Você pode ser imortal
Nascer, reproduzir, morrer - eis o ciclo da vida. Mas isso é só por enquanto. A ciência está trabalhando para que ninguém mais morra de velho. E é possível que dê tempo de você entrar nessa
João Vito Cinquepalmi
Morte morrida é coisa que a Turritopsis dohrnii não conhece. A vida dessa espécie de água-viva só acaba se ela for ferida gravemente. Do contrário, a Turritopsis vai vivendo, sem prazo de validade. Suas células se mantêm em um ciclo de renovação indefinidamente, como se voltassem à infância. Podem aprender qualquer função de que o corpo precise. É uma verdadeira (e útil) mágica evolutiva. Parecida com a do Sebates aleutianus, um peixe do Pacífico conhecido como rockfish, e de duas espécies de tartaruga, a Emydoidea blandingii e a Chrysemys picta (ambas da América do Norte). Esse segundo grupo tem o que a ciência chama de “envelhecimento desprezível”. Suas células ficam sempre jovens, por motivos que a ciência ainda quer descobrir.
A imortalidade existe na natureza. Não tem nada de utopia. Pena que nós não desfrutemos dessa boquinha. Ao longo do tempo, nosso corpo se deteriora. Perdemos os melanócitos que dão cor aos cabelos, o colágeno da pele, a cartilagem dos ossos – ficamos grisalhos, enrugados, com dores nas juntas. Velhos. Numa sucessão de baixas, células e órgãos vão deixando de cumprir funções cruciais para o corpo. Até que tudo isso culmina numa pane geral. E nós morremos.
Para impedir que o corpo definhe desse jeito, o homem já tentou de tudo: de mumificação, no Egito antigo, a injeções feitas a partir de testículos de animais, na França do século 19. Só que agora estamos mais próximos do que nunca do sonho da imortalidade. Por causa dessas espécies highlanders, cientistas do mundo todo acreditam que nós também podemos ser imortais. E já têm propostas para isso, divididas em duas linhas: remédios – feitos para aprimorar nossa defesa contra a morte – e inovações tecnológicas que nos tornarão quase robôs. Sabe aquela expressão “de certo na vida, só a morte”? Parece que ela vai perder o sentido em breve. “Em 50 anos não vai mais existir definição para expectativa de vida. Teremos um controle tão completo do envelhecimento que as pessoas viverão indefinidamente”, diz Aubrey de Grey, geneticista da Universidade de Cambridge.
Não é uma tarefa fácil. Essa pesquisa está diretamente relacionada ao estudo do envelhecimento, que a ciência ainda não conseguiu destrinchar completamente. Pelo que se sabe, o corpo funciona como um carro. Depois de muito rodados, ambos acumulam defeitos. A diferença é que, quando quebra, nosso corpo dá um jeito de se consertar. Se você sofre um corte, o sangue estanca em minutos, não é? O problema é que essa manutenção segue bem enquanto somos jovens, mas vai perdendo a eficácia. Com o tempo, células param de se reproduzir, o corpo vai sofrendo ataques do ambiente… e a nossa máquina não dá conta de reparar tudo. Ficamos velhos, fracos, vulneráveis.
Para que possamos viver para sempre, esse sistema de reparos não pode parar. E já apareceu proposta de todo tipo pra isso. Se antes essas ideias eram tidas como fringe science – algo como “ciência marginal”, que tem mais de especulação do que de fato -, agora elas começam a ser vistas com seriedade. Tanto que acabaram de levar um Nobel.
Uma pista: o câncer
Aconteceu recentemente, em outubro de 2009. Três pesquisadores americanos ganharam o Prêmio Nobel de Medicina e US$ 466 mil, cada um, por terem começado a decifrar por que nossas células envelhecem. A chave está numa palavra: telômeros.”O processo de envelhecimento é complexo e depende de vários fatores. Os telômeros são um deles”, declarou a Fundação Nobel, ao anunciar o prêmio.
Pra quem não se lembra das aulas de biologia, aqui vai a cola: telômeros são os fragmentos da ponta dos nossos cromossomos, como tampinhas que os protegem. Quando uma célula se divide, essa tampinha tende a ficar menor – e a célula, a se deteriorar. O processo, repetido a cada divisão celular, faz com que ela envelheça. Ou melhor: que você envelheça.
