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Tudo que comemos causa câncer. Tudo cura câncer também.

Não é piada, é sério. Um estudo feito por pesquisadores de Harvard e Stanford mostram por que é preciso tomar muito cuidado quando se lê notícias sobre saúde fora de contexto.

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 11 mar 2024, 10h36 - Publicado em 18 Maio 2016, 13h15

Café causa câncer. Café cura câncer. Causa, cura, causa, cura, caura, cusa.

Eu sei. Está confuso acompanhar as pesquisas sobre a relação entre os alimentos e a saúde. A cada dia bomba no Facebook uma manchete diferente, muitas vezes em direta contradição com a manchete anterior (e sim, algumas dessas manchetes são aqui da SUPER). E, enquanto isso, ovo, bacon, manteiga, soja, queijo, sal, óleo vão revezando-se nos papeis de herói e vilão, para nossa confusão.

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Dois médicos americanos, das universidades de Harvard e Stanford, recentemente ajudaram a jogar luz sobre o problema, com um estudo bem bolado. Para começar, eles pegaram um livro de culinária, selecionaram aleatoriamente algumas receitas e listaram 50 ingredientes lá encontrados. Aí fizeram uma extensa pesquisa na literatura médica para encontrar todos os estudos relacionando o consumo de cada uma dessas 50 comidas com a incidência de câncer. O resultado pode ser sintetizado assim:

Diminui ou aumenta o risco de câncer?

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Para entender o gráfico acima, imagine que cada um dos pontinhos é uma pesquisa que relaciona a ingestão de um alimento ao risco de ter câncer. Essas pesquisas são feitas assim: os cientistas dividem um grupo de pessoas em dois. Um deles ingere o tal alimento, o outro não, e então os dois grupos são acompanhados por um longo período, de anos, para que os cientistas possam contar o número de pessoas que teve câncer e o número que não teve. Se os dois grupos tiverem incidência idêntica da doença, o pontinho aparece bem em cima dessa linha preta no meio do gráfico. Se o alimento estiver relacionado a um índice menor de câncer, o pontinho fica à esquerda da linha – e à direita se estiver relacionado a um índice maior.

O que os cientistas conseguiram mostrar é que pontinhos individuais no gráfico não significam praticamente nada. A imensa maioria das pesquisas mostram que comer cebola reduz a incidência de câncer – e, no entanto, é possível encontrar uma pesquisa que mostra que ela aumenta muito esse risco. Se pegarmos pesquisas isoladas, é possível afirmar que praticamente todas as comidas causam câncer – e também que todas as comidas curam câncer (a tabela mostra apenas os alimentos sobre os quais se encontrou dez pesquisas ou mais).

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O objetivo do estudo não é mostrar que pesquisas científicas são inúteis, claro. Elas não são. Ao longo dos anos, vários pontinhos individuais vão se acumulando, e padrões vão aparecendo. Por exemplo, olhando o gráfico acima fica fácil constatar que azeite de oliva, cenoura e tomate pelo jeito protegem mesmo contra o câncer – enquanto que bacon, açúcar e pão parecem ser nocivos. O problema é que cada bolinha do gráfico é anunciada pela mídia como se fosse a verdade inteira, sem contextualização nem análise crítica. E isso não é culpa só dos jornalistas. Os cientistas também têm uma tendência de fazer afirmações bombásticas – porque sabem que dessa maneira seu trabalho repercute mais.

Aqui na SUPER, sabemos que o público adora sair clicando na última novidade, tipo manteiga não causa mais infarto, ovo não é mais ruim para o colesterol, ou água emagrece – e certamente não resistimos à tentação de oferecer essas coisas. Tentamos ao menos incluir nos textos um pouquinho de contextualização, mostrando como cada pesquisa é feita e comparando os resultados com estudos anteriores. Mas quer um conselho? Não confie demais em ninguém, nem mesmo em nós. Procure ler o maior número possível de pesquisas e tente não se influenciar demais por dados tirados do contexto. Em ciência, nada é definitivo. E, por via das dúvidas, tente não exagerar com nada – vai saber o que vão descobrir amanhã sobre os seus hábitos de hoje…

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