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Respostas para as perguntas que surgem entre a primeira e a última página e outras notas de rodapé sobre livros fundamentais – e outros nem tanto. Por Pâmela Carbonari
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Você vai querer conhecer a protagonista desta série da HBO

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Atualizado em 10 jul 2017, 19h08 - Publicado em 10 jul 2017, 16h54

Conheci a personagem principal da série O Jardim de Bronze, inspirada no suspense policial escrito por Gustavo Malajovich, em 2008. Foi botar os olhos nela que me apaixonei. Nem a neblina que cobria as janelas do ônibus nem as 20 horas de viagem me deixaram menos boquiaberta. Prometi vê-la novamente o quanto antes. O antes não foi tão breve quanto eu queria, mas quatro anos depois a reencontrei. Cheguei, literalmente, de mala e cuia para passar o verão mais quente dos últimos 40 anos na capital argentina. E desta vez, Buenos Aires se mostrou ainda más linda, provocante y cheia de vida. Bueníssima onda.

Desde aquele verão, penso em ir para ficar. Penso nas ruas que cruzam a Callao em que busquei sem sucesso o caminho da minha casa temporária, se não encontro um piso para compartir perto da Chacabuco, até o sobrado caindo aos pedaços da Marcelo T. de Alvear com um altar para Néstor Kirchner cairia bem – desde que não caia mais nada, pelo menos não mais em mim.

Em 1934, Gardel soluçava em Volver que mesmo que o esquecimento que tudo destrói tenha matado sua ilusão, ele guarda escondida uma esperança humilde que é toda a fortuna do seu coração. Pero, mira vos, às vezes é necessário abrir mão de algumas coisas para realizar outras. Por supuesto que minhas escolhas são menos passionais que as do cantor argentino nascido em Toulouse, mas ainda assim doídas. Nessas horas, para alimentar a ilusão sádica de vida porteña, um Fernet con coca, Borges ou um filme argentino até que resolvem. No momento, o curativo é O Jardim de Bronze, da HBO.

A série homônima do best-seller escrito pelo argentino Gustavo Malajovich é um suspense policial que conta a história de Fabián Danúbio, o pai de Moira, uma menina de quatro anos que desaparece com a babá sem deixar rastros, e sua trajetória para reencontrá-la junto a um detetive pouco convencional. A série estreou dia 25 de junho e terá oito episódios de uma hora. Trama de Agatha Christie com sotaque porteño.

O Jardim de Bronze é outra produção que reforça o compromisso da HBO de estimular a criação do conteúdo regional.  Não à toa, a produção foi toda filmada em espanhol (A série napolitana de livros A Amiga Genial também vai ganhar uma versão televisiva pela HBO em italiano, seu idioma original).

“As nossas produções são realizadas nos idiomas em que foram criadas e seguindo a lógica do universo onde ocorrem. O Jardim de Bronze se passa em Buenos Aires e é falada em espanhol. “O Negócio” se passa em São Paulo, e é falada em português. “O Hipnotizador” se passa num mundo imaginário de fantasia onde as pessoas falam português e espanhol entre si. ”, disse Roberto Rios, Vice-Presidente Corporativo de Produções Originais da HBO Latin America em entrevista à SUPER.

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A série reúne grandes atores do país como Joaquín Furriel, Luis Luque, Julieta Zylberberg, Gerardo Romano, Romina Paula e Mario Pasik. Mas mesmo com nomes de peso, a protagonista da narrativa é Buenos Aires. Enquanto Fabián tenta lutar contra a ineficiência da polícia e encontrar Moira, a capital Argentina dá o ritmo do thriller – o fato do pai da menina ser arquiteto não é mera coincidência, tudo ali têm princípios arquitetônicos. Por melhor que sejam as atuações, principalmente do detetive César Doberti, interpretado por Luis Luque, Buenos Aires encanta com os excessos e as faltas necessárias a um suspense, ora cinzenta e erma, ora luminosa e caótica. E em takes nada óbvios.

Se você espera ver as casas coloridas do Caminito ou um casal dançando tango em San Telmo ou na Recoleta, guarde suas expectativas de souvenir de viagem para outra produção argentina. Nessa filmagem em 4k não sobraram frames para obviedades: a cidade da série é como o Palacio Barolo, o edifício comercial na Avenida de Mayo inspirado na Divina Comédia, de Dante Alighieri, onde fica o escritório de Doberti. Aparece como inferno, purgatório e paraíso, uma cidade que se mistura à trama como o mapa de um mistério a ser revelado. Difícil imaginar crime igual em outro lugar.

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(saiko3p/iStock)
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El Jardin de Bronce, lançado em 2012 na Argentina, é o primeiro livro de Gustavo Malajovich. O escritor de 54 anos também é arquiteto e trabalha como roteirista de televisão desde o ano 2002. Pouco antes da estreia da série, Malajovich conversou com a SUPER. Confira:

S: O seu livro foi muito bem recebido pela crítica e pelos leitores. Agora, cinco anos depois vai ser adaptado para a televisão. Qual é a sua expectativa diante da possibilidade da narrativa ganhar novos leitores, espectadores e fronteiras?

GM: Estou muito entusiasmado com a possibilidade de ampliar a gama de leitores. Todo escritor quer ser lido em todo o mundo.

S: Além de escrever o livro, você também trabalhou na adaptação para a televisão. Como foi reescrever seu livro e adaptá-lo para a TV? Na prática, quais foram as principais diferenças nesses dois processos?

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GM: Foi um trabalho difícil, de muita revisão e paciência. Escrever o romance foi um desafio novo, como se tivessem me dado um veleiro e dito: “saia a navegar, dentro do barco você vai encontrar o manual de instruções”. Adaptar a novela para o roteiro foi outra coisa, porque nisso tenho mais experiência. Mas nestes trabalhos não há nada garantido.

S: Ser um dos autores do roteiro foi uma pré-condição para que você aceitasse que o livro virasse série?

GM: Não foi uma pré-condição, mas me ofereci como roteirista e me aceitaram imediatamente. Se fosse um roteiro de um longa e não de uma série, talvez tivesse ficado em dúvida. Mas a proposta de uma série me deu mais confiança para fazer o trabalho.

S: No seu livro, Buenos Aires é um personagem fundamental para o desenvolvimento da trama. Podemos esperar que o mesmo se mantenha na série? Ou que essa relação cidade e enredo se aprofunde ainda mais?

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GM: Tenho certeza que a cidade tem um papel importante no universo da série e isso vai ser percebido pelo público de todos os países onde a série for exibida. Também gostaria que a narrativa fosse lembrada pelos lugares que ela mostra.

S: O livro ainda não tem versão brasileira. Você planeja aproveitar a estreia da série para lançar o livro em outros países como no Brasil, por exemplo?

GM: Sim, com certeza. A editora Penguin já está encarregada de relançar o romance nos países em que a série for exibida. E o Brasil é um dos mais importantes, espero que os leitores brasileiros também possam conhecer o livro.

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