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O osso da artrose está voltando com força total

Assim como o siso e o apêndice, ele não tem nenhuma função aparente. Até agora, acreditava-se que ele estava desaparecendo – só para retornar em um estudo recente.

Por Maria Clara Rossini
3 Maio 2019, 19h02

Você vive com dor no joelho? Com certeza não é o único. Mais de dois milhões de brasileiros sofrem com artrose. Apesar do que muita gente pensa, o problema não está só no envelhecimento – ele pode estar no seu esqueleto. Uma pesquisa feita pela Imperial College London revelou que um osso que antes era raro em humanos está reaparecendo em pessoas que sofrem do problema.

O osso fabela, como é chamado, fica atrás do joelho, “colado” no tendão de um músculo. Em 1918, o osso estava presente em 11,2% dos humanos. Já em 2018, esse número aumentou em mais de três vezes, saltando para 39% da população.

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(Imperial College London/Reprodução)

Até agora, a fabela parecia estar desaparecendo devido a evolução humana. Há milhares de anos atrás, é bem provável que ele concedesse vantagem mecânica aos músculos da perna e ajudasse a reduzir o atrito entre os tendões. Outros mamíferos, como alguns dos nossos parentes primatas e melhores amigos caninos, ainda possuem a estrutura.

Acontece que esse órgão nunca foi estudado a fundo em humanos. Michael Berthaume, líder do estudo, também ressalta que pode ser que o osso não tenha função nenhuma — justamente porque ninguém havia prestado atenção nele antes.

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Atualmente, ele parece não ter nenhuma função aparente (tanto que 61% da população vive tranquilamente sem ele), então é possível que ele passe a ser considerado um osso vestigial.

Por que vestigial?

As estruturas vestigiais são órgãos (ou, nesse caso, ossos) que possuíam funções específicas no corpo humano no passado, mas atualmente não servem para muita coisa. Inclusive, muitas vezes eles só trazem problemas.

É o caso do dente do siso e do apêndice. Antigamente, o siso era uma “ajuda extra” para mastigar e triturar folhas e carne crua. Com o desenvolvimento de ferramentas e técnicas de cozimento, não precisamos mais de tantos dentes para comer, então o siso acaba só dando dor de cabeça quando precisamos retirá-lo.

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Até 2007, também acreditava-se que o apêndice não servia para nada. Pesquisas revelaram que ele produz anticorpos e ajuda na defesa do organismo, mas, ainda assim, ele não faz tanta falta. Sua remoção pode ser facilmente compensada por outros anticorpos. No fim das contas, ele serve mais para dar apendicite do que qualquer outra coisa.

Esse também é o caso do osso fabela. O estudo mostrou que ele é duas vezes mais comum em pessoas que sofrem de artrose, além de estar relacionado a queixas de desconforto e dor em geral. Essa descoberta pode ajudar no tratamento de pessoas com dor no joelho ou que precisem de cirurgia no local.

Por que está voltando?

Se ele não exerce nenhuma função atualmente e só serve para causar dores, a tendência é que ele desaparecesse aos poucos. Então a questão é: por que ele está voltando?

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Os pesquisadores analisaram mais 21 mil joelhos de 27 países diferentes, observando aumento da incidência da fabela em todo o mundo. Uma das principais mudanças pelas quais o planeta inteiro passou foi a dieta. E é justamente nisso que se baseia a hipótese do ortopedista Alexandre Stivanin, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, e de muitos outros especialistas.

“Como a obesidade tem aumentado consideravelmente, nosso organismo fornece estratégias para melhorar a biomecânica corporal”, diz Stivanin. Aumento do peso em conjunto com ossos e músculos maiores coloca uma pressão enorme nas articulações do joelho. Nesse caso, um ossinho extra não seria tão ruim assim. Pode ser que o osso sirva pra alguma coisa no final das contas, mas isso só pesquisas futuras vão dizer.

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