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Por que lembramos de algumas coisas, mas outras vão embora facilmente?

Nosso cérebro tem duas memórias: uma de curto e uma de longo prazo. Mas os critérios para escolher as que serão promovidas ao HD definitivo ainda são misteriosos. Agora, demos um passo em direção à resposta. 

Por Caio César Pereira
23 jul 2023, 16h24

Você provavelmente já esteve naquela situação de estudar muito para uma coisa, e, quando chega a hora da prova, sofrer com o famoso branco. Bom, você, na verdade, pode só estar acessando a “pasta” errada. Pelo menos é o que dizem pesquisadores do Instituto Médico Howard Hughes, nos EUA.

As nossas lembranças são guardadas em dois locais diferentes no cérebro. de modo geral, as memórias de longo prazo ficam em uma região conhecida como neocórtex, enquanto as de curto prazo permanecem no hipocampo. Em uma analogia com computadores, é como se o neocórtex fosse o nosso HD, e o hipocampo, a memória de trabalho, ou memória RAM. 

Acontece que, na prática, a teoria é outra (rs). Algumas pesquisas já encontraram memórias de longo prazo que nunca saíram do hipocampo. E não sabemos ao certo o mecanismo que faz com que um pensamento seja promovido do módulo de curto prazo para o armazenamento definitivo no neocórtex. 

 

Após anos de debate, surge uma nova hipótese. De acordo com uma pesquisa recente, o que determina em qual região ficará a memória é sua potencial utilidade futura. Uma lembrança só vai para o neocórtex se ela possibilitar generalizações ou se aplicar a uma grande variedade de cenários (o que, se você não for engenheiro, explica a dificuldade de decorar fórmulas para a prova de matemática).

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Assim, o que faz uma memória acabar na lixeira do computador cerebral não é exatamente a sua idade, mas sim na quantidade de circunstâncias em que você pode precisar dela. Esse filtro serve, naturalmente, para que usemos o espaço limitado no nosso HD apenas com os arquivos que mais nos ajudem a navegar o mundo. (Pense em situações óbvias, como olhar para um céu nublado e lembrar que ele está associado a chances de chuva.)

É só pensar como um ser humano vivendo na natureza. Se você memoriza os sinais de que há uma nascente por perto – como um certo grau de umidade no chão, ou a presença de alguns tipos de planta –, essas informações podem vir a calhar quando você estiver em uma mata desconhecida no futuro e precisar encontrar água potável. 

O próximo passo é testar se essa hipótese – por ora, testada apenas usando redes neurais, que são softwares vagamente baseados na arquitetura do cérebro humano – é capaz de prever a consolidação (ou não) de memórias em seres humanos de verdade. E assim, finalmente, descobrir a ciência por trás da mais antiga reclamação aos professores de ensino médio: “mas quando eu vou usar isso na minha vida”?

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