Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Por que é tão difícil limpar um derramamento de óleo?

Um cargueiro japonês derramou cerca de mil toneladas de óleo nas Ilhas Maurício. Moradores locais estão usando folhas e até cabelo para tentar limpar a região

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 10 ago 2020, 18h24 - Publicado em 10 ago 2020, 18h21

Um desastre ambiental nas Ilhas Maurício, no continente africano, fez com que as autoridades locais declarassem estado de emergência nacional na última sexta-feira (8). Semanas antes, no dia 25 de julho, o navio japonês MV Wakashio atingiu um recife próximo a ilha e ficou preso, derramando cerca de mil toneladas de óleo pela região. O cenário ainda pode piorar, já que a embarcação está rachando e ameaça se partir ao meio nos próximos dias, podendo liberar outras 2,5 mil toneladas de combustível que estão presas em seu interior.

O cargueiro está encalhado próximo ao Blue Bay Marine Park, um santuário de vida selvagem. O desastre ameaça o meio ambiente da ilha e também coloca em risco a saúde de nativos, que se alimentam de recursos retirados desse ecossistema. O turismo nas Ilhas Maurício já estava prejudicado devido à pandemia de covid-19, mas agora os moradores locais temem que o cenário piore ainda mais, causando um estrago econômico. 

No domingo (9), o vice-presidente executivo da Mitsui OSK Lines, operadora do navio, pediu desculpas públicas pelo problema causado e disse estar disposto a fazer qualquer coisa para conter o vazamento. Japão e França já enviaram reforços para a ilha. 

Autoridades locais pediram aos moradores que se mantivessem longe da costa e deixassem que a guarda costeira cuidasse da retirada do óleo, mas o aviso foi em vão. Os voluntários encheram as praias para preparar barreiras de contenção contra o resíduo. Essas barreiras seriam formadas por folhas de cana-de-açúcar e cabelo doado pelos moradores, pois estes materiais são capazes de absorver e reter o óleo. 

Apesar da estratégia válida, não é tão simples limpar o mar após um derramamento de óleo. A ação deve ser rápida para evitar que o óleo emulsione, ou seja, que ocorra uma reação entre a água e o óleo formando um resíduo de consistência pastosa. Esse produto é ainda mais difícil de ser retirado por meio do uso de materiais absorventes, como as folhas e os cabelos utilizados pelos moradores da ilha. 

Continua após a publicidade

A limpeza fica mais fácil quando as faixas de óleo estão próximas e contidas, mas o próprio clima pode atrapalhar essa organização. No caso das Ilhas Maurício, a Mitsui OSK Lines tentou implantar barreiras protetoras ao redor do navio para evitar a dispersão do óleo, mas o mar agitado tornou a missão impossível. Ventos fortes de 50 km/h também interromperam a limpeza orquestrada pelos moradores locais. Além de tudo isso, ondas de até cinco metros podem tomar a região, prejudicando ainda mais o trabalho de retirada do óleo. 

 

As barreiras são os métodos mais simples e populares de controlar o derramamento, mas o indicado é que sejam aplicadas horas após o desastre, enquanto ainda é fácil conter o combustível, além da necessidade de clima estável. Depois disso, ferramentas chamadas skimmers são implantadas em barcos e levadas até a região para sugar o óleo da superfície, como se fosse um aspirador de pó. Esse óleo capturado é separado da água e pode ser reutilizado depois.

Quando as barreiras não são suficientes, alguns produtos químicos podem ser aplicados para auxiliar na desintegração do óleo, como o Corexit, usado no vazamento do Golfo do México em 2010. Dessa forma, o óleo é transformado em pequenas gotículas que ficam suspensas sobre a água e, em teoria, são degradadas mais facilmente pelas bactérias, e não chegam às praias. Ele pode ser pulverizado sobre as manchas através de aeronaves ou barcos, mas também apresenta um problema: o agente pode ser tóxico para a vida marinha. 

Continua após a publicidade

Existem também os absorventes, que foram aplicados nas barreiras criadas pelos nativos das Ilhas Maurício. Eles podem tanto absorver o óleo quanto adsorver, formando uma camada na superfície. Feno, palha e vermiculita são alguns dos absorventes mais comuns. Por outro lado, esses materiais ficam pesados após recuperar o poluente e podem acabar afundando, sendo um risco para o ecossistema. 

Em alguns casos, pode ser aplicado o elastol, um poli-isobutileno (PIB) em consistência de pó que solidifica o óleo na superfície da água, evitando seu espalhamento. Sua recuperação é prática e o composto não é tóxico, mas o produto formado pode acabar sufocando animais marinhos caso ingerido. 

Quando o óleo atinge a costa, o trabalho de remoção fica ainda mais difícil. As manchas são pesadas e devem ser retiradas a partir de um trabalho braçal e, consequentemente, mais lento. Maquinários pesados não costumam ser aplicados nestes casos pois podem danificar as praias. Vale lembrar que o óleo contém substâncias tóxicas, podendo apresentar riscos aos voluntários que entrarem em contato diretamente com ele.

De todos os jeitos, limpar um derramamento de óleo é um grande malabarismo entre a saúde e natureza – não à toa, eles estão entre os principais desastres ambientais da história.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Oferta dia dos Pais

Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

OFERTA
DIA DOS PAIS

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.