Mas em células cancerosas isso não acontece: elas se dividem sem sofrer danos. Por quê? Graças a uma enzima que estimula a construção do telômero, a telomerase. Segundo os vencedores do Nobel, a telomerase trabalha mais nas células cancerosas do que em outras, e as protege. Basicamente, é essa enzima que torna o câncer tão poderoso.
Apesar de premiada só agora pelo Nobel, a descoberta é dos anos 80. E fez os cientistas pensar que a telomerase poderia prolongar nossa vida deixando células saudáveis tão resistentes quanto as cancerígenas. A pesquisadora Maria Blasco, do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas da Espanha, testou a hipótese com ratinhos. No seu estudo, ratos com mais telomerase nas células viveram até 50% mais do que os outros. Mas apresentaram mais tumores – acabavam morrendo de câncer. Em 2008, a equipe de Blasco conseguiu controlar a difusão das células cancerígenas, o que abriu espaço para a possibilidade de estudos com humanos. “Se pensarmos num aumento semelhante de expectativa de vida para pessoas, isso significaria morrer entre os 115 e os 120 anos”, diz a pesquisadora.
Ótimo. Mas calma lá: por que só até 120 anos, e não por toda a eternidade? É que, como o pessoal do Nobel disse, o envelhecimento é complexo. A telomerase ajudaria a aniquilar uma causa desse processo. Mas precisaríamos de armas diferentes para combater outras ameaças.
Lembra de como o corpo é parecido com um carro? Para que seu possante fique sempre em ordem, você o abastece regularmente com combustível, troca as peças, conserta as batidas… Não que ele vá ficar com cheirinho de novo, mas continuará rodando pra sempre se fizermos manutenção. No corpo, vale a mesma regra: cada iniciativa já proposta pela ciência para prolongar a vida só garante alguns quilômetros a mais se usada sozinha. Para chegar à imortalidade de fato, precisaremos é de um serviço completo, que ofereça todo tipo de reparo de que nosso corpo necessita.
Já para o conserto
Então a telomerase ajudará as células a não se deteriorar. Mas e se elas já tiverem sido maltratadas?
Aí partimos para outras ideias. Começando pelo básico: renovar o combustível. O geneticista britânico Aubrey de Grey, da Universidade de Cambridge, propõe que façamos isso com células-tronco. Injetadas periodicamente em nosso corpo, elas poderiam assumir o papel das células mortas e daquelas danificadas pelo processo natural de divisão celular. Como as células-tronco têm a capacidade de formar novos tecidos e órgãos, elas funcionariam como um remedinho, tomado de tempos em tempos no consultório do médico, para evitar e aniquilar doenças. “Faríamos um transplante periódico, e as células-tronco seriam iguais às originais de nosso corpo, só que novas em folha”, afirma De Grey. Resultado: teríamos órgãos jovens para sempre.
Não é algo tão distante da realidade. Células-tronco já são usadas na pesquisa de tratamento para doenças como diabetes e esclerose múltipla. O próprio Brasil tem bons resultados. No Centro de Terapia Celular, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, o pâncreas dos voluntários ao tratamento para diabetes voltou a fabricar insulina. E os pacientes deixaram de depender de injeções diárias.
Mas teríamos também de consertar os arranhões que levamos durante a vida. Como os causados pela comida. Não só fritura e carne vermelha, mas comida em geral. É que passar fome – acredite – faz todos nós viver mais.
Está provado desde os anos 30, quando a Universidade Cornell demonstrou que ratos submetidos a uma dieta 30% menor chegam a viver 40% mais. É um processo conhecido como restrição calórica, explicado por uma questão evolutiva. Sempre que o homem passou por momentos de escassez de alimentos na história, os mais adaptados às condições difíceis sobreviveram. A principal teoria é de que, quando passamos fome, nossas células entram num estado de alerta para otimizar os recursos que têm, como proteínas. “É como se o corpo tentasse se proteger do risco”, diz Randy Strong, farmacólogo da Universidade do Texas. Mas, não, ninguém vai ter de viver a pão e água por 300 anos. O que a ciência quer fazer é simular essa esperteza que o corpo adquire quando a fome aperta.
