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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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A variante “Deltacron”, que supostamente combina Delta e Ômicron, realmente existe?

Ela teria sido identificada em 25 pacientes no Chipre, um país no Mar Mediterrâneo. Mas cientistas dizem que pode ser apenas um erro de sequenciamento genético. Veja por que.

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Atualizado em 10 jan 2022, 09h48 - Publicado em 10 jan 2022, 09h18

Ela teria sido identificada em 25 pacientes no Chipre, um país no Mar Mediterrâneo. Mas cientistas dizem que pode ser apenas um erro de sequenciamento genético. Veja por que.  

A variante Ômicron é muito mais contagiosa do que as antecessoras, e por isso o mundo tem batido sucessivamente o recorde de casos diários de Covid-19. Ela também é menos letal, e por isso os números de mortes não acompanharam a explosão de casos. Mas, desde que a Ômicron surgiu, há o receio de que novas mutações, ou a recombinação genética dessa variante com outra, possam dar origem a uma Ômicron mais mortal – o que, dada a extrema facilidade que ela tem em se espalhar, poderia levar a pandemia a um estágio mais grave, talvez pior do que os piores momentos de 2020 e 2021.

O temor pareceu ter se concretizado neste final de semana, quando surgiu a notícia da suposta variante “Deltacron”, que combina Delta e Ômicron. Ela foi reportada pelo virólogo Leondios Kostrikis, da Universidade do Chipre (ilha com 1 milhão de habitantes no Mar Mediterrâneo). Kostrikis e sua equipe teriam identificado 25 casos da variante, que apelidaram de “Deltacron”. Eles sequenciaram – decodificaram – o código genético das amostras e o enviaram para o GISAID, um banco de dados internacional que centraliza as sequências genéticas de todas as variantes do coronavírus. 

Foi o suficiente para espalhar mais uma onda de pânico. Afinal, uma combinação da alta transmissibilidade da Ômicron e da agressividade/letalidade da Delta poderia ser terrível. Mas talvez a coisa não seja bem o que parece – e a tal “Deltacron” não exista, sendo apenas um erro nos testes de sequenciamento genético. O primeiro a levantar essa possibilidade foi o virologista Tom Peacock, da Imperial College London: segundo ele, “claramente parece ser contaminação” das amostras testadas. 

A máquina de sequenciamento genético da Universidade do Chipre não teria sido adequadamente limpa e esterilizada, e conteria resíduos de amostras anteriores – que teriam se misturado durante a leitura das novas, gerando a falsa identificação de uma nova variante. O biólogo americano Eric Topol, diretor do Scripps Research Institute, foi pela mesma linha: disse que o suposto novo vírus “não é uma variante real”.

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Isso supostamente é revelado pelo próprio código genético, que contém um trecho intacto da Ômicron “colado” sobre a Delta – sem as alterações que seriam esperadas num caso de recombinação. E ele aparece num pedaço da Delta que é especialmente difícil de ler – e já causou erros de sequenciamento similares.  

Kostrikis se defendeu dizendo que a “Deltacron” não é um erro de laboratório, e o sequenciamento foi feito em várias máquinas, inclusive fora do Chipre – o que afastaria a possibilidade de todas elas estarem contaminadas por amostras antigas. Mas não explicou como, quando e para quais laboratórios de sequenciamento a “Deltacron” teria sido enviada. Talvez o mais importante seja que, segundo ele próprio, a suposta nova variante não parece capaz de competir com a Ômicron – e tende a desaparecer. Dos 25 pacientes infectados, 11 estavam hospitalizados e 14 se recuperavam em casa. 

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