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Cultura

Quem foi o infeliz que inventou a crase?

Ninguém, caro leitor: essa fusão de palavras é um fenômeno natural de pronúncia. Só nos resta registrá-lo com o acento grave.

Por Bruno Vaiano SEGUIR SEGUINDO
3 jul 2024, 12h00 •

Colagem da letra A com crase repetidas vezes. — (Luana Pillmann/Superinteressante)

Ninguém. A crase é um fenômeno que ocorre espontaneamente em várias línguas quando duas vogais idênticas em palavras diferentes se encontram e acabam se fundindo. Já existiam palavras craseadas na Grécia Antiga, e é do grego que vem a palavra krasis (κρᾶσις), que significa “mistura”.

Perceba que você diz “o carro dele”, e não “o carro de ele”, porque a pronúncia flui naturalmente assim.

Sua dúvida provavelmente se refere ao acento gráfico que é usado para identificar crases com a letra “a” em português. Note que o acento não se chama “crase” (esse é o nome do fenômeno), e sim acento grave.

No português o acento precisa indicar as crases que juntam dois “as” porque, caso contrário, haveria uma confusão entre frases como “dê à mulher” (que significa dar algo a uma mulher) e “dê a mulher” (que significa dar a mulher em si para alguém).

Essa é a diferença entre um regalo gentil e o tráfico de pessoas, então fique de olho.

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Sem a crase, precisaríamos escrever “dê a a mulher” em um caso e “dê a mulher” no outro. No primeiro caso, a primeira letra “a” é a preposição, e a segunda é o artigo. Todos hão de convir com este Oráculo que o Ensino Médio teria sido ainda mais ingrato assim.

Em línguas diferentes, o acento grave pode indicar uma porção de outras coisas. Por exemplo: em italiano, ele aparece em palavras em que última sílaba é tônica, em cima das vogais “a”, “i” ou “u”. Alguns exemplos são città (“cidade”) e virtù (“virtude”).

O leitor preferiu não revelar sua identidade.