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Os cinemas ainda recebem filmes em rolos?

Os filmes 3D, liderados por "Avatar", estabeleceram de vez a projeção digital nas telonas. Mas há diretores que ainda são saudosistas

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 17 dez 2021, 09h42 - Publicado em 14 dez 2021, 15h03

Hoje, é raríssimo. Essa é uma tecnologia que caiu em desuso por um motivo simples: as cópias digitais são mais baratas e fáceis de se manusear.

Mas faz pouco tempo que a tradição acabou. Em 2008, 82,5% das 40 mil salas dos EUA ainda usavam projetores analógicos, com rolos de filme. Seis anos depois, só 3,8%. Essa virada repentina foi culpa do boom nos filmes 3D, capitaneada pelo Avatar (2009) de James Cameron.

Uma película cinematográfica é feita a partir de uma camada de plástico, sobre a qual são colados com gelatina pequenos cristais de halogeneto de prata. Quando esses cristais são expostos à luz, a emulsão de gelatina escurece no padrão de imagem capturada. O registro fica salvo, torna-se visível após a revelação e pode ser reproduzido em um projetor. 

Cada rolo era uma lata com 15 cm de altura que armazena no máximo 25 minutos, de modo que um longa-metragem exigia algo entre quatro e oito rolos. Na hora da exibição, o fim de um rolo era colado no início do próximo, assim como o Brad Pitt faz em Clube da Luta (1999) – só que sem a adição das imagens eróticas.

Agora, imagine o trabalhão. Se o cinema quisesse exibir um mesmo filme simultaneamente em mais de uma sala, era preciso ter vários conjuntos de rolos. E manuseá-los era uma tarefa complicada.

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“Aos finais de semana, é comum que as produções infantis fiquem em salas maiores durante o dia e, à noite, pulem para as menores. Precisávamos de pelo menos dois funcionários só para levar os rolos de um lugar para o outro”, lembra Vinicius Pagin, diretor de conteúdo e estratégia de programação da Cinemark.

As cópias físicas dificultavam também a distribuição dos filmes – não tem como fazer um grande lançamento simultâneo pelo país se o número de rolos é limitado. Não raro, os cinemas do interior recebiam películas gastas, que já haviam sido usadas nas capitais.

Alívio logístico

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Nos últimos anos, distribuidoras e exibidoras (as redes de cinema) uniram esforços ($$$) para modernizar esse processo. Inicialmente, os cinemas passaram a receber um disco-rígido (HD) com terabytes de informação, que vinha com todas as versões de um filme: 2D, 3D, IMAX, dublado, legendado e os diferentes formatos de som. 

Esse tijolão, de fato, ainda era uma mídia física. Mas já facilitava o processo: ao cinema, bastava copiar os arquivos para o número de salas que desejasse e programar a exibição nos projetores digitais, que tem o tamanho de uma lava-louça. 

Hoje, contudo, eles são minoria: o grosso dos filmes chega via satélite. É um sistema parecido com o da TV por assinatura. Cada cinema tem uma antena parabólica que recebe o sinal das distribuidoras. O download rola durante a madrugada.

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Saudosistas

A projeção analógica ficou restrita a pouquíssimos cinemas. Em geral, os de circuito alternativo ou os que pertencem a alguma unidade de preservação histórica, como é o caso da Cinemateca, em São Paulo.

Mas há quem ainda curta uma pegada nostálgica em Hollywood. Christopher Nolan e Quentin Tarantino são alguns dos diretores que, recentemente, exibiram cópias de seus filmes em películas de 70mm – um formato de qualidade superior ao de 35mm, que era o padrão-ouro da indústria antes da digitalização da coisa.

Em 2015, Tarantino exibiu Os Oito Odiados no formato 70mm em 96 cinemas dos EUA. Muitos deles tiveram que ir atrás de equipamentos antigos para atender à demanda – no Brasil, sequer havia sala capaz de projetar cópias do tipo. Em 2017, foi a vez de Dunkirk, de Nolan, que foi exibido de forma analógica em 83 cinemas americanos.

Pergunta de Henrique Lopes, de Guarulhos (SP)

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