O que o Cinema Novo tinha de novo?
O mundo pagou para assistir a filmes brasileiros produzidos com “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.
Esse movimento foi o primeiro a chamar atenção internacional ao cinema que se fazia no Brasil. Surgiu na primeira metade dos anos 1960, como uma resposta aos sucessos de bilheteria da época: musicais, comédias e dramalhões que mimetizavam as produções hollywoodianas. Mas sem a expertise (nem a fortuna) da indústria americana, claro.
Foi quando um grupo de jovens cineastas se aventurou a fazer obras de denúncia social, que se aproximavam de documentários (inspirados pelo neorrealismo italiano) e com uma linguagem inovadora, considerada poética: cortes abruptos nas cenas e o descompromisso com a linearidade da narrativa, característicos da Nouvelle Vague francesa (de Jean-Luc Godard).
Em contraponto ao apelo das chanchadas – comédias de humor ingênuo, com samba e Carnaval como pano de fundo –, esses artistas criaram um cinema de arte engajada. O objetivo era mostrar a realidade dos morros cariocas, do cangaço, dos sertanejos pobres. Era a “estética da fome”, como definia o diretor mais representativo do movimento, Glauber Rocha (1939-1981).
Conforme o país foi tomado pela Ditadura, os temas passaram a abordar também o questionamento político, como no hoje clássico Terra em Transe (1967), de Glauber, que inclui militares, candidatos populistas e corruptos entre seus personagens.
Esses artistas filmavam muitas vezes com recursos tão precários que seu lema era “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. E não precisaram mesmo de muito mais que isso para fazer sucesso lá fora.
Glauber ganhou o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes, em 1968, por seu filme O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Ainda teve suas produções indicadas três vezes para a Palma de Ouro (melhor filme) desse Oscar francês.
Martin Scorsese é um cineasta do primeiro time americano que se disse influenciado pelo movimento brasileiro. “Eu vi os filmes do Cinema Novo, em 1969 ou 1970. Assisti a Terra em Transe e Os Fuzis [de Ruy Guerra] na versão original, sem legendas. Foi uma experiência muito, muito forte. Eu nunca tinha visto aquela combinação de estilos e a humanidade, a paixão tão poderosa desses dois filmes.”
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