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Plantas se comunicam por baixo da terra

Substâncias liberadas pelas raízes avisam pés de milho que as plantas próximas estão crescendo – e os estimulam a crescer rápido para brigar por espaço

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
3 Maio 2018, 15h53

Pesquisadores da Universidade de Ciências Agronômicas da Suécia descobriram que pés de milho, por meio da secreção de substâncias químicas pelas raízes, mantém um sistema de comunicação por baixo da terra. Captando esses recados químicos deixados no solo, as plantas detectam se suas vizinhas de plantação estão invadindo seu espaço – e começam a crescer mais rápido para disputar um lugar ao Sol.

O teste foi assim: primeiro, os pesquisadores roçaram um pé de milho com uma escova por um minuto diário, induzindo um estímulo semelhante ao que seria gerado pelo contato com as folhas de um vizinho que tivesse crescido mais que o normal. Em resposta, o exemplar secretou uma substância pela raíz, que contaminou a água em que ela era cultivada. O próximo passo foi tirar a planta dali e colocar outro broto na mesma água. Não deu outra: o vegetal jovem captou a mensagem química, e começou a crescer mais rápido para tentar superar a planta que parecia estar próxima. Os detalhes estão no artigo científico.

Já se sabe há algum tempo que um fenômeno de controle de espaço parecido provavelmente ocorre com copas de árvores maiores, como os pinheiros. A diferença é que elas, em vez de competir, tentam colaborar: quando as folhas de um começam a roçar nas do outro, as duas árvores “entendem” que é melhor para de crescer por aí – e respeitam o espaço uma da outra. Assustador: plantas conversam, e espécies diferentes têm personalidades diferentes.

Fenômenos assim desafiam o senso comum mais do que parece. Ser um pé de milho não é fácil, em primeiro lugar porque não dá para ser um pé de milho. Uma planta, ao contrário de um animal, não tem um cérebro que dê a ela a sensação de ser uma coisa separada do resto do mundo. Se você puxa o rabo de um cachorro, ele reage e se sente incomodado, pois sabe que aquele pedaço de carne pertence a ele. Afinal, há um órgão no corpo do cãozinho – o cérebro – em que as informações recebidas são centralizadas e processadas. Já uma espiga você pode arrancar sem dó. Não há um software lá dentro que sinta dor.

Apesar disso, plantas não são completamente inertes. Elas tem jeitos engenhosos de compensar a falta de neurônios, e são capazes de se comunicar e reagir a estímulos ambientais. Pegue, por exemplo, os girassóis – que seguem a luz sem ter músculos, nervos ou tendões. Para alcançar a façanha, eles precisam regular o crescimento do pedúnculo (o “caule”) de acordo com seu relógio biológico. De manhã, as células da parte oeste do caule se multiplicam mais rápido, fazendo a planta cair na direção do sol nascente. À tarde, a parte leste toma a dianteira, e a flor passa a pender para oeste, onde o sol se põe.

Girassóis, pinheiros e pés de milho são todos bons exemplos de comportamento vegetal, uma área de pesquisa que começou a ser levada a sério há pouco tempo. Na década de 1980, cientistas que propunham “conversas” entre seres com clorofila eram motivo de piada no mainstream científico. Hoje, isso tende a se tornar uma preocupação autêntica no laboratório. Por exemplo: os resultados de um estudo sobre o tamanho de variedades domésticas de milho pode ser afetado se as plantas que servirem de cobaia forem tocadas com muita frequência pelos cientistas.

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