Petróleo cai abaixo de zero: US$ 40 negativos. Saiba o que isso significa
Isso só vale para o óleo vendido nos EUA com entrega em maio. O resto segue “normal”
Não existe um “preço do petróleo”. Há vários tipos de petróleo – dos mais leves, mais ‘líquidos’, bons para fazer combustível, aos mais pesados, barrentos, bons para fazer asfalto. Esses últimos tendem a ser mais baratos.
Bom, mesmo entre tipos iguais de petróleo você tem diferentes mercados. Uma refinaria dos EUA tende a comprar petróleo produzido por lá mesmo, para gastar menos com o transporte dos barris. Uma da Inglaterra tende a comprar dos produtores do Atlântico Norte, pelo mesmo motivo. E cada um vai ter seu preço.
Para não virar bagunça, instituíram-se dois preços de referencia. Um é o do petróleo do tipo West Texas Intermediate (WTI), produzido nos EUA, e que apesar do nome é um óleo leve (não “intermediário). E temos o Brent, do Atlântico Norte, e um pouco mais pesado.
Outra especificidade do mercado de petróleo: quase não existe pronta entrega. Você compra um barril para entrega em maio, ou em junho, ou em julho… E o próprio contrato é negociado. Eu não preciso ter barris de petróleo para vender petróleo. Se eu comprar um milhão de barris com entrega para julho, posso revender esse direito para você. É assim que esse mercado gira.
O que aconteceu, então? Os estoques de petróleo nos EUA estão cheios. As empresas que fabricam combustíveis (ou outros derivados do óleo) encheram seus galpões com a guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia, que baixou a cotação do WTI, do Brent e de qualquer outro tipo de petróleo. Com a demanda fraca no mundo inteiro, dado que está tudo quarentemado, não refinaram esse óleo ainda. Ele segue guardado.
Só que agora não há mais onde guardar barris nos EUA. O contratos para entrega de petróleo em maio vencem amanhã (21). O seja: quem sobrar com eles na mão vai ter o compromisso de receber uma entrega de barris, e não vai ter onde guardar.
Com isso, o preço do WTI foi caindo ao longo desta segunda (20) . Da casa dos US$ 20 para US$ 10, depois para US$ 5… Depois para zero. Mas ainda assim não era o bastante. Como o compromisso de arrumar um lugar para estocar os barris custa caro, não havia nem quem levasse o petróleo de graça. Os donos dos contratos com entrega para maio, então, passaram a PAGAR para se livrar do mico. Primeiro, US$ 2 por barril. Mais tarde US$ 40. Ou seja: o preço do WTI com entrega para maio caiu a -US$ 40.
Enquanto isso, o WTI com entrega para junho seguia a US$ 20; o Brent, a US$ 26 – pouco para uma mercadoria que até outro dia custava US$ 140, mas dentro do mundo racional, por enquanto. Mais um capítulo da maior e mais brusca crise de todos os tempos. Uma história que está sendo escrita neste exato momento.