Dentro de 5 anos, já vai dar pra comprar “fome em pílulas” nas farmácias. É o que promete o laboratório Sirtris Pharmaceutical, se tudo correr bem com os testes de um novo remédio que a empresa vem desenvolvendo, baseado no resveratrol. O resveratrol é uma substância encontrada em alguns tipos de uvas (como a pinot noir) que imita a situação de restrição calórica no nosso corpo, de acordo com estudos do médico australiano David Sinclair, pesquisador da Harvard Medical School e cofundador da Sirtris. Na uva, a substância existe em concentrações muito baixas. O trabalho dos pesquisadores é colocar a maior quantidade possível em pequenas pílulas, que serão vendidas com uma grife da indústria farmacêutica: o nome da britânica GlaxoSmithKline, que pagou US$ 720 milhões em 2008 para comprar o Sirtris e virar dona da pesquisa.
As pílulas são a primeira droga contra o envelhecimento testada em humanos. Idosos diabéticos estão recebendo o medicamento, e a expectativa é de que a doença seja curada. Se tudo der certo, as pílulas poderão nos dar cerca de 10 anos extras de vida. O mesmo bônus de vida que cientistas prometem com a rapamicina. Usada contra alguns tipos de câncer e para suprimir o sistema imunológico de quem passa por um transplante, a droga agora é vista como um novo simulador de “fome”. Em ratos, conseguiu prolongar a vida em 30%. Promete ser um concorrente do resveratrol no futuro mercado de restrição calórica.
Mas comida é só um dos fatores que geram danos ao nosso corpo: até respirar faz mal. É que o oxigênio é um dos mais potentes radicais livres, como são chamadas as moléculas que circulam pelo nosso corpo com elétrons instáveis, prontos para roubar elétrons de outras moléculas. Quando os radicais livres conseguem fazer o roubo, as células atacadas ficam danificadas. Envelhecem. É como se tivessem sido tomadas por ferrugem. Até temos um antídoto contra isso: nós produzimos antioxidantes que nos defendem. O problema é que, com o tempo, essa produção cai e ficamos vulneráveis. Até porque sofremos um bombardeio de radicais livres, como o que vem dos alimentos e do ar.
Se conseguirmos fortalecer as ligações químicas e evitar a ação dos radicais livres, dá para evitar que as células envelheçam. É a tese do cientista russo Mikhail Shchepinov, fundador da Retrotope, companhia que pesquisa o assunto. O que ele sugere é que nos alimentemos com comida ou bebida “enriquecida”, ou seja, com moléculas resistentes aos radicais livres que já estiverem no nosso corpo. Água, por exemplo, é um alvo fácil para os radicais – eles quebram a ligação entre os átomos de hidrogênio e o de oxigênio. A molécula de água absorvida pelas células acaba danificada. Por isso, Shchepinov toma, todos os dias, um golinho de uma água diferente – a fórmula dela não é H20, e sim D20. Ao contrário do hidrogênio (H), o deutério (D) tem uma ligação forte com o oxigênio – e mais resistente aos roubos. Segundo o pesquisador, cada gole combate o envelhecimento. Falta saber o quanto podemos tomar sem provocar efeitos tóxicos no corpo.
São só os primeiros passos rumo à imortalidade. Pra vencer a morte, muitos cientistas acreditam que nos transformaremos em máquinas mesmo. Do tipo que troca porcas e parafusos sempre que dá pau.
Você, versão tech
De uma forma, já vivemos essa realidade. Basta pensar no marca-passo. Mas o que se espera para o futuro é mais sofisticado: produção em massa de órgãos. A Escola de Medicina da Universidade de Wake Forest, nos EUA, está criando bexigas artificiais. Quer dizer, naturais, mas cultivadas fora do corpo. São feitas a partir de células da bexiga que será substituída. E ficam prontas em dois meses.
