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Para resistir até 18 minutos sem ar, este rato vira uma planta

Usando a frutose como reserva de energia, o simpático rato-toupeira-pelado ri da cara do perigo - e se dá bem em ambientes onde o ar quase não chega

Por Guilherme Eler
Atualizado em 20 abr 2017, 19h41 - Publicado em 20 abr 2017, 19h14

Feio, sim, mas com conteúdo. Um verdadeiro alien da família dos roedores, o rato-toupeira-pelado é um bicho estranho não só por causa da aparência. Por trás desse corpo enrugado, sem pelos e de dentões enormes, há uma capacidade de sobrevivência inacreditável.

Pesquisas anteriores já haviam descrito sua habilidade de nunca contrair câncer, e os resultados de um estudo inglês adicionam mais um tópico à lista de bizarrices que o envolve: conseguir ficar sem oxigênio numa boa, por incríveis 18 minutos. Mais intrigante que a habilidade, é como ele se vira para fazer isso – imitando um mecanismo metabólico até então exclusivo das plantas.

Assim como os demais mamíferos, os ratos-toupeira-pelados obtém sua energia a partir da queima de glicose. Havendo oxigênio, a glicose é transformada pelo corpo em ATP, molécula menor que é a fonte primária de energia das células.

Numa emergência, a quebra da glicose sem oxigênio pode ser mantida por curtos períodos, apesar de ser 20 vezes menos eficiente. Mas a vida embaixo da terra não é das mais fáceis – tanto que o ar em abundância pode ser considerado artigo de luxo. A solução encontrada pelo rato-toupeira foi simplesmente passar a produzir ATP a partir de frutose – processo que tem custo zero de oxigênio.

A frutose é o principal carboidrato de reserva das plantas. Ela é um dos produtos da fotossíntese, juntamente com a glicose e a sacarose. Estas outras duas são transformadas em frutose a partir de uma série de reações químicas, e ficam armazenadas nos frutos ou sementes das plantas – e são obtidas pelos animais por meio da alimentação.

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Os ratos-toupeira conseguem utilizá-la como fonte energética porque possuem moléculas e enzimas capazes de quebrar a frutose – que tem bem menos energia, mas que pode representar a sutil diferença entre morrer e permanecer vivo.

Um experimento conduzido na Univerisdade de Illinois, nos EUA, uniu em um ambiente com disponibilidade zero de oxigênio ratos-toupeira-pelados e outras cobaias, usadas como controle. Na ausência de ar, ambos os grupos “apagaram” instantaneamente. Só que, diferente dos ratos comuns, que com o desmaio já partiram desta para uma melhor, os ratos-toupeira permaneceram em um estado de “animação suspensa”, por cerca de 18 minutos.

Nesse estado, os processos vitais se desaceleram quase que por completo, sem provocar a morte. Apesar de órgãos vitais como cérebro e coração permanecerem intactos, eles seguem funcionando em ritmo bem diferente – o coração, por exemplo, vai de 200 batidas por minuto do estado normal para meros 50 batimentos.

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As consequências dos baixos níveis de oxigênio levam os animais a uma espécie de transe: eles param de se mover, ficam com os olhos semi-cerrados, e têm a pulsação reduzida drasticamente. Ao mesmo tempo, surgem picos de frutose no sangue – como retratado no estudo, publicado na revista Nature.

A estratégia pode ter evoluído em decorrência do estilo de vida um tanto precário que eles mantém, explica Thomas Park, autor da descoberta e professor da Universidade de Illinois. As tocas dos ratos-toupeiras costumam ser abafadas, e eles têm de conviver e até dormir junto de um grande número de vizinhos pelados.

No vídeo abaixo (feito pelo The Guardian), os pesquisadores dão mais detalhes sobre esse mecanismo, tão estranho quando os próprios ratos-toupeira-pelados. “Se fazer de planta” tem outro significado para esses animais – e não tem nada a ver com ignorar as circunstâncias.

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