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A Terra é dos insetos, você só vive aqui porque eles deixam. Um blog para despertar a curiosidade de mamíferos que matam mosquitos e correm de abelhas.
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Nem só de florestas vive um ecólogo

Você já parou para pensar nos seres que vivem debaixo do nosso teto? Conheça o projeto brasileiro que pretende investigar a biodiversidade dentro de espaços urbanos.

Por Raul Costa Pereira
Atualizado em 12 nov 2021, 21h42 - Publicado em 12 nov 2021, 14h18

Texto de autoria de Raul Costa Pereira, do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp.

Quando digo que sou ecólogo, muitas vezes as pessoas me imaginam trabalhando em uma floresta vestindo uma camisa parda cheia de bolsos e de binóculos na mão.

De fato: ecólogos estudam como as interações entre organismos e seu ambiente moldam a biodiversidade. E quando pensamos em ecologia, fauna e flora, é fácil pensar na imagem de uma floresta tropical – ou mesmo a de um exuberante recife de corais.

Mas não é sempre assim. Para ter contato com a biodiversidade, não precisamos viajar para os rincões ainda intocados do planeta. Ela está ao nosso redor e faz parte da nossa rotina, apesar de muitas vezes nos esquecermos disso. 

Um exemplo. A pandemia obrigou muita gente a passar mais tempo dentro de casa – e atire a primeira quem não reparou em alguns inquilinos aqui e ali que, antes, passavam despercebidos, como a aranha num canto escondido da sala ou a lagartixa que caça insetos nos arredores da lâmpada do quintal. Quem mora sozinho nunca está realmente só.

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Surpreendentemente, em uma perspectiva científica, ainda conhecemos muito pouco sobre a biodiversidade e as interações ecológicas que ocorrem dentro de nossas próprias casas. E é justamente isso que queremos mudar.

A biodiversidade debaixo do nosso teto

Foi olhando para a floresta que é a nossa casa que surgiu o projeto “Ecos da diversidade social e desigualdade na biodiversidade”, financiado pelo Instituto Serrapilheira. A premissa é aumentar o entendimento sobre a ecologia das muitas formas de vida que compartilham o espaço urbano – incluindo nós, humanos.

O primeiro passo do projeto será documentar a rica biodiversidade de artrópodes que vive dentro de casa. Alguns inquilinos são óbvios, como as onipresentes formigas e pernilongos. Outros, nem tanto, como artrópodes minúsculos, invisíveis a olho nu, mas que vivem muito próximos da gente e que interferem diretamente em nossa qualidade de vida, como os ácaros – um dos principais responsáveis pelas alergias respiratórias.

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A etapa de “ir a campo”, algo muito importante na maioria das pesquisas científicas, será se embrenhar na urbanidade da cidade de São Paulo. A equipe do projeto vai visitar casas em realidades muito diferentes: do subúrbio aos bairros mais privilegiados, de famílias veganas às que consomem muita carne.

Nesse universo de residências distintas com moradores diversos, utilizaremos técnicas da chamada genômica ambiental para detectar quais espécies vivem ali. As formas de vida que perambulam pelas nossas casas acabam deixando rastros de DNA. Essas técnicas nos permitirão documentá-las, mesmo que não necessariamente as enxerguemos.

O projeto também buscará entender como os humanos influenciam as interações ecológicas que se desenrolam debaixo do nosso teto. Como somos muito diferentes uns dos outros, essa diversidade humana deve ter implicações importantes para os organismos que vivem próximos de nós. 

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Pequenos grandes ecossistemas

De certa maneira, cada casa pode ser encarada como um ecossistema próprio. Imagine as formigas que habitam a pia da sua cozinha. Esses pequenos organismos dependem fundamentalmente dos recursos que você fornece (não intencionalmente) a elas. Agora imagine que, na casa do seu vizinho, essa mesma espécie de formiga pode consumir recursos alimentares completamente diferentes simplesmente porque você e seu vizinho têm dietas distintas. 

Qual será o impacto disso na vida dessas formigas? São mudanças muito significativas? A relação ecológica entre os habitantes humanos e não humanos de nossas casas ainda é pouco estudada, mas está no cerne do projeto que desenvolveremos nos próximos anos.

A pesquisa não apenas deve revelar novas informações importantes para o manejo de espécies consideradas pragas urbanas e com relevância para saúde pública, mas também nos ajudará a compreender melhor como o modo que nossas cidades funcionam – e como isso afeta a vida da biodiversidade que habita nelas.

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