O autor dessa pesquisa é o médico peruano Anthony Atala. Em 2004, quando era pesquisador de Harvard (hoje é professor e diretor do Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade de Wake Forest), Atala começou a “cultivar tecidos”. Em um prato, fez as células se dividir até conseguir um tecido de proporções gigantescas. Aí criou um molde de uma bexiga. Nele, colocou células da própria bexiga na parte interior e células musculares na exterior, fazendo com que elas crescessem. Deu certo. Dois anos depois foi feito o primeiro transplante, em uma criança. A equipe dele passou a fazer tentativas com outros tecidos e já obteve sucesso com cartilagem e veias.
Para consertos menores, outra solução: um exército de robôs-médicos dentro de nosso corpo para arrumar qualquer defeito. Já existem experimentos na Rice University, nos EUA. Pesquisadores criaram estrututuras microscópicas, pequenas cápsulas, capazes de levar remédio pela corrente sanguínea até células cancerígenas. E sem afetar as sadias.
Esses nanorrobôs podem ter o tamanho de células humanas, ou ser ainda menores. Eles se espalhariam pela corrente sanguínea, limpando nossas artérias muito antes de elas chegarem perto de entupir. Vão também ser capazes de destruir vírus, bactérias, células cancerígenas antes que nosso corpo sofra qualquer dano. Funcionariam como novas pecinhas, responsáveis pela faxina no organismo. “Em duas décadas, os nanorrobôs vão fazer as mesmas funções que as nossas células ou tecidos, mas com uma precisão infinitamente maior”, escreveu o futurologista americano Ray Kurzweil, no livro Transcend, lançado em 2009. (Kurzweil não é qualquer um: previu, nos anos 80, o que seria a internet hoje.)
Se isso parece futurista demais, veja o que está sendo preparado para o cérebro. O neurocientista Anders Sandberg, da Universidade de Oxford, quer fazer um download dos nossos pensamentos. O cérebro seria transformado em um software, com todas as habilidades da versão original.”O programa faria a função de alguma área danificada ou poderia ampliar nossa capacidade de aprendizado e memória.” Para isso, será preciso conhecer exatamente o funcionamento de nossa cabeça. E Sandberg pretende fatiar um cérebro em micropedaços para descobrir a função de cada um.
Com esse arsenal já em produção, estamos no caminho para a imortalidade do corpo e da mente. Será o fim de uma das maiores buscas do homem. E a primeira era de um novo mundo – no qual a morte deixará de cumprir seu papel.
Aí, vencer a morte terá sido só a primeira etapa. A imortalidade trará mudanças profundas na forma pela qual nos relacionamos com a família, com o trabalho e até com nós mesmos. (Veja o quadro da página 49.) Hoje a longevidade da população já é um dos maiores problemas do planeta em termos de espaço, empregos e previdência – a população de centenários deve chegar a 2,2 milhões em 2050 (eram 145 mil em 1999). E isso se a imortalidade não chegar antes. Portanto, prepare-se para uma vida completamente diferente. Mas não se preocupe por enquanto você terá séculos para se acostumar com ela.
A luta contra a morte
Durante 1 000 anos de estudo, a ciência entendeu, aos poucos, como adiar o fim da vida
1000
Nada de limpeza ou dieta: o pessoal compartilhava as casas com animais e comia a valer, numa dieta de pães, queijos e cerveja.
1675
O cientista holandês Antony van Leeuwenhoek descobre uma das maiores causas de mortes da época: as bactérias. Mas só no século 19 é que se descobriu a relação delas com nossas doenças.
1785
Morre a primeira pessoa registrada como a mais velha do mundo: o norueguês Eilif Philipsen, com 102 anos.
1796
Testes com o que seria considerada a primeira vacina. O médico inglês Edward Jenner percebe que uma pessoa contaminada pela varíola bovina – forma mais branda da doença – não pegaria a humana. Na época, 40% dos infectados pela doença não sobreviviam.
1850-1885
Louis Pasteur desenvolve a pasteurização, que elimina micróbios dos alimentos.
1854 Descoberta de que uma epidemia de cólera em Londres foi causada por água contaminada. É o primeiro passo para o desenvolvimento dos sistemas de saneamento, um grandes motivo para o aumento da expectativa de vida no século 20. 1895 Criação do raio X, que permitiria diagnósticos mais precisos de doenças como tuberculose.
