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Polvos machos injetam veneno nas fêmeas durante o sexo para evitar que sejam comidos

Nesse relacionamento tóxico da natureza, essa espécie da Austrália imobiliza a parceira com um veneno poderoso. Entenda.

Por Eduardo Lima
16 mar 2025, 10h00

Parece que relacionamento tóxico não é exclusividade dos seres humanos. Polvos machos com listras azuis da espécie Hapalochlaena fasciata injetam veneno nas fêmeas enquanto fazem sexo. Nesse caso, a toxicidade no romance é via de mão dupla: os machos imobilizam as parceiras sexuais para evitar serem comidos por elas.

Esse polvo minúsculo (as fêmeas têm o tamanho de uma bola de golfe, e são de duas a cinco vezes maiores que os machos) é um cefalópode encontrado em poças de maré e recifes de corais rasos. Ele tem uma neurotoxina extremamente potente em sua saliva, a tetrodotoxina.

Com uma mordida precisa na artéria aorta da fêmea, eles administram a quantidade de veneno necessária para imobilizar as parceiras no começo do rala-e-rola. O estudo que descreve o comportamento sexual dos Hapalochlaena f. foi publicado no periódico Current Biology.

A pesquisa foi liderada por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália. Esses polvos são encontrados nas águas do Oceano Pacífico entre a Austrália e o Japão.

Canibalismo sexual? Não é fetiche, é nutrição

Os Hapalochlaena f. se devoram durante o sexo. Literalmente: trata-se de canibalismo sexual, algo muito comum entre os cefalópodes.

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Mais do que um fetiche inusitado, é uma questão de nutrição: assim que as fêmeas põem os ovos, elas passam seis semanas sem se alimentar, só cuidando dos ovos. Esse estoque de energia precisa vir de algum lugar, então elas aproveitam e comem os machos, muito menores do que elas, durante o acasalamento.

Os cefalópodes machos têm um tentáculo especial para a reprodução, chamado de hectocótilo, que transfere uma cápsula de esperma para o oviduto da fêmea. Para fugir da morte durante a cópula, diversas espécies criaram métodos diferentes: os argonautas abandonam seu hectocótilo depois do ato. Outras espécies têm um hectocótilo alongado, para conseguir transar a uma distância segura.

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O hectocótilo dos polvos com listras azuis é muito pequeno. Tamanho não é documento, mas nesse caso foi um problema: eles não conseguem se reproduzir a uma distância segura, então precisaram desenvolver outra estratégia para sobreviver.

No estudo, a dose de veneno imobilizou as fêmeas durante sessões de acasalamento que duraram de 40 a 75 minutos. Quando a tetrodotoxina exerce seu efeito inicial, as envenenadas ficam sem respirar por oito minutos, pálidas e com pupilas irresponsivas à luz. Eles paravam de acasalar quando as fêmeas retomavam a consciência – que, em seguida, empurravam os machos escrotos para longe.

De acordo com os pesquisadores, nenhuma das fêmeas morreu durante a pesquisa, e todas elas estavam se alimentando normalmente no dia seguinte, o que sugere uma resistência à neurotoxina administrada pelos polvos machos.

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Fêmeas e machos humanos, por outro lado, devem tomar muito cuidado com um desses polvos pequenininhos. O veneno deles pode ser letal para os Homo sapiens, mas esse é um encontro de espécies improvável. Esses cefalópodes são muito tímidos e geralmente fogem quando algum humano aparece. O perigo está em pegá-los na mão. Há três mortes registradas por causa de contato com os polvos com listras azuis.

Toda essa estratégia de sobrevivência durante o sexo não vale de muita coisa para os polvinhos. Eles, como a maioria das outras espécies de polvos, apresentam o comportamento de semelparidade, que significa que eles morrem após se reproduzirem pela primeira (e última) vez. O macho morre logo depois do ato, e a fêmea morre depois que suas crias saem dos ovos. Melhor continuar virgem.

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