Quase metade dos mamíferos da América do Sul veio da América do Norte
Pesquisadores sugerem que maior incidência de animais vindos apenas de um dos continentes está relacionada à extinção das espécies que viviam no sul.
Há dez milhões de anos, ocorreu o evento que ficou conhecido como Grande Intercâmbio Americano. Graças à atividade de placas tectônicas, formou-se uma faixa de terra que ligou a América do Norte à América do Sul – o chamado Istmo do Panamá. Com o caminho aberto, os mamíferos poderiam finalmente atravessar de um continente para o outro, causando uma onda migratória e intercâmbio entre espécies. Enquanto cavalos, ursos e raposas chegavam aqui, ancestrais de gambás, tatus e porcos-espinhos tomavam a direção contrária.
Mas há uma ponta solta nessa história. Na estimativa dos cientistas, os animais deveriam ter migrado em proporções iguais para o norte e para o sul, mas não é isso o que se verifica atualmente. Hoje, apenas 10% dos mamíferos norte-americanos têm ancestrais sul-americanos, enquanto quase metade dos sul-americanos descende dos norte-americanos. O que justifica essa discrepância?
Uma pesquisa publicada no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences pode finalmente trazer essa resposta. Após uma análise de 20 mil fósseis, os pesquisadores concluíram que o grande culpado pela troca biológica desigual foram os processos de extinção em massa que atingiram os animais do sul. A hipótese de que mais animais do norte teriam migrado para o sul também cai por terra por falta de evidências.
Logo que o Istmo do Panamá se formou, a troca entre espécies nos continentes ocorreu de maneira relativamente equilibrada. Foi nos últimos cinco milhões de anos, durante o Plioceno, que a diversidade começou a desaparecer. Neste período, muitas espécies sul-americanas podem ter sido prejudicadas devido às mudanças climáticas, que deixaram o planeta mais frio e seco.
Também houve competição e predação entre as espécies dos dois continentes. Muitos animais vindos do norte, como o já extinto tigre dentes-de-sabre, podem ter se beneficiado devido a suas posições de caçadores. Juan Carrillo, pesquisador do Smithsonian Tropical Research Institute no Panamá e autor do estudo, explicou que “provavelmente a razão para as extinções é bastante complexa e inclui algumas interações biológicas e mudanças de habitat”. Nas próximas pesquisas, os cientistas devem estudar a fundo quais foram esses eventos de extinção e porque tiveram efeitos tão devastadores.