1900
O homem só prolongou sua vida média em 7 anos desde o ano 1000, por ainda ser um novato em questões de higiene e saneamento. (Só no fim do século 19, por exemplo, prova-se que médicos deveriam lavar as mãos com cloro antes de fazer um parto.)
1928
Aos 113 anos, morre a americana Delina Filkins, que manteve o recorde de mulher mais velha do mundo até 1955. Ela viveu toda a vida dentro de um raio de 16 quilômetros da fazenda em que nasceu.
1929
Alexander Fleming descobre a penicilina, 1º antibiótico do mundo. Começaria a ser ministrada em pessoas 10 anos depois.
1953
Os cientistas James Watson (americano) e Francis Crick (inglês) publicam um artigo sobre a estrutura em espiral do DNA, que ajuda a entender a herança genética.
1997
Aos 122 anos, morre a francesa Jeanne Louise Calment, a pessoa que mais viveu no mundo até hoje. Louise andou de bicicleta até os 100 anos e morou sozinha até os 110. Dizia que azeite na comida, vinho e chocolate a ajudaram a viver mais.
2003
Conclusão do mapeamento genético humano, o que poderá permitir a identificação de genes causadores de doenças.
2008
Recorde na quantidade de pessoas com mais de 110 anos no mundo: 92 supercentenários. Em 1990, eram 28 pessoas. Em 1980, 11.
2010
Expectativa de vida: 68 anos. A japonesa Kama Chinen é atualmente a pessoa mais velha do mundo, com 114 anos.
2015-2020
O mundo terá mais idosos (acima de 65 anos) do que crianças pela primeira vez.
2040
Estimativa de 1,3 bilhão de pessoas com mais de 65 anos – eram 506 milhões em 2008.
Os remédios
As pílulas, injeções e medicamentos que impedirão o envelhecimento das células do seu corpo
Injeções de telomerase
Impedem que as células definhem
Sem telomerase, nossas células correm riscos a cada divisão celular. Durante o processo, os cromossomos presentes nelas podem ser mutilados. Danificadas, as células envelhecem. Doses periódicas de telomerase garantiriam que os cromossomos ficassem inteiros.
Previsão de uso: 2025
Células-tronco
Renovam nosso estoque de células
São células que podem recuperar tecidos danificados e fazer o trabalho de outras que tenham morrido ou sofrido danos (como os gerados na divisão celular). Injeções de células-tronco poderão virar tratamento de rotina em consultórios.
Previsão: 2025
Fome em pílulas
Simulam a falta de alimentos no corpo
A restrição calórica faz com que o corpo entre em alerta, descartando proteínas danificadas e protegendo as células de radicais livres. Remédios que induzem esse estado de alerta já estão em testes com humanos.
Previsão: 2015
Água pesada
Protege as células dos radicais livres
Radicais livres são moléculas que roubam elétrons de outras, danificando-as. Para evitar o “furto”, átomos têm de estar fortemente ligados entre si. Na água, a ligação entre oxigênio e hidrogênio é vulnerável. Se trocamos hidrogênio por deutério, a molécula fica mais resistente. Uma fórmula da água com deutério já está em testes.
Previsão: 2020
Fontes David Sinclair, Ray Kurzweil, Retrotope.
As peças e os robôs que vão se incorporar a seu corpo para que ele dure mais
Órgãos artificiais
Peças sobressalentes
Se algum órgão der defeito, bastará criar um novo. Assim: células do paciente são retiradas e cultivadas em laboratório. Com a ajuda de moldes, cria-se o órgão artificial. Bexigas já estão sendo produzidas assim nos EUA.
Previsão: 2015
Nanor Robôs
Faxineiros dentro do corpo
Um exército de robôs-médicos, do tamanho de células, arrumaria os defeitos do nosso organismo. Limparia artérias e destruiria vírus, bactérias e tumores, antes que nosso corpo sofresse qualquer dano.
