A ciência já absolveu o feijão desde pelo menos 1984, mas a sabedoria popular não perdoa: o grão preferido de dez entre dez brasileiros leva a fama de aumentar nossa produção – e consequente emissão – de gases nocivos ao clima do planeta e às relações sociais. Em outras palavras: todo mundo acredita e engrossa o coro de que comer feijão faz as pessoas peidarem mais.
Na prática, porém, a teoria é outra: pesquisadores da Universidade do Estado do Arizona, EUA, acompanharam a dieta de três grupos com dezenas de voluntários que consumiram 100 g de feijão, diariamente, durante 8 a 12 semanas. Por meio de questionários semanais, eles avaliaram se houve aumento de flatulência, mudanças nas fezes e sensação de inchaço.
No primeiro grupo, 23 participantes comeram feijão carioca ou feijão preto, enquanto o grupo de controle, com 17 pessoas, se alimentou com cenoura enlatada no lugar dos feijões. No grupo 2, com 40 pessoas, metade comeu feijão branco e metade manteve a cenoura enlatada no prato. Por fim, o grupo 3 teve o dobro de voluntários: 40 mandando ver no feijão carioca e outros 40 comendo sopa de legumes para substituir os grãos.
O objetivo principal do estudo era avaliar níveis de lipídios, glucose, insulina e outras substâncias que indicam a propensão de uma pessoa desenvolver doenças do coração e diabetes tipo 2.
Mas o efeito colateral que mais interessa a este blog é o de que os relatos sobre aumento de produção de gás diminuíram conforme os indivíduos prolongavam a dieta com consumo diário de feijão. Na primeira semana de testes, 50% relataram aumento de flatulência – para quem comeu feijão preto, o indíce foi de apenas 19% no início.
Ao final do período de 8 a 12 semanas, menos de 10% dos voluntários estava peidando mais, incluindo quem nem comeu feijão. Ou seja, o organismo da maioria das pessoas se adaptou à dieta e continuou produzindo o mesmo tanto de puns que expelia antes.
A conclusão dos pesquisadores do Arizona é que a noção geral de que feijões nos transformam em uma bomba de metano é exagerada. A ingestão de fibras leguminosas realmente deixa nosso sistema digestivo mais gaseificado, mas o estrago não é tão grande como propagamos aos sete ventos – tampouco a culpa é exclusiva do grão mais querido do Brasil.