Polos magnéticos podem se mover até 10 vezes mais rápido do que se pensava
Análise de "fósseis magnéticos" revela novidades sobre a inversão entre os polos Norte e Sul, que ocorre em intervalos de centenas de milhares de anos.
A cada 200 ou 300 mil anos, as bússolas ficam confusas. Em vez de apontar para o norte do globo, elas passam a mostrar o sul. É claro que nenhuma bússola existe há tempo suficiente para contar a história, mas o fato é que os polos magnéticos da Terra não são estáticos. Eles se invertem em intervalos de algumas centenas de milhares de anos.
Uma nova pesquisa, publicada na Nature Communications, indica que esse processo pode estar acontecendo bem mais rápido do que se imaginava. Até então, estudos apontavam que o campo magnético poderia sofrer variações de até um grau a cada ano, mas a nova pesquisa mostra que esse deslocamento pode ser de até 10 graus a cada 365 dias.
Isso não significa que essas variações estejam acontecendo nesse ritmo agora, mas sim que podem ter acontecido em um passado distante. É isso que estuda o paleomagnetismo, campo da ciência dedicado a entender o comportamento do campo magnético terrestre ao longo das eras geológicas.
Primeiro é importante entender como esse campo magnético gigante é gerado. A 2,8 mil quilômetros de profundidade, no núcleo externo da Terra, existe uma massa de níquel e ferro líquidos, mantidos a mais de 3 mil graus Celsius. A movimentação desses metais cria as correntes que formam o campo magnético terrestre.
Atualmente, mesmo as variações mais sutis no campo podem ser medidas com auxílio de satélites, mas pouco se sabe sobre como ele se comportava antes de termos esse tipo de tecnologia. As hipóteses, portanto, são elaboradas a partir da análise de rochas de diversas épocas. As rochas contém fragmentos de metais ferrosos que foram influenciados por esse campo. É uma espécie “fóssil magnético”, que pode ser estudado pelos geólogos.
Uma pesquisa publicada em 2018 compilou estudos para reconstruir 100 mil anos de história magnética da Terra. A pesquisa mais recente, da Universidade da Califórnia (EUA) com a Universidade de Leeds (Reino Unido), usou análise computacional para tirar conclusões mais detalhadas a partir desses resultados.
Um exemplo citado no artigo data de 39 mil anos atrás, quando o campo magnético se movia a 2,5 graus por ano – já superando o teto de apenas um grau proposto por estimativas anteriores. A análise também mostra que é possível que essa variação acontecesse em até 10 graus por ano.
Entender melhor como, com que frequência e quão rápido o campo magnético pode mudar é importante para se preparar para possíveis reconfigurações de satélites ou momentos em que os ventos solares possam nos atingir com mais intensidade devido a um enfraquecimento do campo (é ele que nos protege das variações de humor de nossa estrela).
“Estudar essas simulações oferece uma estratégia útil para documentar como essas mudanças rápidas ocorrem e se elas podem acontecer em períodos de estabilidade magnética, como o que estamos vivendo hoje”, disse Catherine Constable, autora do estudo, em nota.