Tijolos do corpo
Existem 100 000 tipos de proteínas no seu corpo. São peças essenciais do organismo, responsáveis por tudo o que acontece dentro dele. A próxima grande jogada da Biologia é descobrir a fisionomia e a função de todas elas.
Ivonete D. Lucírio e Flávio Dieguez
Assim que você começa a ler esta reportagem, três substâncias dentro do seu corpo trabalham para ajudá-lo. A hemoglobina corre pelo sangue para pegar oxigênio nos pulmões e levá-lo às células dos olhos e do cérebro, dando-lhe energia necessária à leitura. Ao mesmo tempo, a miosina estica e encolhe os músculos da cabeça para que sua vista possa seguir as palavras. Enfim, um composto chamado receptor de serotonina controla a entrada e a saída de sinais dos neurônios, por meio dos quais você compreende as frases.
Energia, movimento e raciocínio – nada mal para simples moléculas, certo? Pois assim são as proteínas, nome da categoria química à qual pertence o trio que você acaba de conhecer. Espertas e habilidosas, compostas de dezenas de milhares de átomos cada uma, as substâncias dessa categoria não são fragmentos inertes de matéria. Elas funcionam como micromáquinas biológicas e tomam conta de tudo no organismo.
Algumas fazem o papel de tijolos. Servem para montar os órgãos, os ossos, a pele ou os cabelos. Outras, como operárias, executam as tarefas vitais – carregar oxigênio, abrir portas das células ou acionar músculos são apenas três das atividades que elas administram, incansáveis. Para se ter uma idéia, o corpo dispõe de 100 000 moléculas diferentes, uma para cada função essencial. No total, tirando a água, elas representam três quartos do seu peso, ficando apenas um quarto para o resto, como açúcares, gorduras, ácidos, sais minerais etc. Sem exagero, as proteínas são você, leitor.
Apesar disso, é como se não soubéssemos direito quem somos, já que apenas 1% das proteínas humanas estão identificadas. Por isso, a nova missão da ciência é descobrir que cara tem e o que faz cada molécula desse tipo existente no organismo. Um desafio equivalente ao do Projeto Genoma, que busca mapear os genes humanos. “Vai ser um passo gigantesco à frente”, confirmou à SUPER o microbiologista Ian Booth, da Universidade de Aberdeen, na Escócia.
Os bioquímicos têm anos de trabalho pela frente. Mas, quando ele estiver pronto e acabado, vai ser como olhar no espelho e ver a nossa verdadeira fisionomia.
Retrato de uma molécula enrolada