Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês

Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
Continua após publicidade

Por que pode matar boi, mas não cachorro? Porque cães são humanos

O assassinato cruel de um cachorro levantou uma polêmica: matar bois não seria um crime equivalente? Segundo Darwin, de jeito nenhum.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 dez 2018, 15h06 - Publicado em 7 dez 2018, 13h01
  • Seguir materia Seguindo materia
  •  (Lisa Van Dyke/Getty Images)

    Joel Pinheiro da Fonseca pergunta, na Exame: “Se a morte do cachorrinho no Carrefour foi um ato desumano. A morte de milhões de bois diariamente não é?”

    Meu ponto de vista: não, não é. Cachorros e bois têm uma coisa em comum: são dois seres vivos artificiais. Nem um nem outro existe na natureza – não na forma como os conhecemos. Ambos foram desenvolvidos por seleção artificial, ao longo de mais ou menos 15 mil anos – e tiveram sua produção largamente acelerada nos últimos 200 anos.

    A diferença é que um animal foi construído para produzir volumes insanos de carne e de leite. O outro, para emular bebês humanos. Certos cãezinhos parecem bonecos porque, no fundo, é isso que eles são. Há 15 mil anos, passamos a alimentar e cuidar de lobos mais dóceis. Selecionamos os mais afáveis e dependentes para se reproduzir, e fomos matando os mais bravos, que mantinham o comportamento lupino, selvagem.

    Com o tempo, boa parte desses descendentes dos lobos já tinha sofrido mutações genéticas o bastante para se tornar cães de colo, “bolinhas de amor” absolutamente incapazes para a vida selvagem. Coloque um Shi Tzu na sua casa, e ele passará mais de uma década fazendo fofuras – contra uns poucos anos de um rebento de Homo sapiens –, porque foi geneticamente programado para ser um filhote eterno. Coloque um Shi Tzu na natureza, e ele será devorado por joaninhas.

    Entre os bois, o que chama a atenção é o tamanho da população. Há 1 bilhão de cabeças de gado no mundo. No Brasil, é uma cabeça de gado por habitante. Em estado natural, isso faria dos bois uma das espécies mais bem sucedidas em todos os tempos.

    Continua após a publicidade

    Não é o caso. Só existem um bilhão de bois porque há quem os coma. Não houvesse, teríamos uma população extraordinariamente menor – centenas de milhões de bois deixariam de existir. A atividade humana em relação aos bois não é de predação, é de engenharia biológica.

    Claro que há um dilema sobre se engenharia biológica é algo ético ou não. E isso vale para o mundo dos cães também. Os pugs, por exemplo, já nascem com uma doença respiratória séria, que os fazem sofrer ao longo da vida toda – tudo para que tenham aquele rosto redondo de bebê, que humanos instintivamente acham fofo.

    Meu ponto aqui, de qualquer forma, não é defender animais nem criadores de animais nem comedores de animais. É defender que não existe um debate completo, sobre nenhum assunto, sem a luz da psicologia evolutiva.

    E, à luz dela, cães fazem parte daquilo que chamamos de “humanidade” – sim, o conjunto dos humanos, para efeitos práticos, é formado por duas espécies, o Homo Sapiens e o Canis Familiaris (o Felis Catus também pleteia seu lugar, mas não perde o ar de quem está pouco se lixando para isso). Bois não. Não fazem parte do nosso círculo íntimo. Pés de alface, menos ainda. Esses, por sinal, só se ferram – e não são menos vivos que bois, cães ou bebês. Se você perguntar para um alface se o desejo da vida dele é ser comido no auge da vida adulta, ele provavelmente responderá que tinha outros planos para sua breve existência neste planeta, mas você irá matá-lo do mesmo jeito.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Oferta dia dos Pais

    Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

    OFERTA
    DIA DOS PAIS

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.