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Saguis chamam uns aos outros por nomes, descobre estudo

Até então, esse tipo de comportamento complexo só era conhecido em humanos, golfinhos e elefantes.

Por Bela Lobato
Atualizado em 8 out 2024, 09h37 - Publicado em 29 ago 2024, 18h00

Quando checaram os resultados pela primeira vez, a equipe de neurocientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, não acreditou no que via. Coordenados pelo estudante de pós-graduação Guy Oren, os pesquisadores repetiram então uma série de experimentos, e todos conduziram sempre à mesma conclusão: os macacos saguis chamam uns aos outros por nomes próprios, assim como humanos.

“Quando começamos esse projeto, pensei que até poderia ser promissor, mas achei um pouco ingênuo”, conta o pesquisador David Omer em entrevista à Super. “Quando olhei para a tela, vi o resultado e parecia bom demais para ser verdade. Fiquei muito animado para fazer mais experimentos e verificar se era isso mesmo.”

E era: a descoberta foi publicada hoje na revista Science, e descreve um comportamento que, até então, só era conhecido em humanos, golfinhos e elefantes. Nem os nossos parentes evolutivos mais próximos – chimpanzés, gorilas e orangotangos – usam nomes para chamar uns aos outros, até onde sabemos.

Nativos da Mata Atlântica brasileira, é provável que você já tenha visto – ou ouvido – algum sagui. Os guinchos altos e agudos desses macacos são utilizados para se comunicar com companheiros de espécie, como para informar a própria localização ou alertar para a presença de um perigo ou a existência de comida. Agora, cientistas descobriram que as vocalizações dos saguis são muito mais complexas do que isso.

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Funciona mais ou menos assim: há um trecho do guincho que informa quem chama e outro que informa quem é chamado. Esses nomes fazem sentido apenas entre as famílias, como um apelido carinhoso. Nas relações com um animal de uma família diferente, um sagui pode reconhecer o som que a outra família usa para falar dele – como quando você tem um apelido em casa e outro com os amigos da escola.

Os pesquisadores acreditam que esses guinchos podem ter evoluído para ajudar os animais a se manterem conectados em seu habitat de floresta tropical densa, onde nem sempre é possível enxergar os colegas. Ao usar esses chamados, eles podem preservar seus laços sociais e manter o grupo coeso.

“Os saguis vivem em pequenos grupos familiares monogâmicos e cuidam de seus filhotes juntos, da mesma forma que os humanos”, conta Omer. “Essas semelhanças sugerem que eles enfrentaram desafios sociais evolutivos comparáveis aos de nossos primeiros ancestrais, o que pode ter levado ao desenvolvimento de métodos de comunicação semelhantes.”

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Segundo Omer, a descoberta é um exemplo de convergência evolutiva, fenômeno que ocorre quando espécies distintas encontram a mesma solução evolutiva para um problema. 

Os cientistas conseguiram comprovar também que os nomes não são herdados geneticamente, mas sim, aprendidos. Mesmo em famílias que foram montadas pelos pesquisadores, sem vínculos consanguíneos, os saguis compartilhavam os mesmos nomes e um “dialeto” em comum.

Os experimentos consistiram em gravar conversas entre duplas de saguis, com ou sem uma barreira entre eles. Depois de  analisarem detalhadamente cada guincho e descobrirem as associações de cada trecho, os cientistas reproduziam os sons por um computador, para observar a reação de cada indivíduo.

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“Ficamos felizes de ver que o computador era capaz de enganar os macacos”, conta Omer, rindo. A reação dos macacos mostrou que eles sabiam quando eram chamados e conseguiam reconhecer quem estava chamando. A partir daí, os saguis respondiam e “conversavam” com o computador como se conversassem com o indivíduo da gravação.

Omer destaca que o aspecto mais importante da descoberta é a mudança de perspectiva que ela lança sobre o entendimento da evolução dos primatas. “Os saguis parecem ser os primatas mais distantes de nós na árvore evolutiva. Mas o fato de que eles têm uma estrutura social parecida com a nossa surpreendentemente faz com que eles sejam muito mais parecidos conosco do que outros primatas.”

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