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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Ano Novo, um presente da Suméria para você

As festas de fim de ano provavelmente começaram como uma forma de calibrar a contagem dos ciclos do Sol e da Lua.

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Atualizado em 27 dez 2019, 18h06 - Publicado em 29 dez 2017, 12h48

Existe um planeta em que o Ano Novo nunca cai a mesma data. Pode ser em dezembro, em julho, em março. Esse planeta é a Terra mesmo. E não estamos falando só do óbvio, o de que tem Ano Novo chinês, judaico, islâmico, polinésio. Só o Ano Novo muçulmano já cai sozinho numa data de cada vez.

Em 2008, a chegada do ano 1430 do islamismo foi comemorada em 29 de dezembro. Em 2009, o réveillon foi em 18 de dezembro. Em 2012, 15 de novembro. Em 2017, 21 de setembro. É que o ao islâmico não tem 365 dias. Tem 354.

Não se trata de uma arbitrariedade, claro. A tradição árabe não leva em conta o ano solar, que é o tempo que a Terra leva para dar uma volta em torno do Sol, mas o ano lunar, que corresponde a 12 ciclos da Lua. Os 12 ciclos de nova, crescente, cheia e minguante levam 354 dias (11 a menos que o ano solar). Logo, cada Ano Novo deles cai sempre 11 dias antes do anterior pelo calendário gregoriano. No limite, eles chegam a comemorar dois reveillons dentro de um ano dos nossos. Aconteceu em 2008, quando um Ano Novo caiu em janeiro e o outro, em dezembro.

A proximidade entre a duração de um ano solar e o de 12 ciclos lunares foi justamente o que fez praticamente todas as culturas humanas dividirem o ano em 12 meses, e cada mês em quatro semanas, com cada uma marcando mais ou menos uma fase da Lua. Os 11 dias de perda a cada ano, porém, criam um problema para quem só leva em conta a Lua: chega uma hora em que os meses do ano acabam caindo em estações diferentes. Se o nosso calendário fosse assim, daqui a algum tempo janeiro cairia no inverno e junho, no verão.

Esse certamente foi um dilema na aurora da civilização. Se você contasse só pela Lua, perderia a conta das estações. Se contasse apenas pelo Sol, deixaria de ter o relógio lunar. A primeira grande solução que se tem notícia começou justamente na primeira das grandes civilizações humanas – a Suméria, que floresceu por volta de 4 mil a.C. onde hoje fica o sul do Iraque. Além de criar a escrita, dando o ponta-pé inicial naquilo que chamamos de “história”, os Sumérios criaram uma festa peculiar: o Akitu, que consistia em 11 dias de comemoração pelo Ano Novo.

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Com esses dias de comemoração fora do calendário, você só começava a contar o ano seguinte 11 dias depois do fim do ano lunar, de 354 dias. 354 + 11 = 365. Pronto. A festa ajustava o calendário com os ciclos do Sol, e os meses permaneciam caindo sempre dentro das mesmas estações. Não há registro de que o Akitu ou as festas ainda mais antigas que lhe deram origem serviam exatamente para isso. Mas, dada a coincidência numérica, é extremamente provável.

Lá pelo ano 2000 a.C., os babilônios, herdeiros dos sumérios, passaram a adicionar um mês extra a cada três anos para manter a sincronia sem quebrar o calendário. Essa forma de contar os anos, calibrando os ciclos solares e lunares com um mês a mais de tempos em tempos, segue viva até hoje. Ela está no calendário judaico, criado com base no da Babilônia, e que trás um décimo-terceiro mês a cada três anos (a cultura judaica é tão filhote da babilônica quanto a romana é da grega – até os nomes de alguns meses é o mesmo).

O Ano Novo da Suméria acontecia em março, na época da colheita de cevada por lá. O judaico é em setembro (ou em outubro, dependendo do ano), marcando a época de plantar sementes. No norte da Europa, também comemoram essa temporada, mas com o nome de oktoberfest. Já o nosso fim de ano é em dezembro para bater com outra comemoração, a do solstício de inverno – o momento em que os dias começam a ficar novamente mais longos na parte de cima do globo, e que é tradicionalmente na última semana de dezembro (desde milênios antes do nascimento de Jesus, como todo mundo a essa altura já deve saber).     

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O calendário ocidental, que remonta à fundação de Roma, desencanou da Lua. Ele é 100% solar – os dias extras a cada 4 anos existem para equilibrar a duração do ano com precisão astronômica, já que um ano não dura 365 dias, mas 365,25; outra história, enfim.

O ponto é que a tradição de comemorar os finais de ano como uma pausa de vários dias provavelmente começou como uma forma de adequar os ciclos do Sol e os da Lua nos calendários das primeiras civilizações agrícolas. Se você está de folga nesses dias, faça um brinde a elas.

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