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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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O celular está ouvindo as suas conversas? Duas empresas dos EUA dizem que sim

Sabe quando você fala com a pessoa ao lado e aí começam a aparecer propagandas, no seu smartphone, relacionadas a algo que você disse? A hipótese sempre foi considerada um mito, lenda urbana. Mas, agora, duas empresas de marketing digital foram flagradas fazendo isso

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Atualizado em 19 dez 2023, 09h29 - Publicado em 18 dez 2023, 16h00

Sabe quando você fala com a pessoa ao lado e aí começam a aparecer propagandas, no seu smartphone, relacionadas a algo que você disse? A hipótese sempre foi considerada um mito, lenda urbana. Mas, agora, duas empresas de marketing digital foram flagradas fazendo isso

Talvez você já tenha vivido isso: após conversar sobre determinado tema, ou usar certas palavras numa conversa, as páginas da internet começam a mostrar propagandas relacionadas àquilo. Mas como? O seu smartphone estava ouvindo, secretamente, o seu papo? As big techs sempre negaram essa prática, que nunca foi comprovada.    

Mas, agora, duas empresas de marketing dos EUA foram pegas fazendo o contrário: elas não só dizem ter a capacidade de ouvir conversas em tempo real, usando o microfone do celular, como oferecem os dados a potenciais anunciantes.  

Os casos foram revelados pelo site americano 404 Media, e causaram espanto. O primeiro deles envolve o Cox Media Group (CMG), conglomerado que é dono de um grande provedor de internet no país, e também oferece serviços de marketing digital – incluindo um chamado Active Listening (“escuta ativa”, em inglês).  

“É verdade. Os seus dispositivos estão escutando você. Com o Active Listening, o CMG agora pode usar dados de voz para direcionar sua publicidade para as EXATAS pessoas que você procura”, afirmava o site da empresa. 

Captura de tela do site Active Listening do CMG
Trecho de página sobre a tecnologia Active Listening, da empresa Cox Media Group. (404 Media/Reprodução)
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Assim que o caso veio à tona, o CMG apagou as páginas que descreviam o tal serviço – mas o 404 Media havia capturado cópias delas usando o serviço Internet Archive, que armazena backups de qualquer documento da internet. 

“Imagine se você pudesse mirar clientes ou potenciais consumidores que estão usando termos como estes em suas conversas do dia a dia”, afirmava o CMG, para então dar exemplos: 

– Uma minivan seria perfeita pra gente.    

– Tem mofo no teto? 

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– Esse ar-condicionado está quase pifando. 

– Precisamos renegociar o nosso financiamento. 

Depois de capturar as conversas das pessoas, o CMG prometia usar esses dados para customizar anúncios em todas as plataformas online. “O resultado? Uma compreensão sem precedentes do comportamento do consumidor. Nós conseguimos entregar anúncios personalizados que fazem o seu público-alvo pensar: uau, eles devem ler mentes.”

Em seguida, o CMG faz uma observação meio sinistra. “Isso é lícito? SIM – é totalmente legal que os celulares e outros dispositivos escutem você. Isso porque os consumidores geralmente dão seu consentimento, ao aceitar os termos e condições de atualizações de softwares ou em downloads de apps.”

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Sabe aqueles contratos quilométricos e incompreensíveis, que aparecem antes de usar algum serviço online, ou as permissões solicitadas quando você abre um app pela primeira vez? Pois então.

O CMG também afirmava que “o retorno financeiro [do Active Listening] já é impressionante”, sugerindo que a tecnologia estava em uso comercial. Após ser procurada pelo 404 Media, a empresa apagou as páginas e enviou uma resposta meio genérica e truncada, na qual nega ouvir as conversas – mas, ao mesmo tempo, admite a captura delas. 

“Dados de propaganda baseados em voz e outros dados são coletados por estas plataformas e dispositivos sob os termos e condições fornecidos por estes apps e aceitos por seus usuários”. Quais apps seriam esses, e como a escuta é feita, o CMG não diz.   

Não é o único caso. O 404 Media publicou uma segunda reportagem revelando que outra empresa de marketing, a MindSift, oferecia exatamente a mesma coisa a anunciantes. 

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Além de ser mencionado no site da MindSift, o serviço também foi mencionado por um dos fundadores da empresa, Andy Galeshahi, no podcast oficial dela. “Você já falou sobre alguma coisa, e aí viu um anúncio dela? Somos nós. Nós distribuímos essa tecnologia.” 

A MindSift dizia ter acesso aos “microfones de milhões de dispositivos”. Ao ser procurada pelo 404 Media, apagou as páginas com informações a respeito, e não quis dar entrevista. 

Os dois casos apontam que a escuta de conversas é uma prática real, e já está sendo usada pela indústria de publicidade online. É difícil se defender dela, pois os aplicativos que solicitam o uso do microfone muitas vezes também têm razões legítimas para tanto (como permitir a busca por voz). Se você negá-lo, alguns recursos dos apps poderão ficar inoperantes.

Dito isso, talvez seja uma boa ideia checar as permissões dos apps que você tem instalados. No Android, clique em Configurações => Apps, selecione o aplicativo suspeito (em princípio, todos são) e clique em Permissões. No iPhone, clique em Ajustes => Privacidade e segurança e entre no item “Relatório de Privacidade dos Apps”.  

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