Os filhos das orcas não desgrudam de suas mães – nem depois de adulto
Um grupo de mães dessa espécie abre mão de aumentar a prole para alimentar os filhotes machos. Mas isso pode ser um problema.
Esqueça o “mãe coruja”: uma expressão mais adequada seria “mãe orca”.
Os filhotes macho da espécie passam anos ao lado da mãe, alimentando-se do que ela caça. Já as fêmeas se tornam independentes mais cedo, para começar suas próprias famílias.
Isso não é novidade. Já se sabe que algumas orcas compartilham o alimento com sua prole, e que as mães tomavam cuidado especial com seus filhos. Porém, um novo estudo trouxe novas informações sobre o nível de sacrifício das mães para continuar cuidando dos seus meninos.
Um grupo de pesquisadores analisou 40 anos de dados sobre as famílias de mães-orca em idade reprodutiva de uma população no nordeste do Pacífico Norte. E eles encontraram uma sólida correlação entre o número de filhos que acompanhavam as fêmeas e a probabilidade anual de ter novos filhos.
Eis o que eles descobriram: se uma mãe já tinha um macho para cuidar, as chances de se reproduzir novamente caem pela metade se comparado com se ela tivesse tido uma fêmea – ou se ainda não tivesse filhos.
Vale ressaltar que essa probabilidade não diminuía com a idade. Ou seja, o esforço despendido com o filhote de 5 anos restringia a mãe do mesmo jeito que um filho adulto com mais de 20.
Ogrupo de orcas analisado pelos pesquisadores costuma passar bastante tempo na costa oeste do Canadá e noroeste dos EUA. E, apesar das orcas estarem na categoria “dados insuficientes” na Lista Vermelha da IUCN, que mede o estado de conservação das espécies, essa população em especial, com apenas 73 membros, é considerada ameaçada de extinção.
Mas, afinal: de onde será que vem toda essa dependência materna? O principal motivo seria a alimentação. Depois que a mãe-orca consegue o salmão, ela surge com o peixe de lado na boca – e morde com tanta força que parte o peixe no meio. O bichinho flutua para trás e vira comida fácil para o seu filho.
O problema é que machos adultos podem ser grandes demais para caçar um salmão com eficiência. Já as mães, por serem menores (e mais experientes), provavelmente não são só melhores em pegar o peixe, mas também em encontrá-lo. Os pesquisadores acreditam que é justamente esse cuidado adicional delas que mantenha os machos vivos.
Quando o excesso de cuidado vira problema
A dieta desse grupo de orcas é formado principalmente de salmão – e de um tipo específico, o salmão-rei (Oncorhynchus tshawytscha), que está ficando cada vez mais raro na região.
Aí é que está o problema. Com menos oferta de comida, o sacrifício das mães se torna ainda maior. As mães de macho, em vez de criar novos filhotes (e aumentar a população do grupo), se dedicam a caçar o pouco salmão disponível para os filhos. Elas se colocam em risco para garantir a alimentação deles (que, devido à escassez de salmão, tem sido insuficiente).
Um sacrifício louvável – mas que pode não ser suficiente para tirar a ameaça de extinção do grupo.