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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Os buracos negros e o fim do tempo

Cada um deles encerra em si mesmo o fim de tudo o que existe, e que ainda ainda existirá. Entenda.

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Atualizado em 6 abr 2020, 18h49 - Publicado em 23 abr 2019, 18h00

Não é justo que buracos negros sejam famosos por engolir luz. É como se lembrar de Albert Einstein como um bom violinista – coisa que ele era mesmo; Elsa, sua segunda esposa, disse ter se apaixonado pelo maior físico da história depois que ele “tocou Mozart no violino de forma maravilhosa”.

Buracos negros têm de fato uma gravidade absurda o bastante para fazer com raios de luz aquilo que o ralo da pia do seu banheiro faz com a água da torneira. “Gravidade”, vale lembrar, não é exatamente uma força. Ela é a forma como sentimos distorções no espaço – não no espaço sideral, mas no “espaço” à nossa volta mesmo, aquele composto por uma dimensão de comprimento, uma de altura e uma de largura.

Um objeto com massa – seja um alfinete, seja a Terra, seja o Sol – entorta o “tecido do espaço”. Um raio de luz vindo de alguma estrela acaba desviado pela gravidade do Sol, pois é o próprio espaço pelo qual a luz se propaga que está se curvando. Tal curvatura, porém, é suave demais para tragar os raios, então eles passam pelo Sol como os pneus de uma Land Rover vencem um buraco de estrada.

Com um buraco negro é diferente. Ele entorta tanto o tecido do espaço que os raios de luz caem lá dentro e acabam presos para sempre. Daí a escuridão da coisa. Ilumine-o com uma lanterna e você não vai ver nada. Ele vai sugar os raios da lanterna. Mas, não, essa não é a propriedade mais interessante dos buracos negros.

A grande graça ali é outra: o fato de que o tecido do espaço também é o tecido do tempo, como descobriu o violinista Albert. Tanto que o nome oficial da coisa é “tecido espaço-tempo”. Um buraco negro, então, não engole apenas coisas.

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Ele devora o tempo.

Se você pudesse se aproximar do centro de um buraco, um segundo para você equivaleria a um século aqui na Terra. Se alguém pudesse te ver daqui, enxergaria o seu corpo como uma estátua. Congelado. Você precisa de quase um século para completar uma piscada de olho, afinal.

Depois piora. Cada centímetro a mais que você cai em direção ao centro do buraco aumenta esse déficit temporal. Mais um pouco e um segundo seu vai durar um milhão de anos na Terra. Depois um bilhão. Uma hora não vai mais ter Terra, nem Sol, nem Via Láctea. Nem nenhuma estrela acesa.

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Então todos os prótons e nêutrons do Universo decaem. Deixam de existir. Não sobra mais nada além de radiação pura. E escuridão. E frio. Enquanto isso, passou um minuto no seu relógio. E você não é só o último humano vivo. É a última coisa que existe no cosmos.

Cada buraco negro é um portal instantâneo para o fim de tudo. Olhar para a escuridão de um significa vislumbrar o momento em que o Universo voltará a ser nada. Por essas, aquela primeira imagem de um desses astros, divulgada em abril, é a foto mais importante da história. Uma imagem para apreciar ouvindo Mozart, com Einstein ao violino.


 


PS: A SUPER produziu um minidocumentário sobre buracos negros. Assista aqui 😉

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