Qual é o menor barco capaz de cruzar o oceano?
Não há limite. Embarcações com menos de dois metros de largura já atravessaram o Atlântico – e sobreviveram para contar a história
Desde que a embarcação seja grande o suficiente para caber você e seus suprimentos, está valendo. Não há nenhuma limitação técnica que impeça um barco pequeno de cruzar o oceano. Em 1984, o brasileiro Amyr Klink foi o primeiro a cruzar o Atlântico Sul em um barco a remo de 5,94 metros.
O mais usual, no entanto, é que a travessia seja feita em um barco a vela. Não é viável depender de um motor para completar a viagem, já que tanto a máquina quanto o combustível ocupariam muito espaço. A embarcação pode até ter um pequeno motor para casos de emergência, mas o navegador não deve depender só dele.
O que o barco precisa mesmo é de um espaço mínimo habitável (nem que seja só para se sentar e levantar) e que permita guardar comida e água potável suficientes para a viagem. Os alimentos precisam ser não-perecíveis, de preferência enlatados, para ocupar menos espaço.
No fim das contas, o mais importante não é o tamanho do barco, mas a experiência e conhecimento do navegador. Ele precisa conhecer bem a rota, a embarcação, as correntes oceânicas e estar preparado para imprevistos. Por mais que o marinheiro planeje o melhor trajeto e época para a viagem, ele pode encontrar uma tempestade ou mar agitado no meio do caminho.
Mesmo nesses casos, o barquinho consegue se virar bem. “Muitas vezes, uma embarcação pequena consegue lidar melhor com a onda do que uma embarcação maior. O barco grande é mais pesado, e geralmente ‘bate de frente’ com a onda, sofrendo mais impacto. O barco pequeno tende a acompanhar os movimentos da onda de uma forma mais tranquila”, diz Alexandre Simos, professor do Departamento de Engenharia Naval da USP.
Por conta disso, embarcações com menos de dois metros de largura já atravessaram o Oceano Atlântico e sobreviveram para contar a história. O recorde atual existe graças a uma disputa entre o navegador americano Hugo Vihlen e o britânico Tom McNally. Os dois cruzaram o Oceano Atlântico Norte em cubículos de pouco mais de 1,6 metro na década de 1990. Eles eram navegadores rivais e se sentiam motivados a quebrar o recorde um do outro.
Começou com Hugo Vihlen. O americano fez a travessia atlântica pela primeira vez em 1968, num barco de 1,82 metros chamado April Fool’s (Primeiro de Abril). Depois foi a vez de Tom McNally em 1983, com um barco um pouco maior, de 2,1 metros. Dez anos depois, o britânico voltou a completar a travessia no Vera Hugh, um barco de meros 1,64 metro – batendo o recorde de Vihlen.
Sabendo que seria superado por McNally, o americano começou a planejar uma travessia para aquele mesmo ano, em um barco milimetricamente calculado para ser dois centímetros menor que o Vera Hugh. Ele foi batizado de Father’s Day (Dia dos Pais) e é até hoje o menor barco a cruzar o oceano.
A disputa, é claro, não saiu barata. Ambos perderam mais de 15 quilos durante as viagens. Após mais de cem noites dormindo com os braços e joelhos dobrados, os navegadores também relataram dores nas articulações e dificuldade para voltar a andar.
Abaixo, alguns exemplos de grande travessias feitas em pequenos barcos.