld virou meio que uma versão beta de Game of Thrones. Quando novos episódios da galera de Westeros estão sendo exibidos, a gente acaba publicando dezenas de conteúdos relacionados a teorias e hipóteses levantadas pelos fãs. A redação se torna um fórum do Reddit ambulante. Foi a mesma coisa durante os capítulos do ano inicial de Stranger Things, e aconteceu mais uma vez com a novidade da HBO.
Falar tanto sobre a série nos permitiu descobrir algumas coisas curiosas, como o parque semelhante que existiu na vida real, no Japão, com robôs realistas e tudo, a possibilidade de termos máquinas com finalidades sexuais no futuro, e se seríamos humanos ou androides naquele universo.
Claro que essas milhares de especulações acabam impactando a experiência de assistir à série. Às vezes, o que os fãs imaginam é muito mais divertido do que o desenrolar oficial da história. Mesmo assim, não tem como fugir. Se a primeira temporada de Westworld fez barulho quando estreou, em 2016, a segunda vai chegar ainda mais estrondosa. Caso você não esteja por dentro do burburinho, pode se preparar para fugir das conversas como quem corre dos spoilers de GoT nas manhãs de segunda.
Ah, e claro, um motivo bônus: o brasileiro Rodrigo Santoro está no elenco – você pode ver a entrevista que fizemos com ele sobre a série aqui.