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Pandas podem ter traído o movimento vegano

Novo estudo sugere que, até outro dia (em termos evolutivos), eles não viviam só de bambu.

Por André Oliveira
Atualizado em 4 fev 2019, 18h49 - Publicado em 4 fev 2019, 18h46

Há alguns milhões de anos, os amáveis ursos panda tinham hábitos bem diferentes do que têm hoje. Eles eram, pode-se dizer, menos previsíveis. Ou, em termos mais científicos, ocupavam um nicho ecológico mais amplo, já que costumavam perambular por habitats bastante distintos do que vivem hoje — única e exclusivamente bambuzais. Naqueles tempos, eles desfilavam sua fofura até mesmo por florestas tropicais, e tinham uma dieta bem mais diversificada que a atual. Mas… e o bambu?

De acordo com uma pesquisa publicada na última quinta-feira (31) no periódico Current Biology, a planta dura e fibrosa teria passado a ser o único prato no cardápio dos pandas em algum momento entre 5 mil e 7 mil anos atrás. Ou seja: nada em termos evolutivos. Há 5 mil anos já havia cidades.

O consenso anterior entre os cientistas dizia que esses animais teriam virado verdadeiros eremitas das florestas de bambu há pelo menos 4 milhões de anos. Para chegar à conclusão mais recente, pesquisadores chineses usaram uma abordagem nunca antes aplicada nas investigações sobre o tema.

“Esse é o primeiro estudo de que tenho conhecimento que tenha olhado tão profundamente para a história da dieta e evolução dos pandas”, disse à revista Nature o ecólogo da vida selvagem Jack Hopkins, da Universidade de Ljubljana, na Eslovênia. A grande sacada da nova pesquisa foi procurar nas ossadas de ursos do passado por uma certa forma especial de elemento químico: os isótopos estáveis. Eles não decaem com o passar do tempo e dão pistas sobre os hábitos alimentares dos animais.

Quando organismos se alimentam de plantas ou de carnes, essas comidas deixam uma espécie de assinatura química em seus corpos. Eventualmente esses registros vão parar nos ossos e nos dentes, onde ficam preservados para a posteridade. Os isótopos estáveis presentes no esqueleto revelam o que a criatura costumava devorar nos últimos anos de sua vida, enquanto os da arcada dentária nos contam o que comiam quando eram filhotes.

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Ao comparar amostras de animais que viveram há 5 mil anos com os de bichos mais recentes, mortos entre os anos 1970 e 2000, os cientistas notaram fortes indícios de que os pandas ancestrais comiam muito mais coisas do que só bambu, e que viviam em ambientes mais complexos. Mas o que exatamente constava no cardápio deles naquela época permanece um mistério. As técnicas atuais não permitem dizer que tipo de animal ou de planta os avós dos pandas de hoje comiam. O fato é que não se tratava apenas de bambu – se fosse, a assinatura dos isótopos nos dentes dos pandas de hoje e de ontem seria idêntica. 

De qualquer forma, a descoberta de que o bambu foi introduzido na dieta dos pandas mais recentemente do que se pensava pode ajudar a entender como foi que o nicho ecológico desses bichos acabou restrito à vida nos bambuzais. E um melhor entendimento sobre como isso aconteceu ajuda a traçar melhores estratégias de conservação para o futuro — ajudando para que a fofura dos pandas nunca seja extinta (sim, o assunto desta nota é mais útil do que parece).

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