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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Governo adia divulgação de dados da Coronavac; Butantan fala em eficácia superior a 50%

Resultado dos testes clínicos, que seria revelado hoje, deverá atrasar até 15 dias; Butantan diz, apenas, que vacina alcança patamar mínimo exigido pela Anvisa e pela OMS; entenda o que pode mudar, e quais os próximos passos da campanha de imunização

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Atualizado em 23 dez 2020, 16h48 - Publicado em 23 dez 2020, 16h25

Resultado dos testes clínicos, que seria revelado hoje, deverá atrasar até 15 dias; Butantan diz, apenas, que vacina alcança patamar mínimo exigido pela Anvisa e pela OMS; entenda o que pode mudar, e quais os próximos passos da campanha de imunização

O Instituto Butantan, que iria revelar hoje os resultados dos testes clínicos com a vacina Coronavac, decidiu adiar a divulgação dos dados. Isso ocorreu a pedido da farmacêutica Sinovac, que teria pedido mais tempo para incorporar os dados de outros países, como Turquia e Indonésia, onde a vacina também está sendo testada. O Butantan informou, apenas, que a Coronavac atingiu “o índice [de eficácia] exigido pela Anvisa e pela OMS”. Isso significa que a vacina possui eficácia acima de 50%, patamar mínimo estabelecido por esses órgãos, mas o número exato só será revelado em 15 dias. O cronograma de vacinação está mantido, e começa em 25 de janeiro em São Paulo. 

Supondo que isso realmente ocorra, e que a vacina seja eficaz, janeiro marcará o início de uma nova fase da pandemia. Veja bem: uma nova fase, não o fim (ou mesmo o começo do fim). A Coronavac não é uma máquina do tempo, que nos permita voltar a janeiro de 2019 e retomar a vida como antes. A pandemia continuará existindo – e, num primeiro momento, até acelerando. A vacina é uma luz no fim do túnel; mas, para sair do túnel, ainda temos que atravessar um trecho perigoso. 

1. O que muda se a Coronavac tiver apenas 50%, e não 90%, de eficácia?

Se isso acontecer, será uma má notícia. Significará que, de cada 1 milhão de pessoas vacinadas, só a metade será de fato imunizada contra o coronavírus. Isso não tira a utilidade da Coronavac, mas significa que será necessário vacinar muito mais gente para começar a controlar a propagação do Sars-CoV-2.

Também é possível que a Coronavac, mesmo ficando abaixo dos 90% de eficácia alcançados pelas vacinas de RNA (como a da Pfizer e a da Moderna Therapeutics), alcance um valor razoável, entre 70% e 80% – mesma eficácia da vacina contra a gripe comum que, assim como a Coronavac, também é feita com vírus inativado (e atua contra outras espécies de coronavírus).

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2. Quando você terá acesso à vacina?

O governo de São Paulo pretende começar em 25/janeiro, vacinando profissionais de saúde, indígenas e quilombolas. Em 8 de fevereiro, será a vez dos idosos com mais de 75 anos, seguidos pela faixa etária de 70 a 74 anos (15/fevereiro), 65 a 69 (22/fevereiro) e 60 a 64 (1/março). Todos os grupos receberão a segunda dose da vacina, que é imprescindível, três semanas após a primeira. E é necessário esperar mais 15 a 20 dias até que o organismo construa a resposta imunológica. 

Faça as contas e você concluirá: os grupos dessa primeira leva estarão imunizados entre 1/março e 15/abril. Estamos falando de mais 3 a 4 meses. É bastante tempo ainda. E, por enquanto, é o que temos. O governo paulista ainda não divulgou as etapas seguintes, englobando outras faixas etárias. O governo federal, por sua vez, pretende começar a vacinar a população entre 20/janeiro e 1/março, mas não divulgou um cronograma de grupos etários. Ou seja: se você não é idoso, dificilmente será imunizado no primeiro semestre de 2021.

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3. Quem tomar a vacina pode sair por aí sem máscara?

De jeito nenhum. Tem que continuar usando máscara, por dois motivos. O primeiro é que a Coronavac, como qualquer outra vacina, não é 100% eficaz. Ao tomá-la, existe uma probabilidade de que você não se imunize. Se a vacina tiver 90% de eficácia, esse risco é de 10%. Se a eficácia for de 50%, a chance de ela não imunizar você é 50%. E isso, num momento em que há muito Sars-CoV-2 circulando na sociedade, pode ser bem perigoso. Para que tenhamos uma proteção realmente robusta, pelo menos 70% da sociedade precisam estar vacinados (o que reduzirá a prevalência do vírus), e isso levará tempo. 

O outro motivo é que não se sabe, ainda, se os imunizados podem continuar transmitindo o vírus para outras pessoas. Existe uma possibilidade teórica de que, mesmo você estando protegido contra a Covid-19, o vírus consiga se instalar nas suas vias aéreas superiores durante algum tempo – o suficiente para que ele se replique, em alguma medida, e contamine outras pessoas quando você respirar ou falar com elas.

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4. Quando meus pais já estiverem vacinados, mas eu ainda não, poderei visitá-los?

Esse dilema vai se tornar cada vez mais comum a partir de março. Do ponto de vista puramente epidemiológico, seria melhor não, e ponto final. Mas é preciso reconhecer a realidade e admitir que algumas famílias decidirão romper o isolamento (mesmo hoje, sem vacina nenhuma, muitas já têm feito isso). Nesses casos, será fundamental manter todas as precauções cabíveis, incluindo o uso de máscaras, limitação de tempo de contato, e encontro em ambientes ao ar livre/bem ventilados. 

Lembre-se. Os seus pais podem ter tomado a vacina, mas não ter desenvolvido imunidade (já que ela não é 100% eficaz). E aí você pode infectá-los. Ou eles podem, mesmo sem desenvolver Covid-19, estar carregando alguma quantidade de coronavírus – que seria transmissível a você. Até que a sociedade atinja uma cobertura vacinal de 70%, essas serão questões reais.

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5. Quando os casos e as mortes vão começar a cair?

No que depender apenas da vacina, só a partir de março ou abril. E, mesmo assim, podem não cair – já que, inicialmente, um grupo relativamente pequeno de pessoas será imunizado. No Estado de São Paulo, 11,6% da população têm mais de 60 anos (no Brasil como um todo, 10,8%). Isso significa que a esmagadora maioria dos paulistas não será coberta pela primeira leva de vacinação, e continuará suscetível ao vírus.  

Além disso, os governos estaduais têm relutado em voltar a aplicar lockdowns e medidas de isolamento mais duras, como aquelas adotadas no início da pandemia. Também é cada vez mais comum ver gente na rua sem máscara, usando-a de forma incorreta ou simplesmente fingindo que está usando, com a máscara no queixo. E as festas e viagens de final de ano servirão, inevitavelmente, como propagadoras do vírus.

Por tudo disso, e como a pandemia já está em aceleração, a tendência é que casos e mortes continuem a subir nos primeiros meses de 2021 – possivelmente, como já acontece nos EUA e na Europa, superando os piores números de 2020. Logo, é imprescindível continuar usando máscara, respeitando o distanciamento social e tomando o máximo cuidado. Não encare os dados de eficácia da Coronavac, sejam quais forem eles (50%, 70% ou 90%), como passaporte para um “liberou geral” que simplesmente não existe – e pode acabar desencadeando uma explosão de contágio. Afinal, para tomar a vacina, primeiro você tem de continuar vivo.

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