Empregos voltam a surgir nos EUA – meses antes do esperado.
Recuperação da economia americana, ainda em plena pandemia, surpreende o planeta. Entenda porque isso é bom para o Brasil também.
A economia dos EUA parece estar saindo da UTI. O país criou 2,5 milhões de vagas de emprego em maio, depois de ter perdido 20,7 milhões em abril – o mês mais aterrorizante da história no que toca ao mercado de trabalho de lá.
Sim, isso não significa que a crise acabou. Os meses de março e abril elevaram o nível de desemprego por lá de praticamente zero (3,5%) para 14,7% – o maior desde 1940.
Agora, com esse respiro inesperado em maio, o índice de lá está em 13,3%. Ainda é o maior desde 1940.
Mas, claro, a boa notícia aí supera a má. A fauna global de analistas só esperava que a criação de vagas superaria a extinção lá para julho. A subida, portanto, veio dois meses antes.
Provavelmente é um efeito dos programas de estímulo à economia. O Fed (banco central dos EUA) injetou US$ 6 trilhões na praça. Foi dinheiro para todo canto.
Teve empréstimo a fundo perdido para pequenas empresas, com até 50 funcionários (que empregam metade dos americanos). Assumiram dívidas de empresas maiores – ou seja, se a companhia devia para um banco, o Fed foi e pagou para o banco. Teve um rio Amazonas de dinheiro que criaram para dar basicamente de graça ao sistema financeiro, e manter o crédito vivo.
O objetivo de todo estímulo econômico é um só: criar empregos. A princípio, então, está funcionando. Como os EUA representam 30% do PIB mundial, qualquer boa notícia que vem de lá é positiva para restante da Terra, Brasil incluído, claro. Nesta sexta (05), o dólar caiu para abaixo de R$ 5 pela primeira vez desde março. Parece paradoxal que bons sinais vindos dos EUA derrubem justamente a moeda dos EUA. É que o dólar funciona de forma diferente das outras moedas.
Quando não existe esperança na economia, as pessoas e empresas do mundo todo deixam de investir em coisas produtivas e fazem poupança em moeda americana, só pelo fato de ela ser mais segura que as outras (o Brasil, por exemplo, já teve moedas que perderam todo o seu valor, até a Alemanha já passou por isso; os EUA, nunca, daí a força da moeda deles). Dessa forma, então, uma notícia boa vinda da maior economia do mundo libera capital para outros destinos – Brasil incluído.
Mas e por aqui?
Bom, o desemprego não tinha subido tanto no Brasil. Ainda não temos os números de maio, mas até abril estava em 12,2% – só 1% acima da taxa do final de 2019. O plot twist é que essa não é exatamente uma boa notícia. Ela mostra que o índice de desemprego não é um bom termômetro para a nossa economia.
As vagas com carteira assinada caíram relativamente pouco – de 39 milhões antes da pandemia para 38 milhões agora. Por outro lado, 6 milhões desses empregados tiveram o salario reduzido ou suspenso, por conta da PEC que passou a permitir isso, editada em março.
E aí temos aquele copo meio cheio, meio vazio. A parte meio vazia é a óbvia: o número de desempregados pode não ter subido de forma alarmante entre quem tem carteira assinada, mas boa parte deles está hoje numa situação mais precária do que estava antes.
A parte meio cheia é aquela outra: esses 6 milhões poderiam ter perdido o emprego. Isso significaria uma extinção de 15% das vagas formais –uma redução parecida com a que aconteceu nos EUA.
Nosso buraco, de qualquer forma, fica mais embaixo. É que 60% da força de trabalho do país é informal. Para o IBGE, alguém que ganhe seu dinheiro fazendo malabarismo no semáforo é considerado como alguém devidamente empregado. E é claro que o ganho desse sujeito diminuiu ou zerou com a pandemia – o desse sujeito e o de basicamente todo trabalhador informal.
Esse é um mal que nada tem a ver com o coronavírus, claro. Trata-se de um problema estrutural. Com ou sem pandemia, estamos longe de encontrar uma vacina para acabar com ele.