Todos parentes

Thais de Oliveira

Pense num elefante. Agora imagine um peixe-boi. Um chacoalha o chão das savanas africanas e das florestas da Ásia, o outro espirra água pelos rios e mares do mundo. Você diria que esses bichos tão diferentes – exceto pelo corpanzil exagerado – são parentes? Pois, a julgar pelo que anda dizendo o biólogo molecular Wilfried de Jong, da Universidade de Nijmegen, Holanda, eles são. E não é só. Jong está agrupando na mesma classificação uma porção de animais até então tidos como não relacionados: entre eles o porco-da-terra, uma espécie de tamanduá sul-africano; o hyraxe, um tipo de coelho asiático; a toupeira; e até o pequeno musaranho, que não passa de 50 gramas, 100 000 vezes menos que o elefante.

Tudo porque o holandês encontrou em todos três seqüências de DNA idênticas. Com base na semelhança genética, Jong decretou a existência de uma nova superordem dentro do filo dos mamíferos: a Afrotheria. A nova classificação está causando polêmica entre os cientistas. Muitos discordam dos critérios de Jong e protestam contra a classificação feita exclusivamente a partir de análises moleculares, sem levar em consideração os traços físicos.

A nova superordem é imensa. “Quase um terço dos principais agrupamentos ou ordens de mamíferos pode ser jogado dentro da Afrotheria”, afirma Jong. Por essa lógica, a brasileiríssima anta, não pesquisada por Jong, poderia ser também incluída no grupo.

Mario de Vivo, especialista em mamíferos do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, levanta um problema. “Já se sabe que as seqüências de DNA sofrem grande taxa de mutação e substituição aleatória, portanto não são totalmente confiáveis. Se ele apresentar provas morfológicas de estrutura anatômica entre todos os animais, como já existe entre o damão e o elefante, posso ficar convencido. Por enquanto não estou”, afirma. Sem dúvida nenhuma uma polêmica de peso.

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