Por que a “falta” nos esportes tem esse nome? O que faltou?
A palavra é uma tentativa de traduzir o inglês "foul", mas o significado e as raízes etimológicas são diferentes. Entenda.
Faltou correspondência entre o inglês e o português. Como muitos dos termos esportivos no geral, especialmente do futebol, “falta” é uma tradução direta de foul, a palavra de escolha dos britânicos para gritar quando algum jogador cometia uma infração e o jogo precisava ser parado para a cobrança da falta.
Quando o futebol se popularizou no Brasil com ajuda de Charles Miller, que nasceu aqui, mas era filho de um escocês com uma inglesa, foul virou “falta”, um bom correspondente em termos de tradução e de fonética. Mas as palavras têm significados um pouco diferentes, e raízes etimológicas distintas.
A falta, em português, pode significar desde uma infração e uma transgressão de uma lei maior até não comparecer em algum lugar, ou uma privação geral (que é o significado mais comum). A expressão vem do latim fallĭta, oriundo de fallo, o verbo latino para enganar.
Já foul, em inglês, tem o significado principal de algo extremamente desprazeroso, desagradável e obsceno. As palavras se encontram em seus possíveis significados morais, mas suas origens são bem diferentes. No inglês medieval, falado na Inglaterra entre 500 e 1100 d.C., fūl era usada para se referir a algo impuro e corrupto.
Foul compartilha sua raiz indo-europeia com a palavra pus, no latim, que vem de puter, estragado, e mantém seu significado no português até hoje, nomeando a secreção amarelada produzida por infecções bacterianas em feridas.
As diferenças de tradução entre palavras podem ser difíceis de gerenciar quando você joga um esporte global. A FIFA percebeu isso na Copa do Mundo de 1966, quando um jogo entre a Inglaterra e a Argentina com um árbitro alemão precisou de explicações posteriores para entender a punição pelas faltas.
Ken Aston, um árbitro britânico, teve a ideia de começar a usar um sistema de linguagem neutra a partir da Copa do Mundo de 1970, no México. Foi ali, por causa de dificuldades de tradução, que nasceram os cartões amarelos e vermelhos.
Fontes: FIFA, Dicionário Priberam de Português, Dicionário Merriam-Webster de Inglês e Dicionário de Etimologia Online e Celso Unzelte, jornalista esportivo.