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Pelo menos dois países no mundo já perderam todas as suas geleiras

A Venezuela e a Eslovênia são os primeiros países a perder todas as suas geleiras devido às mudanças climáticas

Por Caio César Pereira
31 Maio 2024, 19h00

Se estamos de fato no antropoceno ou não, é uma questão ainda em aberto. Uma coisa, no entanto, é certa: o mundo está esquentando. Tanto as geleiras da Eslovênia quanto da Venezuela, praticamente perderam todo o seu gelo, demonstrando a rapidez dos efeitos das mudanças climáticas.

Anteriormente, acreditava-se que a Venezuela foi o primeiro país a ter perdido todas as suas geleiras, mas pesquisadores apontaram que na verdade esse triste título pertence à Eslovênia. Pelo menos duas geleiras por lá se encontram com uma cobertura reduzida de gelo. A geleira de Skuta está com uma área de gelo de menos de 0,1 km² desde 1969, e a geleira de Triglav também se encontra abaixo do limite desde 1986. 

“Os dois remanescentes glaciares não se moveram, [e] não foram observadas fendas glaciais nas últimas décadas — essas características definem geleiras reais”, contou em entrevista à E&E News, Miha Pavšek, pesquisador do Instituto Geográfico Anton Melik que lidera as medições de gelo nas montanhas Triglav e Skuta da Eslovênia. De acordo com previsões do Instituto, é esperado que ambos os cumes estejam sem gelo até 2030.

Não existe um consentimento sobre quando uma geleira de fato deixa de ser uma geleira, mas um dos pontos levados em consideração é o seu tamanho. Segundo pesquisadores do United States Geological Survey (Serviço Geológico dos Estados Unidos), para que uma geleira possa ainda manter seu título gelado, ela precisa ter um tamanho maior do que 0,1 km². Isso é o equivalente a 100 mil metros quadrados ou 10 hectares. 

Pode até parecer muito, mas se tratando de grandes geleiras, isso é algo bem pequeno. Isso é porque, as fendas glaciais e o movimento das geleiras (duas das principais características), dependem do seu tamanho. O atrito das camadas inferiores de gelo com o solo somado com a grande pressão exercida pela gravidade, faz com que as partes de gelo mais ao fundo se derretam

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Esse derretimento faz com que a geleira se mova (tão lentamente que são imperceptíveis para o olho humano). Já as fendas se formam com a movimentação das geleiras, mas na parte superior, surgindo após uma rachadura na superfície gelada.

Para que uma geleira se movimente, no então, ela precisa de um tamanho relativamente grande. Quando ela está abaixo de 0,1 km², o gelo geralmente fica estagnado e não tem massa suficiente para se mover.

 

 

A Venezuela pode até não estar em primeiro lugar, mas suas geleiras também não estão nada bem. Até 2011, o país tinha um total de seis geleiras na cordilheira da Sierra Nevada de Mérida. Todas elas, porém, já desapareceram.

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A última, conhecida como La Corona, se encontra no Pico Humboldt, o segundo mais alto do país, está derretendo muito mais rápido do que se imaginava. Já era esperado que a geleira derrete-se, mas os pesquisadores tinham como previsão que isso acontecesse por pelo menos uma década. A realidade, no entanto, mostra que a geleira de La Corona encolheu para uma área de menos de 2 hectares.

“Não há uma zona de acumulação na geleira de Humboldt e atualmente está apenas perdendo superfície, sem nenhuma dinâmica de acumulação ou expansão,” conta ao The Guardian, Luis Daniel Llambi, ecologista do programa Adaptation at Altitude, voltado para adaptação às mudanças climáticas nos Andes.

Mas as geleiras na Venezuela podem ser o início de um problema ainda maior. De acordo com Llambi, a Venezuela é um espelho do que continuará a acontecer de norte a sul no continente sul-americano. Primeiro na Colômbia e Equador, depois no Peru e na Bolívia, a previsão é que todas as geleiras nos Andes continuem a recuar. 

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