Previsão: 2030
Você imortal
Ninguém vai virar um Matusalém. Nosso corpo continuará jovem e teremos muito trabalho pela frente
1. CORPO
A imortalidade dará a você o corpinho que quiser. Nada de plástica – é que conseguiremos repor tudo o que estiver gasto no corpo. É a perda de células que faz você ter careca e cabelos brancos, por exemplo. Se as repusermos no futuro com injeções de células-tronco, sua cabeleira manterá o viço. Vai dar até para reverter sinais da idade. Nanorrobôs na corrente sanguínea eliminarão toxinas e dejetos que estejam poluindo o corpo. “As pessoas que receberem essas terapias vão se parecer exatamente com os jovens adultos de hoje”, diz Aubrey de Grey, geneticista da Universidade de Cambridge.
2. TRABALHO
Aposentar-se por idade no Brasil significa descansar só nos últimos 10% da vida, em média. Se chegarmos aos 300 anos de idade, a labuta irá até os 270. Isso se o governo quiser pagar aposentadoria. Afinal, você continuará jovem e produtivo o suficiente para pegar no batente. Para não morrer de tédio – de tanto trabalhar na mesma coisa -, o jeito vai ser exercer profissões diferentes. “Será possível ter mais de uma carreira ou aprender vários idiomas. O homem terá uma sabedoria jamais vista”, diz Anders Sandberg, neurocientista da Universidade de Oxford.
3. FAMÍLIA
No mundo dos imortais, só se morrerá por acidentes muito graves e que não possam ser consertados a tempo. Por isso, sua família vai crescer: você vai conviver até com seu tataravô. As famílias vão ficar enormes, até porque as pessoas terão mais casamentos. Hoje os casais brasileiros vivem 11 anos juntos, em média. Um novo casamento acontece cerca de 3 anos depois da separação. Nesse ritmo, chegaríamos aos 500 anos com uns 32 casamentos nas costas.
Manual para viver mais
Não existe lugar com porcentagem maior de centenários do que o arquipélago de Okinawa, no Japão: são 58 em cada 100 mil habitantes. (Em países desenvolvidos, o número fica entre 10 e 20.) Uma das chaves da longevidade é a alimentação com pouco açúcar, gordura e sal – um prato típico leva tofu, peixe e vegetais. Okinawanos têm 80% menos câncer de mama e próstata do que americanos, por exemplo. Veja como você também pode chegar lá.
Alimentação correta
“Uma dieta rica em frutas e legumes antioxidantes (como mamão e cenoura), azeite de oliva, aves e peixes dá 50% mais chance de viver mais”, diz o neurocientista americano Gary Small, diretor do Centro de Pesquisa em Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia, nos EUA. Uma pesquisa feita em Atenas pela Escola de Saúde Pública de Harvard comprova a tese. Gregos que faziam uma dieta semelhante à que Small recomenda viveram 25% mais do que outros.
Estresse
Radiação, calor e frio podem estimular reações de proteção benéficas para o corpo, como a ativação do sistema imunológico. O mais difícil é acertar a dose. “Um pouco do ruim pode fazer bem, mas muito do ruim vai fazer mal”, diz a bióloga Joan Smith-Sonneborn, da Universidade de Wyoming.
Exercícios para o cérebro
Leitura, palavras cruzadas ou jogos de tabuleiro podem diminuir em 30% o risco de mal de Alzheimer, segundo o cientista Gary Small. Mas a questão é polêmica – muitos cientistas alegam que ainda é preciso fazer mais estudos para comprovar a tese.
Sociabilidade
Uma companhia estimula atitudes positivas em relação à vida, como parar de fumar. E vale todo tipo de companhia: parentes, amigos, namorados. O casamento é a relação que dá mais resultado. Uma pessoa idosa e casada que tenha problemas cardíacos vive 4 anos a mais, em média, do que um velhinho saudável e solteiro, segundo um estudo da Universidade de Chicago.
Otimismo
Atitudes mais positivas em relação à vida nos fazem viver mais. Velhinhas com mais esperança eram as que tinham menos problemas cardíacos em um estudo realizado durante 8 anos pela Universidade de Pittsburgh com 100 mil idosas.
Ending Aging
Aubrey de Grey e Michael Rae, 2007, St. Martin’s Press.
Transcend
Ray Kurzweil e Terry Grossman, 2009, Rodale.
The Okinawa Program
Bradley Willcox, Craig Willcox, Makoto Suzuki, 2002, Three Rivers Press.