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O tomate indestrutível

Ele foi desenvolvido por cientistas brasileiros a partir do tomate selvagem, que existia no século 16 - e é praticamente invulnerável a pragas, dispensando o uso de agrotóxicos

Por Bruno Garattoni e Eduardo Szklarz
Atualizado em 23 abr 2019, 19h16 - Publicado em 21 abr 2019, 18h51

Ele é gostoso, nutritivo e tem cinco vezes mais licopeno, um antioxidante que ajuda a prevenir o câncer de próstata. Mas, acima de tudo, é forte: resiste a pragas mesmo sem o uso de agrotóxicos. Esse “supertomate” é fruto de uma pesquisa do geneticista argentino Agustín Zsögön, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e do botânico brasileiro Lázaro Peres, da USP, em colaboração com as universidades de Minnesota (EUA) e Münster (Alemanha).

Quando os espanhóis levaram o tomate para a Europa, no começo do século 16, ele era muito diferente. Tinha frutos bem pequenos, resistência natural a secas, geadas, doenças e insetos, jeitão de erva daninha e fama de ser venenoso (tanto que muitos o cultivavam apenas como planta decorativa). Com o tempo, percebeu-se que não era assim, e os agricultores foram cruzando tomateiros até chegar ao que temos hoje: tomates enormes e bonitões, mas meio sem gosto, e vulneráveis a pragas.

Para tentar resolver isso, os pesquisadores brasileiros refizeram a evolução dessa planta. Pegaram o tomate selvagem, como ele era no século 16, e usaram engenharia genética para modificá-lo. O processo, batizado de “domesticação de novo”, é rápido e eficiente porque os cientistas já conhecem os genes que desejam selecionar. Numa única geração de plantas (de mãe para filhas), eles selecionaram o que a agricultura levou séculos para conseguir. “Pegamos [o que era] praticamente uma erva daninha e reduzimos seu porte, aumentamos sete vezes o número de flores, triplicamos o tamanho do fruto e ampliamos em cinco vezes o teor de licopeno”, diz Agustín.

A técnica usada foi a CRISPR, que usa enzimas para cortar genes da fita de DNA. A planta responde ao corte reparando a fita, mas a colagem não é perfeita: alguns erros aparecem na sequência de DNA, silenciando os tais genes. O resultado é uma planta geneticamente modificada – mas não transgênica, já que nenhum gene novo foi introduzido. Por enquanto, a ideia foi apenas testar a técnica, mas os cientistas dizem que seria possível levar o supertomate ao mercado. “Em poucas gerações, é possível ter uma escala de produção”, afirma Agustín.

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