É pouco provável que aliens tenham tentado contato conosco. Veja o motivo
Proposta recentemente por pesquisadores de Harvard, ideia que sustenta uma missão extraterrestre não é conclusiva. Pelo menos, não ainda
Uma dupla de astrônomos da Universidade Harvard, uma das mais conceituadas do planeta, fez barulho na última terça-feira (6) ao especular que um objeto espacial visto rondando nosso sistema solar seria uma tentativa alienígena de fazer contato com a Terra.
Foi essa, pelo menos, uma das hipóteses dos cientistas para explicar aspectos como a alta velocidade, o brilho intenso ou a trajetória incomum do Oumuamua – que você pode ver na imagem acima. Pedaço gigante de rocha estelar em formato de charuto (ou cigarro, como preferir) ele foi avistado em outubro de 2017 pelo telescópio Pan-STARRS, instalado no Havaí. Rochas espaciais são flagradas a todo momento, mas essa, no caso, era diferente. O Oumuamua é considerado o primeiro objeto que não orbita nosso Sol a dar as caras por aqui.
Desde que foi flagrado pela primeira vez, o charuto espacial despertou uma série de controvérsias na comunidade científica internacional. Até hoje, por exemplo, não há consenso sobre sua natureza. Primeiro foi chamado de cometa, depois ganhou status de asteroide. Hoje, a definição mais aceita é que ele é um novo tipo de “objeto interestelar”.
O artigo redigido em Harvard, que deve ser publicado na revista científica Astrophysical Journal mas já pode ser lido no repositório arXiv, se dedica a tentar desvendar essas características pouco comuns.
O foco principal do trabalho é argumentar, por exemplo, que a força que a radiação solar exerce nos objetos pode explicar a aceleração altíssima da rocha espacial (114 mil km/h, segundo registros de janeiro de 2018), ou ainda, o formato alongado que lhe deu o apelido de charuto.
Bem no finzinho do artigo, porém, os autores propõem uma explicação alternativa, chamada por eles de “cenário mais exótico”. O objeto quase-não-identificado importado de uma estrela distante, poderia ser também, quem sabe, uma espécie de nave extraterrestre alimentada pela energia do Sol.
O mecanismo que permite a viagem parece complexo, mas é relativamente simples: todo o controle dos aliens seria feito a partir de uma espécie de “vela”, sistema de propulsão da aeronave de pedra que a faz funcionar como uma pipa. Ao invés de vento, a força responsável por mover o objeto para este canto da galáxia seria a radiação solar. Nada de muito novo, já que isso é feito por algumas naves construídas por humanos.
Se comprovada verdadeira, no entanto, a hipótese de que uma civilização de outro planeta seja remetente do trambolho seria provavelmente a maior descoberta da história da astronomia – e o nome Oumuamua, palavra que tem origem havaiana e significa “mensageiro de um passado distante”, ganharia um sentido ainda mais especial.
A lista com os porquês dessa afirmação não ser nenhum exagero é extensa. Primeiro: ela comprovaria que existem formas de vida inteligentes o suficiente para direcionar uma pedra gigante para ser avistada por nós, incautos terráqueos. Segundo: os aliens não apenas sabem da nossa existência como sabem que temos conhecimento suficiente para interpretar a mensagem. Terceiro: querem que saibamos deles e, para tal, tentaram quebrar o gelo. Quarto, teríamos uma evidência gigantesca para compreender a formação de sistemas solares diferentes do nosso – e tentar ampliar um pouco o que sabemos da vida, do universo e tudo mais.
Apesar das perspectivas que a afirmação gerou na imprensa mundial, o fato é que há poucas chances de que ela pare de pé. O que temos, até agora, são informações mal-explicadas de um objeto estelar estranho. Sabemos muito pouco sobre ele que, enquanto você lê esse texto, já está longe do alcance de qualquer telescópio terráqueo. “É impossível saber o exato propósito por trás do Oumuamua sem mais dados”, assumiu Avi Loeb, um dos autores do estudo, em entrevista à NBC. Sendo assim, a têndencia é que qualquer proposta acabe esbarrando em especulações.
Certas explicações, que tentam trabalhar com o que já sabemos, acreditam que o Oumuamua tenha se formado naturalmente em outro sistema planetário e sido capturado por forças gravitacionais na nuvem de gás e poeira que formou nosso sistema solar.
Teorias sobre a existência de vida extraterrestre, por sua vez, explicam que, caso existam seres inteligentes, eles provavelmente estão em uma distância cosmológica tão grande que serão, para sempre, invisíveis daqui da Terra. Há, ainda, certas inconsistências quanto à motivação dos aliens, por exemplo.
“Por que enviar uma nave com esse comportamento estranho?” disse Coryn Bailer-Jones, astrônomo do Instituto Max Planck, à NBC. “É claro, alguém poderia dizer que foi um acidente, ou os alienígenas fizeram isso para nos enganar. Sempre é possível chegar a sugestões implausíveis que não têm evidências para manter uma ideia”.
Atribuir histórias mal contadas da astronomia a entidades desconhecidas é algo que, vez ou outra, acaba emergindo como uma hipótese. Em 2015, o comportamento de uma estrela distante já havia sido explicado por influência alienígena. Mais recentemente, a trajetória estranha de um asteroide poderia ser influência de um nono planeta do sistema solar – para além de Netuno. O grandalhão gelado desconhecido, no entanto, nunca foi avistado – e dificilmente seria mesmo se existisse, dada sua distância da Terra.
Como a SUPER relembrou recentemente neste post , Carl Sagan já dizia que “alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”. A primeira parte da sentença sobre a ligação de Oumuamua e os aliens acabou de ser cumprida. Resta aguardar, agora, o que os astrônomos preparam para satisfazer a segunda.