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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Na biologia, evolução não significa progresso

A seleção natural não leva necessariamente a corpos mais aptos e cérebros maiores. Fosse assim, já estaríamos extintos.

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Atualizado em 30 out 2019, 17h06 - Publicado em 23 out 2019, 18h50

Charles Darwin não gostava da palavra “evolução”. Ele preferia “descendência com modificação” – um termo árido, só que bem mais preciso. “Evolução”, afinal, traz a ideia de “progresso”, de andar para a frente. E não é assim que a seleção natural funciona.

Há 60 milhões de anos, nossos antepassados nem tinham feições de macacos. Eram animais minúsculos, parecidos com camundongos – na verdade, mais semelhantes ao musaranho, o amiguinho insetívoro ali da foto.

Hoje, temos um cérebro 3 mil vezes mais pesado que o desses nossos avós fofos. Ele é uma rede de 100 bilhões de neurônios que, entre outras conquistas, descobriu que a Terra é redonda, que a Via Láctea é só uma das 200 bilhões de galáxias que habitam o Universo conhecido – e que o tal Universo conhecido é uma esfera com 874 bilhões de trilhões de quilômetros de diâmetro (93 bilhões de anos-luz, se você preferir uma notação mais científica).

Tendo em vista que camundongos e musaranhos ignoram absolutamente todos os fatos citados acima, dá para dizer que tivemos um belo progresso nesses 60 milhões de anos. Mas, de novo, “evolução”, na biologia, não significa “avanço”.

Os neandertais, por exemplo, eram criaturas admiráveis. Dominaram a Europa por 400 mil anos. Mas ficaram pelo caminho. Perderam a disputa por recursos para uma espécie fisicamente mais débil, menos adaptada ao clima frio e com cérebro 20% menor que o deles – o Homo sapiens.

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Logo, a evolução não é algo que sempre caminha para corpos mais aptos e cérebros maiores. Fosse assim, os extintos teríamos sido nós, não eles. Mais: quando a capacidade para a caça e para a luta corpo a corpo deixa de ser o agente mais determinante para a sobrevivência, o aprimoramento bruto apita menos ainda.

Exemplo: os milhões de anos de seleção natural em ambiente selvagem conferiram à humanidade um sistema de visão competente. Os hominídeos que enxergavam melhor caçavam com mais eficiência. Então viviam mais, deixavam um número maior de descendentes, e garantiram que os genes para olhos afiados se multiplicassem.

Hoje, ter olhos de lince não garante mais nada. Você pode nascer completamente míope e ter tantos descendentes quanto planejar.

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Mas não. Isso não significa que a evolução humana tenha estagnado. A seleção natural, entre outras forças, segue agindo sobre os nossos genes – e de forma surpreendente, como você pode ver aqui na reportagem de capa da SUPER de novembro. Boa leitura. E boa evolução.

ED-SUPER-409
(SUPER/Superinteressante)

 

 

 

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