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“Tinder genético” proposto por pesquisador de Harvard é acusado de eugenia

Geneticista se defende e diz que o objetivo é evitar crianças com doenças hereditárias

Por Maria Clara Rossini
20 dez 2019, 18h24

Imagine entrar em um aplicativo de relacionamento e encontrar um parceiro perfeito, com todas as características, gostos e personalidade que você sempre sonhou? Legal, não é? Mas e se você descobrisse que o app também dá uma vasculhada nos genes da pessoa? Aí começa a complicar. 

O geneticista George Church, da Universidade de Harvard, está desenvolvendo uma espécie de “Tinder genético”, que exclui as pessoas que não são consideradas compatíveis com o usuário. Segundo ele, a ideia é que o aplicativo junte casais para evitar que tenham filhos com doenças hereditárias.

Um exemplo seria a doença de Tay-Sachs. Ela se manifesta cedo e destrói células do cérebro e da medula espinhal, o que leva a criança à morte por volta dos 4 anos de idade. Por ser uma doença recessiva, ela só é transmitida quando o pai e a mãe possuem o gene. Evitando que o casal se encontrasse, também seria possível evitar o nascimento de um filho com o problema.

O mecanismo não seria muito diferente do Tinder. O aplicativo mostraria várias pessoas e você poderia curtir as que mais tem a ver com você. A diferença é que algumas pessoas consideradas “incompatíveis” não apareceriam na sua tela, pois vocês dois possuem genes que poderiam gerar um filho com uma doença indesejada.

Mas esse debate é bem mais complexo do que parece. Outros pesquisadores e profissionais vêm acusando o aplicativo de eugenia. Afinal de contas, não são só doenças que são transmitidas geneticamente, mas também características físicas, como cor dos olhos, cabelo e pele. O aplicativo abre margem para que as pessoas possam selecionar quais características querem ou não para seu filho.

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Em entrevista ao The Daily Beast, Church diz que a função só estaria disponível para assinantes premium, ou seja, quem pagar pelo serviço dentro do aplicativo. Ele também afirma que o software não teria acesso ao genoma completo do usuário, mas apenas aos alelos relacionados a doenças.

De acordo com a pesquisadora em bioética Elizabeth Yuko, também ouvida pelo jornal, algumas questões ainda precisam ser respondidas. “Quem decide quais doenças são desejáveis ou não? Isso é classificar as pessoas em humanos aceitáveis e inaceitáveis.”

Church diz que as únicas doenças a serem evitadas seriam aquelas que levam à morte prematura, como a Tay-Sachs, o que economizaria um trilhão de dólares mundialmente. No total, ele prevê que 5% das pessoas seriam excluídas da lista de possíveis parceiros no aplicativo.

O geneticista anunciou estar trabalhando na startup em uma entrevista para o programa 60 minutes, exibido nos Estados Unidos. O projeto está sendo financiado por investidores privados, o que não inclui a Universidade de Harvard. No entanto, ele não disse em que fase está o processo de desenvolvimento.

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