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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Governo chinês autoriza uso da primeira vacina inalável contra a Covid. Mas há um porém

Convidecia Air tem método de aplicação parecido com as bombinhas de asma, e gera 9x mais anticorpos do que a Coronavac; vacinas inaláveis são a principal aposta para impedir a transmissão do Sars-CoV-2, mas estudo chinês deixa pontos críticos em aberto

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Atualizado em 5 set 2022, 18h28 - Publicado em 5 set 2022, 16h22

Convidecia Air tem método de aplicação parecido com as bombinhas de asma, e gera 9x mais anticorpos do que a Coronavac; vacinas inaláveis são a principal aposta para impedir a transmissão do Sars-CoV-2, mas estudo chinês deixa pontos críticos em aberto

A maioria das vacinas, incluindo as da Covid, é aplicada num músculo do braço. Essa parte do corpo é a escolhida por três motivos: o braço é de fácil acesso, as fibras musculares retêm a vacina, evitando que ela se disperse, e o músculo possui células dendríticas. Essas células são as responsáveis por colher uma amostra do elemento invasor (no caso das vacinas da Covid, a proteína spike, os “espetos” do Sars-CoV-2) e carregá-lo até os nódulos linfáticos, onde ele é analisado e o corpo prepara uma resposta, fabricando células de defesa e anticorpos especialmente adaptados para combater o vírus.

É um mecanismo sofisticado e genial (que explicamos em mais detalhes na reportagem “O futuro da Covid”, publicada em fevereiro). Mas também há um problema. As vacinas da Covid induzem a produção de anticorpos IgG e IgM (imunoglobulinas G e M), que ficam circulando no sangue. Só que o coronavírus entra pelas mucosas, do nariz ou da garganta – elas têm um mecanismo de defesa próprio, o “sistema imunológico mucosal”, e trabalham com outro tipo de anticorpo, o IgA.

É por isso que as vacinas atuais evitam a Covid grave (os anticorpos e as células de defesa impedem a proliferação do vírus nos pulmões), mas não conseguem impedir que você pegue o Sars-CoV-2. Para isso, seria preciso ter anticorpos IgA presentes na mucosa do nariz e da garganta.

Em tese, os IgA podem induzir a chamada “imunidade estéril”, em que o vírus não consegue nem se instalar nas vias aéreas superiores, muito menos se reproduzir no corpo. Com isso, seria possível quebrar a cadeia de transmissão do Sars-CoV-2 – e erradicar o coronavírus.  

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Mas a única forma de induzir anticorpos mucosais é com uma vacina inalável: um spray, esguichado nas narinas ou aspirado pela boca. As vacinas desse tipo são difíceis de desenvolver, por várias razões (o muco nasal encharca e remove as partículas do produto), e até ontem existia apenas uma aprovada para uso humano: a FluMist, criada em 2003 pela empresa americana MedImmune, contra a gripe comum. 

Hoje, isso mudou: a NMPA, agência do governo chinês que regula medicamentos no país, autorizou o uso da vacina nasal Convidecia Air, desenvolvida pela empresa CanSinoBIO.

A nova vacina é uma versão aspirável da Convidecia “normal” – que é uma vacina de vetor viral, como a da AstraZeneca (ela contém um adenovírus modificado, que carrega a proteína spike do Sars-CoV-2), e em maio recebeu da OMS autorização para uso emergencial.  

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A versão inalável estava em testes clínicos desde o início de julho – e, em agosto, os pesquisadores da CanSino publicaram os primeiros resultados no jornal científico Lancet (com revisão por cientistas independentes). A nova vacina foi testada, como dose de reforço, em 420 chineses que haviam recebido duas doses de Coronavac. 

gráfico
Nível de anticorpos neutralizantes gerados 14 e 28 dias após uma dose de reforço da Convidecia Air (em azul e verde), ou da Coronavac (vermelho). Os anticorpos só foram testados contra a variante Delta. (The Lancet/Reprodução)

Parte deles tomou mais uma dose de Coronavac; os demais receberam a Convidecia Air. Resultado: a vacina nasal induziu 9 vezes mais anticorpos, na corrente sanguínea, do que o reforço de Coronavac. Percebeu o problema? Na corrente sanguínea. Infelizmente, o estudo não mediu os anticorpos presentes na mucosa nasal – justamente a grande promessa das vacinas inaláveis. 

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Há outro grande porém: a Convidecia Air não foi testada contra a variante Ômicron, só contra a Delta. É bem provável que ela, assim como as vacinas atuais, tenha menos força contra a Ômicron (já que, como elas, é baseada na proteína spike original, não na versão mutada presente na Ômicron). Na semana passada, a FDA liberou as primeiras vacinas atualizadas contra a Ômicron, que começarão a ser aplicadas nos EUA nos próximos dias.

O estudo chinês também não avaliou se os voluntários vacinados com a Convidecia Air efetivamente ficaram protegidos contra a Covid (se houve menos casos da doença entre eles, e qual a intensidade dos sintomas). Só colheu amostras de sangue, e testou a reatividade dos anticorpos. 

Mesmo assim, a Convidecia Air pode representar um avanço importante – tanto para a China (que ainda não possui vacinas de mRNA, as mais eficazes) quanto para a ciência, que finalmente começa a progredir no desenvolvimento de vacinas aspiráveis. 

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Em agosto o laboratório indiano Bharat Biotech, criador da vacina injetável Covaxin, anunciou que sua vacina nasal, com nome provisório de BBV154, completou com sucesso os testes clínicos de Fase 3 – a última necessária antes da aprovação pelas autoridades. 

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