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O que acontece no corpo de quem morre de frio

Tudo começa com calafrios, fraqueza e confusão mental. Até chegar à perda completa da sensibilidade. É o fim.

Por Alexandre Carvalho
19 Maio 2022, 18h39

Nos dias mais frios do inverno, há uma onda de solidariedade em relação a pessoas em situação de rua como poucas vezes se vê no resto do ano. ONGs, entidades assistenciais e mesmo gente menos engajada normalmente com o combate à miséria se empenham em conseguir cobertores, agasalhos, sopas quentes… Algumas igrejas abrem suas portas e espalham colchões e mantas. Tudo porque o frio extremo não é apenas um sofrimento a mais para quem passa a noite precisando dormir debaixo de um viaduto. O frio também mata quem está ao relento. Principalmente se combinado à umidade. 

Exposto ao vento congelante, o corpo perde calor 25 vezes mais rápido se estiver úmido, segundo a Divisão de Medicina Térmica do Exército dos Estados Unidos. E ele pode estar molhado por chuva, uma calçada bastante úmida e até pelos jatos de água disparados pela polícia (expediente bastante cruel para expulsar pobres de locais onde não são bem-vindos). Então, quando a temperatura corporal cai, surge o fenômeno da hipotermia, com grave risco de vida. 

Vale enfatizar isso: não é uma noite de 5 ou 7 graus que mata as pessoas. É a queda da temperatura corporal que provoca a hipotermia. E essa queda só acontece quando o indivíduo não tem um teto sobre sua cabeça e paredes para barrar os ventos e a chuva, não tem roupas adequadas para o frio nem cobertores. Ou acesso a alimentos quentes.

O caminho para a morte se dá porque uma queda radical na temperatura do corpo impede que o cérebro e o coração funcionem corretamente.

Em situação normal, nosso corpo, para realizar suas funções metabólicas, funciona entre 36 e 37 graus. Essa temperatura é regulada por uma região do cérebro chamada hipotálamo – que nos faz suar quando o corpo precisa esfriar e nos deixa tremendo quando é imprescindível manter calor no organismo. Como as reações químicas dentro da gente dependem de calor para serem feitas, a redução da temperatura do corpo por causa da exposição a um frio muito extremo provoca um desequilíbrio letal.

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Por exemplo, com o corpo a 35 °C, surgem os sintomas de hipotermia leve: calafrios, fraqueza e alguma confusão mental. Para baixo disso, a coisa fica muito mais séria. Aos 33 graus, a pessoa começa a sofrer de amnésia. Aos 28, está em condições de perder a consciência – é a falta de calor de que depende a transmissão de impulsos do sistema nervoso central. Vamos perdendo toda a sensibilidade. Até o fim. 

Abaixo de 21 graus, já estamos falando de hipotermia profunda, e a morte é questão de tempo. O coração está à beira da falência completa – e pode parar a qualquer momento. 

Mecanismos de defesa

Se você não mora nos polos da Terra, não tenta escalar montanhas de picos gelados nem é uma pessoa em situação de rua, calma: não é fácil morrer de frio. Temos mecanismos embutidos para nos proteger das temperaturas próximas a zero. 

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Assim que um ar muito frio atinge seu rosto, o organismo move seu sangue para longe da pele e das extremidades do corpo. Você fica com as mãos e pés gelados (são as partes que mais gangrenam em alpinistas perdidos na neve), mas com os órgãos internos protegidos. Esse processo está ligado à contração dos músculos lisos dos vasos sanguíneos, que ajuda a limitar a quantidade de calor que você perde para o meio ambiente. 

E não é à toa que seu corpo fica tremendo no frio. O tremor é um movimento que produz calor. 

Por isso, vira e mexe você fica sabendo de alguém que esquiou na neve de bermuda ou atravessou o Canal da Mancha, cujas águas chegam facilmente a gelados 10 °C. Nosso corpo evoluiu para resistir ao frio. Até certo ponto. 

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Só não é capaz de passar noites seguidas na rua, sem agasalho ou cobertor. Como acontece com tantos brasileiros que morrem de frio por falta de ação do poder público.

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