Serviço de robotáxi não era 100% autônomo, revelam funcionários
Cruise suspendeu operações após série de acidentes nos EUA; segundo fontes da empresa ouvidas pelo "New York Times", ela mantinha 600 operadores humanos, que assumiam secretamente o volante a cada 4 a 8 km rodados
Cruise suspendeu operações após série de acidentes nos EUA; segundo fontes da empresa ouvidas pelo “New York Times”, ela mantinha 600 operadores humanos, que assumiam secretamente o volante a cada 4 a 8 km rodados
Na matéria de capa da Super de setembro, sobre a evolução do carro autônomo, falamos sobre dois avanços importantes: o lançamento do primeiro modelo com automação Nível 3, e o início da operação comercial, 24h por dia, do serviço de táxis autônomos Cruise em São Francisco, a “capital” do Vale do Silício. Contamos como as primeiras semanas após a liberação da Cruise foram tumultuadas, com acidentes e problemas – e como isso ilustrava os desafios que o carro autônomo ainda teria pela frente.
Os problemas continuaram e houve um incidente mais grave, em que um Cruise atropelou e prensou uma pedestre. Até que, em 24 de outubro, o governo da Califórnia suspendeu a licença da Cruise em São Francisco – e, dois dias depois, a empresa (que foi comprada pela General Motors em 2022) anunciou que iria interromper suas atividades em todo o território americano. Além de SF, ela já estava operando parcialmente em Phoenix, Dallas, Houston, Miami e Austin.
Mas a informação mais explosiva surgiu neste final de semana, em uma reportagem do “The New York Times”. Fontes internas da Cruise ouvidas pelo jornal revelaram que, na verdade, os carros não eram tão autônomos quanto a empresa afirmava.
Segundo o NYT, a Cruise mantinha um batalhão de operadores humanos (o texto fala em 1,5 pessoa por veículo; como a empresa operava aproximadamente 400 deles, isso dá cerca de 600 funcionários) com a função de monitorar e ajudar os carros.
E isso acontecia com muita frequência: a cada 4 a 8 km rodados por cada um dos robotáxis, em média, um operador humano precisava intervir, assumindo à distância o controle do veículo – sem que o passageiro fosse informado. A Cruise admitia que seus carros tinham monitoramento humano, mas nunca revelou a real escala disso.
A notícia repercutiu no setor de IA. O cientista cognitivo Gary Marcus, da Universidade de Nova York, comparou a Cruise à Theranos – aquela empresa que prometia revolucionar os exames de sangue, mas na verdade era uma fraude (e cuja fundadora, Elizabeth Holmes, acabou condenada a 11 anos de prisão).
A revelação também coloca em dúvida a viabilidade econômica dos serviços de robotáxi – além do Cruise existe o da Waymo, uma subsidiária do Google, que opera em menor escala em três cidades dos EUA, e alguns outros em desenvolvimento.
Pagar 1,5 operador para cada veículo sai mais caro do que contratar um motorista comum para guiá-lo, e isso sem contar todos os gastos com hardware, software e desenvolvimento. A Cruise vinha queimando muito dinheiro: a empresa, que pretendia expandir operações para 15 cidades dos EUA, teve prejuízo de US$ 700 milhões no terceiro trimestre deste ano.
Segundo as fontes do “New York Times”, a Cruise disse a seus funcionários que irá demitir parte deles, e não tem previsão de reiniciar as operações.
Até recentemente, a GM tinha grande confiança na Cruise: acreditava que seu serviço de robotáxi poderia gerar até US$ 50 bilhões por ano a partir de 2030.