Supostos benefícios de microdoses de LSD podem ser apenas efeito placebo, diz estudo
Enquanto algumas pessoas alegam que o alucinógeno aumenta o foco e produtividade, pesquisadores não viram diferença entre o LSD e uma cápsula vazia
Consumir pequenas doses de LSD virou moda entre alguns profissionais no Vale do Silício. Não porque os funcionários da Apple ou Google quisessem ter alucinações durante o trabalho, mas porque diziam que a droga aumenta o foco e concentração. A ciência, no entanto, ainda sabe pouco sobre os efeitos das microdoses de LSD no organismo – se é que existe algum. Um novo estudo sugere que o pico de produtividade sentido pelos usuários não passa de efeito placebo.
A pesquisa foi realizada pelo Imperial College de Londres e envolveu 191 voluntários – todos eles já costumavam usar microdoses de drogas alucinógenas. Enquanto uma dose recreativa de LSD contém 100 µg (microgramas), a microdose, usada para supostamente “afiar a mente”, tem cerca de 10 µg.
Os participantes foram divididos em três grupos. Um deles ingeriu cápsulas com dietilamida do ácido lisérgico (mais conhecida como LSD) durante quatro semanas. Outro grupo tomou uma cápsula semelhante, mas sem nenhuma substância ativa. O terceiro usou o alucinógeno por duas semanas, e o placebo por outras duas.
Durante a experiência, os voluntários preencheram questionários informando como estavam se sentindo e fizeram testes cognitivos online. Tanto o grupo que tomou a dose quanto o grupo que tomou o placebo apresentaram melhora de bem-estar, criatividade, ansiedade e outros aspectos psicológicos. Os que tomaram o regime meio a meio não mostraram diferenças significativas.
“Os resultados sugerem que os benefícios das microdoses não vêm da droga, mas são influenciados pelo efeito placebo”, diz o autor Balázs Sziget, do Centro de Pesquisas em Psicodélicos da Imperial College, em nota. Isso acontece quando a pessoa já espera que a substância faça algum efeito – aí o resultado é mais influenciado pela expectativa do usuário do que pelo fármaco em si.
Muitos participantes que tomaram cápsulas vazias achavam que estavam sob efeito do LSD. Ao final do estudo, os pesquisadores revelaram quem tomou o quê, e alguns deles ficaram surpresos ao descobrir que estavam no grupo placebo.
Segundo o artigo, trata-se do maior estudo controlado com placebo sobre o uso contínuo de psicodélicos. Outros estudos, com poucos participantes, já relacionaram a microdosagem com aumento da atenção e até resistência à dor. Outros grupos estudam os possíveis efeitos de terapias com alucinógenos para depressão e ansiedade.
Estudo “auto-cego”
Um dos principais empecilhos do estudo era justamente conseguir o LSD, já que a substância é ilegal no Reino Unido, onde foi feita a pesquisa. A solução foi usar as doses que os próprios participantes já haviam conseguido por meio do mercado clandestino.
O estudo foi iniciado em 2018, quando começou a recrutar voluntários que utilizassem microdoses. Das 1.630 pessoas que se candidataram, apenas 191 seguiram na pesquisa até o fim. Eles próprios prepararam as cápsulas com o LSD e as colocaram em envelopes com QR codes, seguindo as instruções de um vídeo.
Depois, os envelopes foram misturados e os pesquisadores instruíram os participantes em relação a qual envelope deveriam tomar a cada dia, de acordo com o regime estabelecido. Dessa forma, os voluntários não sabiam se estavam tomando a dose usual de LSD ou só uma cápsula com ar.
Os pesquisadores reconhecem que esse método não é tão rigoroso quanto um típico estudo clínico realizado em laboratório, já que os participantes tomaram a substância em casa. Além disso, os pesquisadores não conhecem a qualidade e pureza da droga, já que não é possível rastrear sua origem.
Os resultados ainda devem ser validados por outras pesquisas, em que um número grande de participantes possa receber as microdoses legalmente, em um ambiente controlado.